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Vitrine do Conhecimento Terça-feira, 01 de Julho de 2025, 16:00 - A | A

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MILHÕES DE ANOS

Pesquisadores brasileiros encontram fóssil de tartaruga gigante que viveu na Amazônia

Redação

 

– Foto: Cedida pelos pesquisadores

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Coloração amarelada na parte superior do fóssil indica que ele sofreu intemperismo, ficando exposto ao sol e a chuvas desde a morte do animal, há milhões de anos, no atual sudoeste amazônico

 

 

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da USP encontrou restos fósseis de uma Stupendemys geographicus, considerada a maior tartaruga de água doce que já viveu. Além de ossos do fêmur e fragmentos do antebraço, um enorme pedaço do casco com partes da carapaça foram achados inteiros no leito seco do Rio Acre em Assis Brasil, interior do Estado do Acre. Embora ainda não tenham feito as datações, os pesquisadores dizem se tratar do período Mioceno Superior, entre 10,8 e 8,5 milhões de anos atrás.

 

O local onde a tartaruga gigante foi encontrada é prospectado por paleontólogos desde 1978 e recebeu outras expedições em 1981, 1990, 2002 e 2022. Nesta última, pesquisadores encontraram apenas dentes de macacos e de gambás. 

 

“Por experiência de coletas passadas, a gente não esperava algo tão completo e tão grande como foi essa. Nessa região há muitos fósseis, mas geralmente estão fragmentados”, afirma Carlos D’Apolito Júnior, professor do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da Ufac, um dos coordenadores da expedição. 

 

Homem branco, cabelos e olhos escuros. Ele usa uma camisa estampada preta e está em um fundo com folhagens

Carlos D’Apolito Júnior é professor da Universidade Federal do Acre – Foto: Arquivo pessoal

 

“O que a gente encontrou não é nem metade do que seria o tamanho completo da tartaruga. Embora ela esteja fragmentada, é um achado sensacional para a gente, porque nunca tivemos uma tartaruga dessa espécie preservada”, destaca Annie Schmaltz Hsiou, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

 

D’Apolito e Annie coordenam o projeto Novas Fronteiras no Registro Fossilífero da Amazônia Sul-Ocidental, apoiado pela iniciativa Amazônia+10. No contexto do projeto, o grupo já realizava escavações na região de Boca dos Patos, em Assis Brasil, e deve ampliar a busca por registros paleontológicos em locais remotos e ainda inexplorados.

 

O projeto conta com o apoio de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais (PIQCT), considerados igualmente “integrantes, pesquisadores e detentores de conhecimentos tradicionais”, destaca a professora. Ela explica que as escavações acontecem com o apoio de barqueiros, de lideranças locais da Reserva Extrativista Chico Mendes e integrantes da Comunidade Indígena Nova União.

 

Mulher oriental, cabelos e olhos escuros. Ela usa uma regata preta e esboça um sorriso

Annie Schmaltz Hsiou é professora da USP em Ribeirão Preto – Foto: Arquivo pessoal

 

Em entrevista ao Jornal da USP, Annie contou que o material segue no território encontrado e mantido seguro pelos parceiros locais, até que o apoio da universidade no Acre consiga fazer a remoção. “É um lugar de difícil acesso, são sete horas de viagem até a cidade, e o trabalho de campo acontece em condições extremas.”

 

Imagem de dois pesquisadores em campo à beira de um rio. Ao fundo, árvores compõem o cenário. Há também uma lona azul com terra em cima e um balde no canto inferior direito.
Imagem mostra duas pessoas escavando na terra e uma parte do casco da tartagura gigante à mostra.

O trabalho é fruto da colaboração entre cientistas, indígenas, quilombolas e ribeirinhos em um local de difícil acesso – Fotos: Cedida pelos pesquisadores

 

Megafauna sul-americana

 

Os pesquisadores já vêm trabalhando na datação mineral da geologia da região, com cristais de zircão (considerado um dos mais antigos minerais da Terra) encontrados em sedimentos e rochas sedimentares. Para o professor da Ufac, o fóssil amazônico é um indício de que animais da megafauna brasileira conseguiram estender sua sobrevivência por mais tempo do que se pensava. “Temos registros mais antigos desse animal e a gente vai poder comparar com materiais mais antigos da Venezuela, com novos elementos da anatomia do casco”, explica D’Apolito. 

 

Ele se refere a uma publicação de 2020, quando pesquisadores relataram a descoberta de fósseis da Stupendemys geographicus na Colômbia e na Venezuela, com um comprimento de 2,4 metros de carapaça e massa estimada em mais de uma tonelada. De acordo com o artigo, a tartaruga poderia ser do grupo Pleurodira (cujo pescoço se articula para lateral), do tipo snapping turtle (mordedora), com um sistema de alimentação por sucção e capaz de capturar e reter presas de grande porte, incluindo peixes, jacarés e serpentes. 

 

“Essa interpretação é questionável, contudo, o nosso achado não tem crânio, e fica difícil afirmar como era sua alimentação”, aponta Annie. D’Apolito concorda que não se pode ter certeza sobre os hábitos do animal, mas é possível inferir com base em seus parentes atuais — as tartarugas tracajás (Podocnemis unifilis). “Provavelmente era um animal onívoro e comia de tudo: vegetais, moluscos, crustáceos e outros vertebrados, na medida do possível. Era um animal muito grande, precisava comer muito.” 

 

O fóssil encontrado em terras brasileiras também poderá revelar informações sobre o clima, a geografia e até confirmar se os outros exemplares encontrados na América do Sul são da mesma espécie. “Isso é muito interessante, porque daí a gente fala de especiação, de conexão hidrológica, porque são animais que estavam vivendo em corpos de água muito mais volumosos no passado do que hoje. E também até quando essas comunicações duraram, para a gente entender a diversidade e as paisagens do passado”, diz D’Apolito.

 

Mais informações: [email protected], com Annie Schmaltz Hsiou

 

*Via Jornal da Usp

 

 

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