Os desenvolvedores da empresa de biotecnologia americana Moderna orgulham-se do curtíssimo prazo de 42 dias para preparar uma candidata à vacinação contra a Covid-19, ainda em 2020. Agora desejam ir além. Em entrevista ao GLOBO, Patrick Bergstedt, vice-presidente da área de vacinas da empresa, repetiu diversas vezes a importância de existirem imunizantes adaptados para novas variantes, mas também falou sobre o desenvolvimento de fármacos bivalentes, envolvendo a proteção de mais vírus. A ideia, ele explica, é oferecer eficácia, segurança, mas também conveniência.
No Brasil para tratar da parceria com a farmacêutica Zodiac (representante nacional do grupo Adium), Bergstedt diz que o planejamento é entrar com o pedido de autorização junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) até o final de setembro. A subsidiária tinha previsto realizar a solicitação final no primeiro semestre, o que não ocorreu. A intenção, como explicou na mesma conversa Gláucia Vespa, diretora médica da Zodiac, é entrar no mercado público, mas não há restrição à apresentação da vacina de RNA mensageiro nas clínicas privadas do país. Veja os melhores trechos da entrevista:
Quais os planos da empresa para chegar ao Brasil?
Estamos em meio a conversas intensas para trazer essa vacina ao país. Uma vez que as autoridades (sanitárias) olhem e aprovem nossos dados, gostaríamos de oferecer o acesso. Vamos apresentar os dados à Anvisa em pouco tempo. A previsão é (entregar as informações) no final de setembro.
Como será a presença da Moderna no país? Todos terão acesso à vacina adaptada para a Ômicron?
A vacina que está disponível neste momento é desenvolvida com a cepa original, a de Wuhan. A primeira prioridade é oferecer essas doses para as crianças o mais breve possível. Esse é um caminho.
Há um segundo, que são as versões adaptadas. Temos estudado essa possibilidade por algum tempo. Anteriormente, desenvolvemos a primeira vacina adaptada, uma combinação entre o vírus de Wuhan, o original, e a Beta (identificada na África do Sul), que era um protótipo. E mostramos que se colocássemos informações de duas variantes combinadas na mesma dose haveria uma resposta melhor do organismo. Essa foi uma prova importante para nós. Dentro desse raciocínio, esperamos trazer ao Brasil a vacina que combina a cepa original e a Ômicron (antes das subvariantes).
Qual chegará primeiro?
Acreditamos que as primeiras a estarem disponíveis são as vacinas para crianças, se conseguirmos a autorização de uso emergencial.
Como será o futuro do desenvolvimento dos imunizantes?
Nossa estratégia é oferecer as vacinas adaptadas — assim como um modelo celular, que de tempos em tempos é atualizado. Essa é a beleza da tecnologia, vamos poder atualizar o imunizante. Com o uso do RNA mensageiro, poderemos fazer isso em pouco tempo. O desenvolvimento da dose inicial, por exemplo, levou somente 42 dias.
Como otimizar as doses de reforço de Covid?
Muita gente conhece a Moderna por conta da Covid-19, mas não somos somente uma empresa de vacinas contra o coronavírus. Somos uma empresa de plataforma RNA mensageiro, nós sabemos que essa tecnologia tem potencial para além da Covid-19.
Temos, por exemplo, um desenvolvimento para vacina de proteção à influenza. E temos desenvolvimento para VSR (vírus sincicial respiratório). No futuro será necessário apenas uma dose para proteger contra o coronavírus e influenza ao mesmo tempo. É comum que haja vacinas combinadas para crianças, mas não para adultos. Queremos mudar isso. Daremos eficácia, a segurança e conveniência em apenas uma dose. Não é para amanhã, mas quem sabe para três ou quatro anos.
Mas por que combinar a imunização contra o coronavírus com a influenza?
(A gripe) é uma doença para a qual as vacinas ainda não têm uma eficiência tão alta. A depender da epidemiologia, elas chegam aos 60% de eficácia. Esperamos que com a RNA possamos ser mais específicos, e mais próximos de atingir a cepa circulante.
Há algum plano para desenvolvimento de vacina contra a varíola dos macacos?
Estamos avaliando como a plataforma pode ser adaptada para ajudar o mundo a enfrentar esse problema de saúde. Levamos o tema muito a sério, mas ainda estamos na etapa da discussão. O programa foi instalado mas está em fase muito inicial.
Para quais outros vírus a estratégia RNA pode ser útil?
Temos dois pilares de interesse. Há um foco grande em doenças respiratórias (como Covid-19, VSR e Influenza), que afetam muito as pessoas adultas em idade produtiva. Depois, temos um segundo grupo de doenças de interesse que são os vírus latentes, que por alguma razão de saúde emergem em certos momentos da vida. É o caso do citomegalovírus e Epstein–Barr. Estamos trabalhando com essas doenças, com imunizantes que podem proteger desses vírus. Temos também um desenvolvimento para zika.
Como está o projeto da vacina para HIV?
Está em estágio bastante inicial, mas temos muita esperança. Muitas companhias tentaram vacinas para HIV, mas acreditamos que o RNA mensageiro pode trazer uma resposta a esse grupo.
Nossas notícias em primeira mão para você! Link do grupo MIDIA HOJE: WHATSAPP