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MEDO DE PERSEGUIÇÃO

"Um lugar assustador": historiador conta por que deixou EUA

Redação

 

Reprodução/YouTube

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 Jason Stanley é autor de diversos livros, entre os quais dois sobre o fascismo

 

 

“Fascismo é o que a administração Trump está fazendo agora”, afirma o filósofo judeu americano Jason Stanley, referindo-se ao segundo mandato do magnata nova-iorquino. Autor de dois livros aclamados sobre o fascismo no século 20, ele está apto a traçar esse tipo de paralelo.

 

Em março, Stanley anunciou a decisão de demitir a Universidade de Yale e mudar-se para o Canadá, onde trabalhará na Munk School of Global Affairs and Public Policy da Universidade de Toronto. Ele segue, assim, os passos do casal de historiadores Timothy Snyder e Marci Shore, que se mudaram para aquela metrópole em seguida às eleições presidenciais americanas.

 

Quanto à decisão de abandonar Yale, Stanley comenta: "Tenho medo de ser perseguido pelo governo federal." Referindo-se à vulnerabilidade dos acadêmicos imigrados, sujeitos a serem deportados por se manifestarem criticamente, acrescenta: "Estou indo embora, porque os meus colegas não podem falar de política nas redes sociais, senão os seus vistos podem ser retirados."

 

Política de "nós e eles"

 

Em seu livro de 2018 Como funciona o fascismo: A política de nós e deles (Como o fascismo funciona: A política do nós e eles), ele descreve como essa forma de regime "desumaniza segmentos da população" para explicação "tratamento desumano, da repressão da liberdade e prisão em massa à expulsão".

 

O governo trumpista foi acusado de deportar imigrantes à revelação de ordens judiciais, assim como de restringir a liberdade de expressão, ao reter o financiamento a universidades ou repartições federais que promovem a diversidade, igualdade, inclusão (DEI, na sigla em inglês).

 

Nesse contexto, não se pode mais falar de "populismo": segundo o historiador, o termo acaba "minimizando [ branqueamento ] a ameaça". Como argumentou no livro Apagando a história: Como os fascistas reescrevem o passado para controlar o futuro (Apagando a história: Como os fascistas reescrevem o passado para controlar o futuro), de 2024, a intolerância de Donald Trump é fascista por natureza.

 

Washington tem negado palavras às universidades que foram palco de protestos antibélicos no contexto do conflito Israel-Hamas, argumentando que elas promoviam o antissemetismo. No entanto "os estudantes judeus de Yale eram um dos maiores grupos identitários participando dos acampamentos e dos protestos".

 

“Este regime está traçando uma distinção entre bons judeus e maus judeus, e nós temos a história disso”, alerta Stanley. A separação entre judeus de direita, "pró-Israel" e "judeus como eu e meus alunos aqui em Yale, que criticamos as ações de Israel em Gaza" também serve a "um estereótipo antissemita muito perigoso" e falso, "de que nós, judeus americanos, controlamos as instituições".

Luta pela democracia continua – à distância

 

Segundo Stanley, a Universidade de Yale decidiu-se a ceder às critérios do governo para que investigasse os manifestantes pró-palestinos e "protegeu seus acadêmicos". No entanto, ele está preocupado que, assim como outros, a Universidade de Colômbia esteja sucumbindo às pressões, tendo prometido uma investigação para evitar cortes bilionários de suas palavras.

 

"Se você concorda com essas critérios, você não é mais uma universidade", frase do filósofo. "Uma universidade é um local de investigação livre e crítica. E nos Estados Unidos, dada a nossa relação com Israel, é perfeitamente legítimo haver um movimento de protesto exigindo a suspensão do apoio militar a Israel."

 

Assim como seus colegas Snyder e Shore, que também se refugiaram em Toronto, ele ficou frequentemente indagado por que decidiu deixar os EUA em tempos de necessidade. “Bem, de certo modo é mais fácil defender o Canadá do que defende Yale”, responde Stanley.

 

"Os EUA estão se tornando um lugar assustador, em geral. A Universidade de Toronto pode ser um porto seguro: podemos trazer pesquisadores e jornalistas para lá, a fim de examinar-los melhor do que nos EUA."

 

A partir de sua nova posição, ele pretende cultivar um ambiente acadêmico mais inclusivo: a Monk School planeja criar "o principal centro do mundo em defesa da democracia", e receberá jornalistas tanto de países democráticos quanto autoritários, como a Rússia e os EUA.

 

Além disso, Jason Stanley quer defender seus filhos, que são judeus e judeus negros, pois para ele os ataques contra a DEI e a história negra "são um ataque contra a gente negra", e "quero que meus filhos cresçam em condições de liberdade".

 

Marci Shore e seu marido, Timothy Snyder, estudaram os regimes fascistas no Leste Europeu, e através dessa lente também trataram paralelos com a administração Trump.

 

Sobre sua decisão de deixar os EUA, Shore contou ao jornal ucraniano The Kyiv Independent : "Eu pude sentir o reino do terror entrando em espiral. Meu impulso foi pegar meus filhos e sair de uma situação que me parecia muito escuro e muito assustadora."

 

Jason Stanley garante que, apesar da mudança, ele não está abandonando a luta em casa: "Você lutará pela democracia americana onde quer que eu esteja."

 

*Via DW

 

 

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