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opinião Sexta-feira, 26 de Agosto de 2022, 11:43 - A | A

Sexta-feira, 26 de Agosto de 2022, 11h:43 - A | A

BAR DO BUGRE

ENCERRANDO A SEMANA

*GABRIEL NOVIS NEVES

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Encerrando a semana de comemorações dos 128 anos do nascimento do Bugre do Bar, eu e meus irmãos nos sentimos profundamente agradecidos pelas centenas de manifestações de solidariedade que recebemos pelas mídias sociais daqueles que conheceram ou não nosso pai, sempre lembrado com alegria em nossos corações.

 

Tentarei falar do relacionamento afetivo, do Velho Bugre com os seus nove filhos.

 

Embora eu fosse o primogênito, aos 17 anos fui estudar medicina no Rio de Janeiro, retornado casado antes de completar 12 anos de ausência.

 

Nesse período foram raros os dias dos anos que passei aqui em Cuiabá.

 

No início do longo curso, por causa do (CPOR), que era o Centro Profissionalizante dos Oficiais da Reserva, onde fui aluno da saúde.

 

Depois estagiando nos diversos hospitais filantrópicos e na rede municipal de saúde pública.

 

As ligações telefônicas dos aniversários, Natal e Ano Novo eram impossíveis de serem completadas pela Radional.

 

Nunca recebi nesses anos todos um telegrama ou carta do meu pai, porque ele era assim e respeitado. 

 

Nossa correspondência era toda realizava pela minha mãe, que além de possuir uma caligrafia maravilhosa, tinha muita facilidade para escrever.

 

Todas as quartas-feiras a dona da pensão deixava em cima da minha cama um envelope com a cartinha da minha mãe.

 

Chegava da faculdade após o jantar às 17:30hs no restaurante universitário, saltava do bonde 4 da Praia Vermelha, no Catete, e ia correndo para o meu quarto que sabia encontrar a cartinha da minha mãe.

 

“Meu querido filho Gabriel”, era assim que sempre iniciava suas cartas e se despedia com “bênçãos da sua mãe Irene”.

 

Certa ocasião ela me deu a notícia que eu ganharia um irmãozinho (nessa época não existia o exame de ultrassonografia que hoje determina o sexo do neném bem precoce).

 

Também não se discutia essa história de gênero, mas pelo teste do garfo e colher, deveria ser mulher e, meses depois nasceu em casa com auxílio do meu pai, a caçula Ana Beatriz.

 

Teoricamente eu deveria ter vivido mais tempo presencial com o meu pai, mas não foi bem isso que aconteceu e esse “fenômeno” se repetiu com o Pedro e Inon, que seguiram mais ou menos o mesmo caminho meu no Rio de Janeiro.

 

As mulheres não saíram de Cuiabá para uma formação universitária, sendo que duas, Ylcléa e Aracy estudaram na UFMT criada pelo governo Federal e implantada pelo seu irmão mais velho.

 

Todas casaram e moravam por aqui.

 

O filho que se dedicou mais a parte afetiva com o meu pai, foi o Olyntho, que estudou Direito na UFMT, trabalhou no Bar, dormia na cama de casal abraçado com ele e foi o que lhe deu mais trabalho quando adolescente, com a sua vida boêmia, fumando cigarros de marca, que retirava do bar.

 

Em 1966, a cidade estava clareando, quando papai me chamou pelo telefone fixo na parede.

 

Muito nervoso me disse que o Olyntho não foi dormir em casa.

 

Eu sabia que um jovem oficial da aeronáutica chamado Coronel Sotovia fora indicado ao governador para ser seu Secretário de Segurança Pública.

 

Para demonstrar serviço e ajudado por alcaguetes, os policiais localizaram no incipiente bairro do Arraes, a casinha do jogo de cartas com a luz de velas.

 

Quando as sirenes das viaturas da polícia se aproximavam, os jogadores assopravam as velas e quietos deitavam no chão e a polícia passava.

 

Um dia “a casa caiu”, pois os informantes da polícia juravam que todas as noites corria solto o carteado jogado à dinheiro.

 

Invadiram a casinha, passaram algemas nos jogadores, os conduziram para o setor de presos e só no outro dia cedinho comunicaram aos responsáveis.

 

O caso do Olyntho era o pior por ser menor (16 anos), e só o pai poderia retirá-lo da prisão, após assinar uma série de garantias.

 

Acalmei ao meu pai e disse-lhe, que tinha certeza do local onde ele se encontrava e o problema não era de saúde.

 

Rapidamente estava na Delegacia da rua de Cima (Pedro Celestino) e, ao adentrar vejo o Olyntho muito nervoso acenando para mim, num gesto de “me tira daqui”.

 

Falei com o delegado, ele insistiu na presença do meu pai, eu lhe informei que era médico e ele não tinha condições de se deslocar até a delegacia.

 

Disse que eu era o irmão mais velho, e o menor detido era meu afilhado de batismo.

 

Horas depois levei-o para casa do meu pai, eles foram descansar na cama de casal e nunca mais esse assunto foi comentado.

 

Esse era o Bugre que homenageamos esta semana com tanto amor!

 

Ele amou seus filhos, e com o seu exemplo fez deles cidadãos úteis à sociedade mas, que tinha um xodó com o Olynho tinha, pois foi o único filho que nunca se despregou da sua companhia, sem necessidade de sair daqui para estudar no Rio de Janeiro.

 

1

 

*Gabriel Novis Neves

 

 

 

https://bar-do-bugre.blogspot.com

 

 

 

 

 

 



 

 

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