Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Reporter Fotografico
Alunas do Centro de Ensino Fundamental 25, em Ceilândia, são vacinadas contra o HPV.
O HPV é o vírus responsável pela infecção sexualmente transmissível mais comum no mundo. A sigla é uma abreviação para papilomavírus humano ou “human papiloma virus”, em inglês. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 70 a 80% das pessoas sexualmente ativas no mundo já foram contaminadas por alguma cepa desse vírus. Apenas no Brasil, são 700 mil novas infecções por ano.
Na maioria dos casos, a infecção por HPV é assintomática e o corpo naturalmente se livra do vírus. Por outro lado, sua persistência silenciosa no organismo pode provocar verrugas genitais e câncer em homens e mulheres. A boa notícia é que isso pode ser prevenido com uma vacina disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). A má notícia é que, embora esse imunizante seja oferecido pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) desde 2014, a taxa de cobertura fica bem abaixo dos 80% recomendados.
Atualmente, a vacina é indicada para meninas e meninos entre 9 e 14 anos de idade. O esquema vacinal para essa faixa etária é de duas doses, com um intervalo de seis meses.
O Ministério da Saúde também oferece a vacina para pessoas de 9 a 45 anos que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos. O risco de desenvolvimento de cânceres associados ao HPV é cerca de quatro vezes maior entre pessoas vivendo com HIV/Aids e transplantados do que na população em geral. Para este público, o esquema é composto de três doses, com a segunda de um a dois meses após a primeira, e a terceira, seis meses após a primeira dose.
Até 2021, apenas 57,2% das meninas e 37,69% dos meninos completaram o esquema vacinal com a segunda dose. Os principais motivos para a baixa adesão são desinformação, preconceito e problemas de acesso.
O HPV é um vírus sexualmente transmissível. Por isso, a imunização deve ocorrer antes do início da vida sexual. A estratégia de vacinar adolescentes não é adotada apenas pelo Brasil, mas por mais de cem países que adotaram a vacinação contra o vírus em âmbito nacional.
Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que mesmo quem já foi infectado pode se beneficiar da vacina, mas a eficácia mais alta é observada em pessoas que nunca tiveram contato com o vírus.
Estudos mostram que os títulos de anticorpos são mais altos dos 9 aos 13 anos, em comparação com a aplicação em adolescentes mais velhos e adultos jovens. O problema é que existe a crença errônea de que a vacina em pessoas tão jovens seja um incentivo ao início da vida sexual. Teoria que é veemente rechaçada pela ciência.
— Estudos mostram que a vacinação contra o HPV não aumenta o número de parceiros nem antecipa o início da atividade sexual. Pelo contrário. A vacinação se mostra como uma oportunidade para orientar sobre os cuidados com a própria saúde — afirma Mônica Levi.
Estudo financiado pela OMS mostrou que a vacinação contra o HPV pode erradicar o câncer de colo do útero. Dez anos após o início da vacinação como medida de saúde pública em países desenvolvidos, houve uma queda significativa no número de infecções por HPV e de lesões pré-cancerosas no colo do útero. Na Inglaterra, por exemplo, a vacinação de meninas de 12 e 13 anos reduziu as taxas de câncer de colo de útero em 87%.
O câncer de colo de útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina brasileira, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Na região Norte, é o tumor mais incidente nas mulheres e o segundo nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. Estima-se 16,7 mil novos casos da doença no país apenas este ano. Há ainda outros cinco tipos de câncer relacionados ao HPV que também podem ser prevenidos pela vacina: boca e orofaringe, vulva, pênis e canal anal.
— Hoje, o principal fator de risco para o câncer de colo de útero é não ter tomado a vacina contra o HPV — ressalta a médica Cecília Maria Roteli Martins, presidente da Comissão Nacional de Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Quadrivalente é a mais usada contra o vírus
Existem mais de 100 tipos diferentes de HPV, dos quais pelo menos 14 são cancerígenos. A vacina mais usada contra a infecção é a quadrivalente, que protege contra os subtipos 6, 11, 16 e 18. Alguns países, como os Estados Unidos, já começam a aplicar a nonavalente, que confere proteção contra nove tipos. A expectativa é que esse imunizante chegue ao Brasil no ano que vem, mas, inicialmente, apenas na rede privada.
Mas isso não é motivo para preocupação. Martins ressalta que a vacina quadrivalente é extremamente eficaz e segura, além de ser a mais estudada, pois é utilizada há mais tempo:
— Os estudos mostram que até 75% de todos esses canceres genitais são causados pelos tipos de HPV 16 e 18, que são contempladas na vacina quadrivalente.
Outro motivo para a baixa cobertura vacinal contra o HPV é a dificuldade de acesso. Levi explica que raramente o jovem irá, por conta própria, até o posto procurar a vacina.
— A vacina tem que ir até eles — afirma a diretora da SBIm.
Isso pode ser feito nas escolas, por meio de uma parceria entre os Ministérios da Saúde e da Educação, como ocorreu no lançamento da campanha, em 2014. Mas essa estratégia exige estrutura e preparo dos profissionais para lidar esse tipo de vacinação.
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