Tenho uma amiga jornalista que mora no Rio de Janeiro e escreve uma crônica quinzenalmente.
Foi ela quem me ensinou a difícil arte de escrever bem.
Rabisco, todos os dias, uma ou duas crônicas sobre o cotidiano ou outras coisas — mas sem elegância dela.
Quando isso não acontece, algo de bom não se passa comigo.
Fico logo preocupado, pensando no avançar da minha idade.
Tenho tantas ideias, que sinto necessidade de colocá-las no papel!
O acúmulo me inquieta, pois aquelas que não são atemporais envelhecem, e acabo não as publicando.
É um trabalho cuidadoso de cronologia para não prejudicar a leitura.
Escrevi, por exemplo, uma série sobre os cuidados que tenho com a minha saúde — e essas precisam seguir uma certa ordem.
Não gosto desse trabalho de organização. É burocrático. Ainda assim, tenho crônicas prontas para publicação até dezembro deste ano.
Escrever virou um vício, adquirido após aos setenta anos.
Quando não escrevo sinto que me falta algo essencial.
Antigamente fazia caminhadas diárias. Quando faltava, o dia já não era o mesmo.
Aos poucos fui deixando outros entretenimentos — o maior de todos, o consultório.
Após me aposentar oficialmente, continuei atendendo minhas pacientes em tempo integral, sem me cansar.
Na faculdade o médico aprende a conversar e a escrever. Chama-se anamnese, mas é muito mais que um formulário.
Saímos médicos conversadores... e escritores.
Como gostava dessa função! Para desespero da enfermeira, com a sala de espera lotada, e eu demorando na consulta.
Outro lugar onde descansava enquanto trabalhava era o centro cirúrgico e a sala de partos.
Lá também era espaço de conversas sem fim.
Sinto falta desse aconchego que a idade me levou. Por isso escrevo sem parar, para esvaziar o cérebro e aliviar o coração.
O trabalho agora é organizar o que escrevo e manter um calendário de publicações.
Dos males, o menor.
E o tempo, assim, vai passando suavemente.
*Gabriel Novis Neves
27-05-2025
https://bar-do-bugre.blogspot.com
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