08 de Maio de 2025

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opinião Quinta-feira, 08 de Maio de 2025, 06:00 - A | A

Quinta-feira, 08 de Maio de 2025, 06h:00 - A | A

CUIABÁ ANTIGAMENTE

O Santo do Porto

*FRANCISCO DAS CHAGAS ROCHA

 

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 Moysés dos Santos

 

 

Há pessoas que passam por esta vida com a leveza dos justos e a força dos que creem. Em Cuiabá, no velho bairro do Porto, viveu um homem assim. Alto, negro, de voz serena e coração manso, Moysés dos Santos parecia ter saído de um daqueles filmes que a gente assiste chorando no canto do sofá — e quem viu À Espera de um Milagre sabe bem do que estou falando. Pois Moysés foi isso: um milagre em forma de gente.

 

Nascido em Poconé, no dia 17 de maio de 1905, era filho de dona Ana Severiana e seu Artur, mas foi criado com carinho por dona Isabel Soido, matriarca de uma das famílias tradicionais do Porto. A vida o moldou na simplicidade, na fé e no serviço. Casou-se com dona Alice Rodrigues dos Santos e foi ela quem lhe ensinou os segredos das rezas, das benzeduras, da fé que cura. Dizia-se que ela tinha a missão de cuidar da casa e da família, e ele, de cuidar do mundo.

 

Moysés não cobrava um centavo. A porta de sua casa, ali na avenida Mário Corrêa, vivia aberta — e sempre havia alguém doente esperando a bênção. Ele saía, de sol a sol, pelas ruas da cidade, visitando enfermos, levando palavras de alento e, às vezes, deixando a sensação de que algo divino havia passado por ali. Não tinha pressa, não fazia distinção. Era só pedir: ele vinha.

 

há nomes que o tempo não apaga. E há santos que a Igreja não canoniza, mas que o povo jamais esquece.

 

Chamavam-no de “santo”. Não desses de altar, mas daqueles que caminham com os pés no chão e o coração voltado ao céu. Era também catequista, e durante anos serviu como porteiro da Escola Senador Azeredo, onde deixou lembranças entre os estudantes — não como funcionário, mas como exemplo.

 

No dia 30 de abril de 1973, Moysés partiu. Seu velório, dizem, foi um cortejo de lágrimas e preces. Gente de todo canto foi se despedir do homem que, para muitos, parecia ter um pedaço de Deus guardado no peito.

 

Hoje, seu túmulo no Cemitério do Porto ainda recebe visitas de quem, assim como ele um dia fez, vai em busca de consolo, fé e — quem sabe — um milagre. Porque há nomes que o tempo não apaga. E há santos que a Igreja não canoniza, mas que o povo jamais esquece.

 

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*Francisco das Chaga Rocha é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT).

 

 

 

 Acesse Cuiabá de Antigamente

 

 

 

 

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