23 de Janeiro de 2025

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opinião Domingo, 01 de Dezembro de 2024, 07:28 - A | A

Domingo, 01 de Dezembro de 2024, 07h:28 - A | A

ANCESTRALIDADE

Uma corrida para o futuro

*LUIZ FERNANDO FERNANDES

 

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Mestre e discípulo seguiam pela noite escura quando chegaram numa clareira. A noite envolvente principiava chuva e dali de onde estavam era impossível perceber onde o caminho recomeçava logo adiante. O mestre parou e ficou fitando o horizonte. Um raio cortou o céu e o discípulo se jogou no chão. Questionado, o mestre explicou que aproveitara o clarão do raio para perceber onde o caminho recomeçava.

 

Assim somos nós pelos caminhos da vida, ora mestres, ora discípulos. As vezes trilhamos o caminho mais fácil num exuberante dia de sol e as vezes nos embrenhamos na noite escura na esperança de que o caminho esteja sempre alí sob nossos pés. As clareiras que nos chegam podem ser aproveitas ou desperdiçadas. Esperança e incerteza caminham lado a lado, fazendo companhia uma para a outra até o limite do tempo.

 

Nesta frágil teia repleta de planos, pensamentos, ações e reações somos impelidos sempre, ou pelo menos deveríamos, em direção aos nossos objetivos. Um constante ir e vir onde pouco ou quase nada pode fazer sentido. É como a Alice que não sabia para onde iria e recebeu a assertiva resposta do gato: “Quem não sabe para onde está indo qualquer caminho serve”.

 

Viver é mesmo uma arte. As vezes me sinto como se estivesse numa corrida de revezamento, onde recebemos aquele bastão que veio sendo trazido por mãos que infelizmente um dia foram ou serão levadas para a grande viagem. A ancestralidade nos mostrando o caminho a seguir, a velocidade a ser mantida e nos impelindo em direção a linha de chegada. O bastão que hoje carrego já foi ostentando por meus pais, avós, bisavós, tataravós e muitos outros. É incrível, mas se formos contar apenas 20 gerações, terão passado pelo planeta Terra 2.097.150 pessoas. É muita gente, não é mesmo?

 

Imagine então que todas essas pessoas participaram dessa corrida que você agora encara com arrojo e galhardia. Elas passaram por inúmeras dificuldades, abriram mão de muita coisa, sonhos, desejos, projetos. E finalmente aqui está você, vivendo a era da tecnologia, do encontro, da informação. Mas a clareira, aquela que faz discípulos se jogarem ao chão e mestres ficarem de pé, ainda está lá. Ela não muda, não se abala, resiste ao vento e ao tempo. Pode ser uma devoradora de almas ou uma libertadora de corações.

 

Sinta sua respiração, o ar chegando aos seus pulmões e te enchendo de vida. Sinta o sangue correndo dentro de você. Perceba seus pensamentos e fique alerta, pois o tiro de largada será dado a qualquer momento.

 

A oportunidade está aí para todos. Basta enfrentarmos nossos medos e tentarmos bravamente reforçar o elo dessa corrente ancestral que pode nos prender ou nos fortalecer. Levando em consideração que a mente, mente, eu te pergunto. O que você tem feito quando a noite escura te visita e te lança no mar das incertezas?

 

Sejamos mestres de nós mesmos, sempre prontos a aproveitar a luz das incertezas para firmar o passo e seguir em frente. A grande corrida é para todos e caberá a você passar o bastão para frente, sem culpas e sem culpar os outros.

 

No dia 23 de agosto de 1986 nascia na Jamaica o pequeno Usain Bolt. 23 anos depois, em 16 de agosto de 2009 ele se tornou o homem mais rápido do mundo ao concluir a prova dos 100 metros rasos em 9,58 segundos. O pai de Usain Bolt era dono de um pequeno mercado onde sua família vivia, mas quando o bastão foi passado para o jovem Usain ele correu como nunca e marcou a história.

 

Ser diferente, fazer a diferença, depende única e exclusivamente de nós. Focar na linha de chegada é a única opção plausível. Ficar em pé na clareira mesmo quando o tempo nos ameaça é a única possibilidade. O problema é que muitos acabam se distraindo, olhando para trás e acabam tropeçando em si mesmo. Perdem a corrida e a rota e acabam encontrando no outro a justificativa para os seus fracassos.

 

A persistência está presente em quase 100% das histórias daqueles que venceram. E não estou falando em estar no topo do podium, muito pelo contrário. O mundo é cruel e acaba estigmatizando aqueles que ultrapassaram a linha de chegada em segundo, o terceiro então nem mesmo é lembrado. Começamos então a competir com o outro quando a grande disputa é contra nós mesmos. Temos tantos fantasmas a serem vencidos, então por que perdemos tempo correndo atrás daquilo que não nos pertence?

 

Imagine Usain Bolt concentrado em mais uma largada, ou então o mestre parado à espera da luz que irá colocá-lo de volta no caminho. Eles estavam concentrados em seus objetivos, então não perca o foco. Não permita que os outros ditem o ritmo da sua vida ou o rumo das suas conquistas. Gosto muito de uma frase que diz assim: “O caçador que grita antes de atirar a flecha volta para casa com fome”. Então, apenas concentre-se e siga em frente. Confie na sua ancestralidade. Aqueles que te precederam não esperam nada de você, pare de se cobrar tanto, apenas siga focado em seus objetivos.

 

Pare tudo que você está fazendo agora e olhe atentamente para suas mãos. Sinta o bastão que agora é sua responsabilidade. Só você e mais ninguém poderá levar a frente essa missão, ela é sua e de mais ninguém. Então, quando estiver cônscio sobre isso tudo feche seus olhos e se concentre. Sinta sua respiração, o ar chegando aos seus pulmões e te enchendo de vida. Sinta o sangue correndo dentro de você. Perceba seus pensamentos e fique alerta, pois o tiro de largada será dado a qualquer momento.

 

Como dizem os escoteiros, esteja sempre alerta. Da próxima vez que você passar por uma noite escura aproveite para admirar também esse momento, afinal ninguém disse que a vida seria um mar de rosas ou que estaríamos sempre no primeiro lugar do podium. Siga em frente e agradeça, pois um dia você também irá passar esse bastão para frente.

 

Vamos lá? Foi dada a largada e a vida depende disso.  

 

*Luiz Fernando é jornalista em Cuiabá, palestrante, terapeuta holístico e criador do método CURE que auxilia no tratamento para a bipolaridade. @luizfernandofernandesmt (FALE COM O LUIZ)

 

 

 

 

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