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conversa da semana Quarta-feira, 28 de Abril de 2021, 09:55 - A | A

Quarta-feira, 28 de Abril de 2021, 09h:55 - A | A

UNIDOS PELA VACINA

Como Luiza Trajano esperar ajudar a vacinar o Brasil e "turbinar" o SUS

Yahoo Finanças

(crédito: Reprodução)

 

Na tentativa de acelerar a vacinação contra a Covid-19, a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e do grupo Mulheres do Brasil, lançou o Unidos pela Vacina, movimento da sociedade civil que tem como objetivo vacinar em parceria com o SUS (Sistema Único de Saúde) até 70% dos brasileiros até setembro de 2021.

Para alcançar a ambiciosa meta, o projeto trabalha em duas frentes: a primeira em incentivar, com aportes financeiros, a compra de vacinas por meio do governo federal e a segunda através do “apadrinhamento de municípios”.

De acordo com o sistema de saúde no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é responsável pela autorização da comercialização das vacinas e as prefeituras, através do Programa Nacional de Imunização (PNI), pela sua aplicação.

O movimento realizou uma pesquisa com todas as cidades do Brasil para mapear as fragilidades e necessidades específicas de cada um dos mais de 5 mil municípios em relação à vacinação, como compra de refrigeradores ou implantação de wifi, por exemplo. A inciativa é uma maneira de “turbinar” a estrutura do SUS.

E não foi apenas na vacinação que Luiza Helena Trajano quis colocar a mão na massa durante a pandemia. A presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza não apenas evitou demissões durante a pandemia como conseguiu crescimento significativo.

Desde abril do ano passado, as vendas totais do Magazine Luiza cresceram 66% no período, alcançando R$ 14,9 bilhões. Isso se deu graças ao salto de 120,7% de vendas no e-commerce, que representou 63,8% do total. 

Dez empresas (a maioria startups de comércio eletrônico, mas supermercados e cursos profissionalizantes também incluem a lista de compras) foram absorvidas à loja. A soma dessa equação resultou lucro líquido ajustado de R$232 milhões e na valorização das ações em 110% em 2020.

Falamos com Luiza Helena Trajano sobre a pandemia, vacinação e empresariado.

O que é o Unidos pela Vacina?

Luiza Helena Trajano: O Unidos pela Vacina é um movimento do Mulheres do Brasil. Em janeiro nós falamos: “puxa, um grupo tão forte não pode se omitir”. A gente já sabia o que era o SUS e que ele é o melhor sistema de saúde do mundo - principalmente num país que tem a desigualdade social que nós temos. Estudamos bastante e formamos algumas premissas: não iríamos apontar culpados, nem iríamos comercializar a vacina. Dividimos em dois polos: o primeiro é junto ao Ministério da Saúde, em trazer vacina. Dinheiro eles têm, mas precisamos ajudar a trazer vacina não só através do Butantan, da Fiocruz, mas buscar vacina no mundo para poder ajudar. Então, estamos juntos aqui. O outro é através das prefeituras. De acordo com SUS, quem vacina são as prefeituras. O governo federal compra, o governo estadual distribui e a prefeitura vacina. De cara fizemos um questionário para os 5.527 municípios perguntando o que eles precisavam, quando nós tivéssemos mais vacinas, pra vacinar mais rápido. Saiu coisa muito interessante, desde crachá a mão de obra, caixa térmica especial a câmera frigorífica especial... A gente tem uma área de conexão onde pegamos todos os doadores e conectamos com as cidades. Não é que eles apenas irão dar dinheiro, eles têm de ir lá para poder entregar o que elas precisam no prazo mais rápido.

Qual esse prazo?

Luiza Helena Trajano: A gente colocou até 30 de maio. Eu acho que quando tiver mais vacina, que eu acredito que vai ser a partir de junho, conseguiremos adiantar bastante a vacinação. A gente fez um piloto em Nova Lima, no Rio de Janeiro, em Cassia, uma cidade pequenininha e estamos fazendo em outras no Sertão. Nós tivemos doadores como a Natura, Movida e Droga Raia que estão pegando regiões inteiras para ajudar. Imagina o legado que nós vamos deixar em transformar o SUS. A gente tem três auditorias, uma consultoria nos ajudando, além de uma empresa de compliance. Não passa dinheiro pelo nosso movimento, nem doação: vai direto pra o município apadrinhado. A gente só indica o que doar, o que precisa doar e eles vão lá e assume.

Quantas pessoas aderiram ao movimento?

Luiza Helena Trajano: Hoje nós estamos com mais de três mil empresas de tudo, instituições, organizações, maçonaria, Lions, Sociedade Civil, um monte de gente trabalhando dia e noite com objetivo de vacinar 60%, 70% dos que são vacináveis até setembro.

 
 
 
 

‘Enquanto não vacinar 70% da população, vai ter que dar vacina para o SUS’

Luiza Trajano fala sobre a determinação da lei federal que obriga empresas e iniciativas privadas a doarem vacinas aos Sistema Único de Saúde caso sejam adquiridas. "A epidemia só vai melhorar quando vacinar 60, 70% da população", explica. 

 

É realmente possível alcançar esse prazo?

Luiza Helena Trajano: Me perguntam e se não der? Se não der nós fizemos o máximo! E amanhã eu vou contar para os meus netos e para os meus colegas que eu e os três mil que estão comigo que a gente não se omitiu num momento tão sério. E olha o legado que nós vamos deixar: nós vamos deixar esses postos de vacinação muito melhor pro Brasil.

Vocês têm contabilizado o quanto já foi doado?

Luiza Helena Trajano: Não. O dinheiro não chega até nós. Nós só falamos o que cada cidade está precisando. A Natura, por exemplo, se ofereceu para fazer todas as prefeituras do Pará. Outras oferecem para fazer 50%. Estamos fazendo um check list e indo com os doadores para as prefeituras. A gente está trabalhando profundamente.

Tem hora que a gente anima, tem hora que desanima, mas falta vacina no mundo e nós estamos tentando, de todas as formas, ajudar o Ministério da Saúde a trazer vacina.

 
 
 
 

Luiza Trajano fala sobre a compra de vacinas por empresas

Em entrevista ao Yahoo Finanças, a empresária se posicionou favorável à aquisição de vacinas por parte de companhias privadas. Entretanto, ressaltou a obrigatoriedade em cumprir a legislação que determina a doação dos imunizantes ao governo federal para vacinação dos grupos prioritários.

 

Luiza, qual é sua opinião desse movimento de outros empresários na compra da vacina pela rede privada?

Luiza Helena Trajano: Eles não estão achando vacina para comprar porque não há. Mas, se eles acharem e comprarem, eles precisam dar tudo para o SUS e só depois podem ficar para vacinar os funcionários. Então eu desejo que eles achem. O problema não é dinheiro é a falta de vacina. Eu não sou contra, só que eu acho perda de tempo gastar dois dias no Congresso pra discutir uma coisa que agora não ia acontecer. Eu não posso vacinar os meus funcionários sendo que a família deles não está vacinada, se quem anda no ônibus e metrô não está vacinado. A epidemia só vai melhorar quando 60%, 70% da população do país estiver vacinada.

Quem são as mulheres detrás do Mulheres do Brasil?

Luiza Helena Trajano: Somos grupo de 86 mil mulheres de todos os segmentos, inclusive líderes de comunidades. Trabalhamos com 21 causas há muito tempo e estamos presentes em todas as capitais e cidades brasileiras. A gente tem um objetivo muito claro que é ser o maior grupo político apartidário do Brasil. Trabalhamos causas das mulheres, de educação, cultura, ciência, tecnologia, saúde. Aquilo é bom para o Brasil.

 
 
 
 

Criação do ‘Parceiro Magalu’ foi visando o micro-comerciante, explica Luiza Trajano

Com o avanço das medidas sanitárias e restrições de circulação por conta da pandemia da Covid-19, Luiza Trajano detalha que a solução criada pelo Magazine Luiza foi oferecer um acesso ao e-commerce aos micro e pequenos comerciantes para que mantivessem seus empreendimentos.

 

O Magazine Luiza teve resultados muito positivos durante a pandemia. Vocês conseguiram crescer e não demitiram. Queria entender, desde começo, como é que foi essa escolha e como é que vocês passaram por esse processo?

Luiza Helena Trajano: Eu gosto de contar que é uma história corajosa e de pensar no Brasil. Quando nós entramos na pandemia nós tínhamos capital de giro porque a família tinha vendido 10%. Fiquei muito impressionada com a equipe que está trabalhando, porque eles fizeram de conta que não tinham nada [de dinheiro de caixa]. Com isso deu para criar coisas em 15 dias como o Parceiro Magalu [plataforma da rede Magazine Luiza que permite criar uma loja virtual como varejista ou como divulgador] que em duas horas sua loja estava em seu celular. Apareceram 600 mil pessoas. Nós somos uma das poucas empresas do mundo que nascemos na loja e fomos para o digital sem perder nem o analógico e nem o digital. O Mercado Livre, Amazon, Alibabá, todos nasceram no digital e depois migraram pro físico. Fizeram também uma parceira com o Sebrae e todos os dias deram curso de digital. Uma das nossas missões é dar acesso a muitos o que é privilégios de poucos: o digital. Eu sou mestre em recursos humano (RH), nunca tive departamento pessoal. Sempre me achei uma metida de mexer em RH.

E a questão dos funcionários contaminados?

Luiza Helena Trajano: Eles contrataram 20 médicos regionais, ligaram para os convênios e falaram ‘nenhuma pessoa nossa vai ficar fora de um hospital porque não vai achar’. O Frederico [Trajano, filho de Luiza e CEO da empresa] e todos do conselho, diariamente, sabiam quem tá doente, quem sarou, como estavam as pessoas. O conselho estava presente em tudo. Eles criaram uma equipe de saúde com telemedicina em sete dias para aqueles que não tinham convênio para a família. O Magazine Luiza está há 23 anos entre as melhores empresas para se trabalhar, mas fiquei muito feliz que eles tenham feito melhor que eu, porque é sinal que o legado está no osso.

 
 
 
 

Magazine Luiza: De empresa familiar a abertura na Bolsa de Valores

Luiza Trajano detalha a trajetória da empresa Magazine Luiza desde a fundação, passando pela participação familiar nas diretorias e conselho até a chegada na Bolsa de Valores.

 

O Magazine Luiza cresceu bastante, mas continua sendo uma empresa familiar. Queria entender como é que você conseguiu alinhar todo mundo no trabalho e na família.

Luiza Helena Trajano: Nós somos uma empresa familiar, mas somos uma empresa profissional. O Marcelo Silva foi nosso CEO depois de mim por sete anos. Dois acionistas, um por acaso é meu filho, mas eu nunca o mandei trabalhar lá. O outro é meu sobrinho, que é um grande acionista. Nunca fizeram uma reclamação, nunca tiraram férias diferente, eram tratados como todo mundo. Todo mundo lá tem plano de carreira, tem plano de acionista desde 1979. Eu mesma não posso fazer nada sem apoio do compliance, nem com o Mulheres do Brasil, que eu ajudo muito financeiramente. É tudo muito profissional. Lá não é cabide de emprego: se a família tem que ajudar, ajuda fora da empresa. Lá não é para criar diretores. A minha tia [Luiza Trajano Donato, fundadora da loja] sempre foi muito preocupada. Agora ela está vivendo um problema de demência, mas colocou a empresa na bolsa e a preparou para os próximos 35 anos. A gente tem paixão pela empresa e quando você tem paixão o que manda é a empresa, não é o cargo ou quanto eu vou te pagar: é a empresa que tem que durar.

 
 
 
 

Luiza vê empresários ‘fechados’ em relação a posicionamentos políticos no Brasil

Luiza Trajano analisa ao Yahoo Finanças a postura do corpo empresarial brasileiro a respeito dos posicionamentos políticos e interesses da categoria. "Eu nem acho que eles se omitem tanto. Eu acho que, mas acho que agora mudou muito e deve sempre estar se posicionando", adianta Luiza.

Você é uma pessoa que se posiciona: quando você defende medidas de privatizações te taxam de direita, quando você defende o SUS te taxam de direita. Você acha que existe uma omissão do empresariado nas questões sociais?

Luiza Helena Trajano: Eu acho que o Brasil é um país onde o empresário sofreu muito também: a inflação galopante, um imposto terrível. Então ele teve que cuidar. Não estou justificando, estou explicando. Não se você sabe, mas as famílias, as empresas e os empresários deram mais de R$ 6 bilhões para a epidemia. De repente não teve nenhum que não teve que dar 20% em cesta básica porque a fome bateu e escancarou a desigualdade. Ninguém quer dar cesta básica, nós queremos dar coisas que fiquem, como UTI, respirador. Eu já fui cinco vezes pro sertão com os Amigos do Bem, então eu sei o que é a pessoa não ter nada, ter fome, não ter água pra comer, o que o Bolsa Família representou e agora o que esses R$ 600 representa. A primeira coisa que nós fizemos foi ajudar o governo a criar as medidas emergenciais. Eu acho que a epidemia, apesar dessa grande tristeza, escancarou que a tempestade foi igual para todo mundo, mas os barcos foram muito diferentes. Enquanto tinha gente em barcos maravilhosos, tinha gente em barco pequeno, mas também tinha quem estava nadando sem colete.

Você acha que a cultura da doação virou um legado da pandemia?

Luiza Helena Trajano: Vão ter alguns legados, mas este vai ser um. Agora tá todo mundo se movimentando porque a fome tá batendo pior ainda. Demorou um pouquinho para engatar porque ninguém esperava que fosse continuar um ano depois, mas na hora que engata, o empresário é rápido.

 
 
 
 

'Pandemia da Covid-19 deixará legado da ‘cultura de doação’, avalia Luiza Trajano

Na avaliação da empresária, um dos legados positivos da pandemia da Covid-19 no Brasil será a "cultura da doação". Luiza Trajano acredita que a doença escancarou as desigualdades sociais e fez "abrir os olhos" por parte de alguns empresários.

 

Você sempre fala em ‘capitalismo consciente’. Por que você acha que ele se faz tão necessário agora?

Luiza Helena Trajano: Eu sempre tive propósito desde menina: sempre briguei contra a desigualdade no colégio que eu estudava. Minha mãe até falava que franqueza demais é falta de educação (risos). A sensação que eu tenho é que eu tenho a bolinha do propósito e a bolinha do lucro e tenho que ficar equilibrando. Muitas vezes eu tive que abrir mão do lucro porque eu acreditei no propósito. Eu sou uma apaixonada pelo Brasil. Há 23 anos, toda segunda-feira, toca o hino nacional no Magazine Luiza. Meus filhos conheceram o Brasil antes de ir pra fora. Mas a escravidão, além da pobreza, nos deixou uma abolição que não existiu. Nos deixou um papel que eu acho terrível que é: ou você é o coronel ou é o colonizado. Você nunca é dono de nada. Ninguém se sente dono do Brasil e eu falava, mas gente o Brasil é nosso. A pandemia trouxe isso também. Eu abro as minhas redes sociais para o pessoal reclamar porque não sou perfeita e o Magazine Luiza não é perfeito. Quem tá exigindo agora na epidemia é o consumidor. Mas nunca esperava receber mensagens como “olha, eu quero continuar comprando de vocês porque vocês não estão demitindo”. Isso nunca pegava para o consumidor: ele queria saber de preço e queria saber de entrega. Esse ano ainda vai ser muito difícil, as crianças vão perder dois anos, a periferia está com fome, é um preço caro. Não adianta eu ficar metendo o pau no governo, a desigualdade social é uma responsabilidade de todo mundo, não só dos políticos.

 
 
 
 

Luiza Trajano explica porque mantém redes sociais aberta a comentários: ‘não sou perfeita’

A empresária detalhou que aprecia o contato e o retorno dado pelos clientes a respeito do serviço prestado pela Magazine Luiza. "Eu abro as minhas redes para o pessoal falar mal de mim e do Magazine", explica ela.

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