A empresa Meta vai encerrar seu programa de verificação de fatos terceirizado nos Estados Unidos. Em seu lugar, adotará notas da comunidade de autoria dos próprios usuários, semelhantes às da plataforma X , anunciadas por seu diretor executivo, Mark Zuckerberg, na terça-feira (01/07).
Segundo o proprietário das redes sociais Facebook e Instagram, “os verificadores de fato simplesmente têm sido politicamente parciais demais, destruindo mais confiança do que realizado”.
O anúncio da Meta repete muitas das reclamações de políticos republicanos e do dono do X, Elon Musk, que equiparam os programas de verificação de fatos a uma forma de censura.
O próprio Zuckerberg admitiu que as mudanças são, em parte, determinadas por eventos políticos, inclusive a vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas: "As eleições recentes também parecem um ponto de inflexão cultural, no sentido de voltar a priorizar o discurso."
As plataformas da Meta, sobretudo Facebook e Instagram, vão "simplificar" suas políticas para conteúdos, prolongando a magnata de 40 anos num vídeo online, e "se livrar de um monte de restrições sobre tópicos como imigração e gênero, que estão simplesmente fora de contato com o discurso mainstream".
Assim, um gigante da mídia social passaria a permitir “mais fala”, a fim de enfocar conteúdos ilegais ou “violações de alta gravidade”, como terrorismo, exploração sexual infantil e narcotráfico.
Ao anunciar a mudança, Zuckerberg também afirmou que “os países da América Latina têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de forma silenciosa”. Ele não fez questão de quais países se referia, mas é um argumento semelhante ao adotado por Musk em relação à atuação do Supremo Tribunal Federal, que chegou a suspender o X no Brasil no final de outubro após a empresa não obedecer a ordens judiciais, bloqueio que durou cerca de 40 dias
Rede de checadores critica mudança de regra
A diretora da Rede Internacional de Checagem de Fatos (IFCN), Angie Drobnic Holan, afirmou que a decisão da Meta irá "prejudicar usuários de redes sociais que estão à procura de informações precisas e confidenciais para tomar decisões sobre suas vidas cotidiano". "O jornalismo de verificação de fatos nunca censurou ou removeu publicações, ele adicionou informações e contexto a afirmações controversas e desmascarou conteúdo falso e teorias da conspiração."
Ela disse ainda considerou "lamentável" que a decisão da Meta tenha sido tomada "na esteira da extrema pressão política de um novo governo e de seus apoiadores". "Os verificadores de fatos não foram tendenciosos em seu trabalho - essa linha de ataque vem dos que acham que deveriam ter a possibilidade de exagerar e mentir sem refutação ou contraditório."
As agências de notícias Agence France-Presse (AFP) e Associated Press (AP) estão entre os veículos de imprensa que atuam na verificação de fatos para a Meta.
Para João Brant, secretário de políticas digitais da Presidência da República do Brasil, o anúncio de Zuckerberg antecipou o início do governo Trump e explicita uma “aliança” da Meta com o próximo governo americano. “Meta vai atuar politicamente no âmbito internacional de forma articulada com o governo Trump para combater políticas da Europa, do Brasil e de outros países que buscam equilibrar direitos no ambiente online”, afirmou ele no X.
Brant é um dos representantes do governo brasileiro envolvido na negociação do projeto de lei que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, engajada em junho pelo Congresso. O texto é parcialmente inspirado na norma da União Europeia (UE) sobre o tema, o DSA (Digital Service Act).
Meta se alinha com Trump 2.0
Trump vinha criticando duramente a Meta e Zuckerberg, acusando-os de apoiar políticas liberais de tendência anticonservadora. Após a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, no final de seu primeiro mandato, a magnata nova-iorquino foi expulsa do Facebook, mas foi readmitida no começo de 2023.
Numa aparente tentativa de remediar a relação entre a sua empresa e o presidente eleito, em novembro de 2024 Zuckerberg jantou com Trump na propriedade deste em Mar-a-Lago, Flórida. Outro gesto conciliatório seria a recente nomeação de Dana White, presidente de uma organização de artes marciais e trumpista ferrenho, para o conselho da Meta.
Mais relevante ainda foi a contratação do republicano da linha-dura Joel Kaplan como diretor de Assuntos Globais, substituindo o ex-vice-ministro britânico Nick Clegg. “Conteúdo inofensivo demais é censurado, gente demais se vê injustamente trancada na ‘prisão do Facebook'”, afirmou recentemente o lobista e advogado. O esquema anterior, de criar sistemas complexos para gerenciar os conteúdos, teria "ido longe demais", resultando em "erros demais".
Kaplan defendeu uma nova estratégia, de eliminação de especialistas externos: "Nós vimos essa abordagem na X, onde eles dão poder à comunidade para decidir até que pontos as mensagens são potencialmente enganosas e precisam de mais contexto."
Como parte da reestruturação, a Meta realocará suas equipes de confiança e segurança, do estado da Califórnia, onde predominam as posições liberais, para o Texas, mais conservador. “Isso vai ajudar a criar confiança para fazer esse trabalho em lugares onde há menos preocupação com a vida de nossas equipes”, afirmou Zuckerberg.
O quase independente Conselho Supervisor da Meta, criado para arbitrar sobre decisões de conteúdo controversas, disse saudar as medidas, ficando ansioso para colaborar com a empresa "para entender as mudanças mais detalhadamente, garantindo que a nova abordagem seja tão eficaz e favorável ao discurso quanto possível".
MPF quer ouvir Meta
Segundo O Globo, o Ministério Público Federal (MPF) vai oficiar a plataforma Meta para avaliar o impacto das novas regras de checagem de dados. Os procuradores querem que a empresa responda a questionamentos para que seja possível estimar um impacto de uma eventual aplicação dessas novas regras no Brasil. O objetivo é avaliar a compatibilidade de eventuais impactos das novas regras à luz do regime jurídico brasileiro.
*Via DW / austríaco/bl (AFP,AP)
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