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geral Terça-feira, 29 de Junho de 2021, 11:17 - A | A

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COVID-19

Mais tempo entre doses da AstraZeneca mantém eficácia

Correio Braziliense

Reprodução

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Aplicar a segunda dose da AstraZeneca em um intervalo de até 11 meses pode aumentar a imunidade ao Sars-CoV-2. É o que mostra uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Os mesmos pesquisadores também observaram que misturar essa vacina anticovid com a desenvolvida pela empresa Pfizer não interfere na eficiência dos imunizantes.

Ambas as constatações, avaliam os cientistas, podem ajudar principalmente os países que sofrem com a falta de medicamentos protetivos. Também ontem, a Universidade de Washington, nos Estados Unidos, anunciou que os fármacos contra covid-19 desenvolvidos com base na tecnologia de RNA — da Pfizer e da Moderna — podem gerar uma proteção por anos, o que dispensaria a necessidade de uma dose de reforço.

Na pesquisa britânica, os pesquisadores observaram que um intervalo de até 45 semanas entre a aplicação das duas doses do imunizante criado pelo grupo em parceria com AstraZeneca melhora a resposta imunológica ao vírus. “Essa deve ser uma notícia tranquilizadora para os países com menos suprimentos de vacina, que podem estar preocupados com atrasos na obtenção de segundas doses para suas populações. Há uma excelente resposta à segunda dose mesmo 10 meses depois de ter recebido a primeira”, enfatiza, em comunicado, Andrew Pollard, professor e diretor do Oxford Vaccine Group, que desenvolveu o fármaco.
Os resultados comprovam dados vistos em um estudo anterior, publicado pelo mesmo grupo em fevereiro, na revista The Lancet. A pesquisa já indicava que a eficácia da vacina da AstraZeneca era maior com um intervalo de três meses entre as doses (81%), quando comparada ao intervalo de seis semanas (55%). A equipe também observou que uma terceira dose do imunizante aplicada mais de seis meses após a segunda leva a um “aumento significativo” na produção de anticorpos e provoca “forte aumento” na resposta imunológica contra a covid-19, incluindo as novas variantes do coronavírus.

“Não sabemos se serão necessárias injeções de reforço devido à diminuição da imunidade ou para aumentar a defesa do corpo contra as novas cepas. Mas essa é uma notícia muito animadora caso se constate que é necessária uma terceira dose”, afirma, em comunicado, Teresa Lambe, principal autora dos estudo e pesquisadora de Oxford. Os pesquisadores também destacaram que a vacina causou menos efeitos colaterais após a segunda e terceira doses do que depois da primeira.

Flexibilidade

Em um estudo separado, os pesquisadores britânicos descobriram que a combinação do uso de doses do imunizante da AstraZeneca/Oxford e o da Pfizer/BioNTech, aplicadas com quatro semanas de intervalo, também produz uma resposta imunológica contra a covid-19 satisfatória. A eficácia varia, no entanto, de acordo com a ordem em que os fármacos são aplicados. Uma dose da vacina britânica seguida de outra da Pfizer gera uma “melhor resposta imunológica” do que o contrário.

Em comunicado, os cientistas adiantam que resultados relativos a um intervalo de 12 semanas entre as duas doses estarão disponíveis em breve e “serão fundamentais para decidir o futuro do programa de vacinação do Reino Unido”. Segundo eles, a combinação de dois fármacos de marcas diferentes pode dar ainda mais flexibilidade aos programas de imunização pelo mundo.

Para Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), os dados obtidos nos estudos britânicos são extremamente animadores. “Nós até esperávamos que esse intervalo maior poderia ser efetivo, mas era difícil bater o martelo devido à falta de estudos. Isso também acontece porque temos pouco tempo de uso desses imunizantes. Precisamos de um prazo maior para estudar cada tipo de estratégia”, justifica.

Quanto à combinação de fármacos, a especialista avalia que países como o Brasil podem ser beneficiados pela estratégia. “São os que estão com atrasos de aplicação da segunda dose”, explica. Lorena Diniz frisa que os dados relacionados ao uso de uma terceira dose também são muito positivos. “É normal que, com o tempo, a quantidade de anticorpos caia e, por isso, precisaremos de um reforço. Acontece com outras doenças também. É bom saber que poderemos explorar isso, mas seria algo mais pra frente, com toda população já imunizada”, opina.

Duração prolongada

Uma pesquisa americana revela que as vacinas desenvolvidas com base na tecnologia de RNA mensageiro, criadas pelas empresas Pfizer e Moderna, geram imunidade tão forte e persistente ao novo coronavírus que podem perdurar por anos. Os dados foram publicados, ontem, na revista britânica Nature.

Nas análises, os pesquisadores avaliaram células imunes de 14 pessoas que receberam o imunizante da Pfizer. Por meio das observações laboratoriais, constataram que quase quatro meses após a primeira dose, os indivíduos apresentavam alta produção de células imunes em seus centros germinativos.

“Os centros germinativos são campos de treinamento para células do sistema imunológico, um local em que células inexperientes são treinadas para reconhecer melhor o inimigo, e as armas são afiadas. Uma melhor resposta do centro germinativo é igual a uma vacina melhor”, explicaram os autores na pesquisa. “Foi um tempo de resposta muito mais longo do que esperávamos”, completaram.

Além disso, a vacinação levou à produção de altos níveis de anticorpos neutralizantes eficazes contra três variantes do vírus, incluindo a Beta, identificada, primeiro, na África do Sul e que já se mostrou resistente a outros imunizantes. Para a equipe, a ação forte e persistente gerada pelo imunizante da Pfizer se deve ao uso da nova tecnologia, o que, possivelmente, se repetirá no uso do imunizante da empresa Moderna. Mais estudos são necessários, porém, para confirmar a hipótese.

Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), também aposta na relação com a tecnologia escolhida. “É uma técnica que usa uma espécie de receita para o organismo se proteger. É algo muito eficiente, uma técnica muita avançada. Então, é de se esperar que os resultados sejam bem duradouros. Detalhes relacionados a essa duração só saberemos ao estudar mais, justamente por ser um método novo. Mas é muito bom ter mais essa notícia positiva”, comemora.

Código genético

A maioria dos imunizantes para a covid-19 é desenvolvida com base em uma tecnologia que usa pedaços do vírus. Eles são silenciados e utilizados para despertar a ação de anticorpos que combatem a enfermidade no organismo. Já as vacinas desenvolvidas com base em mRNA não usam o patógeno, apenas carregam o código genético do vírus. Dessa forma, fornecem instruções para que o corpo se defenda ao detectar proteínas presentes no Sars-CoV-2. 

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