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variedades Sexta-feira, 23 de Maio de 2025, 10:00 - A | A

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BOTO-DO-ARAGUAIA

Uma expedição científica para estudar o já ameaçado boto-do-araguaia

Redação

 

Foto: Rio Cicia/Wikimedia

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A espécie do boto-do-araguaia (Inia araguaiaensis) foi oficialmente descoberta apenas em 2014 e já corre riscos de extinção –

 

 

Em uma expedição pela bacia hidrográfica Tocantins-Araguaia, pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP realizaram trabalho de campo para estudar as características do boto-do-araguaia, espécie endêmica da região e que está sob ameaça de extinção. Um artigo publicado em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) descreve as condições físicas e de saúde dos animais estudados, comparando os dados entre indivíduos de áreas com diferentes índices de atividade humana.

 

O boto-do-araguaia (Inia araguaiaensis) é um golfinho de água doce que, apesar de parecido, não é da mesma espécie que o boto vermelho (Inia geoffrensis), popularmente conhecido como boto cor-de-rosa. Por se tratar de uma espécie recentemente descoberta e pouco estudada, as informações sobre parâmetros físicos do boto-do-araguaia ainda são escassas. Isso foi o que sensibilizou Daniela M. D. de Mello, pós-doutoranda em Fisiologia no IB, a investigar as populações desse tipo de golfinho e entender quais ameaças elas sofrem.

 

Presente entre os biomas do Cerrado e da Amazônia, a espécie habita áreas com intensas atividades agrícolas que, combinadas à sazonalidade de enchentes e secas da bacia Tocantins-Araguaia, são responsáveis por diminuir drasticamente os níveis dos rios. 

 

Mulher adulta de cabelos médios e escuros. Veste uma camiseta vermelha e está sorrindo para a câmera.

Daniela M. D. de Mello - Foto: ResearchGate

 

“É uma mudança muito rápida, então, muitas vezes, os botos ficam presos em corpos d’água pequenos, ficam encalhados. O rio começa a secar e o animal não tem para onde ir”, diz a pesquisadora ao Jornal da USP. Ela também menciona casos de violência e assassinato de botos, motivados pela ideia do cetáceo ter o hábito de caçar peixes e, assim, atrapalhar o trabalho de pescadores.

 

Trabalho de campo no Araguaia

 

Os pesquisadores estudaram parâmetros morfológicos, fisiológicos e hormonais de 24 botos habitantes de duas regiões no rio Araguaia. Uma foi a área protegida do Parque Estadual do Cantão, no Tocantins, enquanto a outra foi o distrito goiano de Luiz Alves, classificado como uma área de pesca esportiva. Utilizando como referência de dados sobre o boto vermelho – uma espécie evolutivamente próxima e bem mais estudada –, o trabalho trouxe resultados preliminares a respeito das condições dos animais.

 

 
 

“Além da biometria corporal, coletamos informações de parâmetros fisiológicos, temperatura, frequência cardíaca e tudo mais. O que não podíamos analisar no campo, coletamos amostras para laboratório”, descreve Daniela de Mello. A pesquisadora explica que a técnica de captura e soltura de golfinhos utilizada no estudo – que envolvia o rápido manejo de redes em locais rasos do rio – permitiu que o trabalho fosse realizado com segurança.

 

“Ali é como se fosse um ‘pit stop’: cada pesquisador faz alguma tarefa. Têm aqueles que vão fazer as medidas, coletar o sangue. Outros vão fazer swab [coleta de amostras de tecidos ou fluídos], fotografia. (…) Tudo para fazer uma avaliação da saúde”, diz.

 

No caminho da conservação

 

Resultados preliminares obtidos no estudo foram capazes de indicar diferenças e semelhanças entre as duas espécies de botos colocadas em comparação. A começar pela coloração dos animais: enquanto o boto-do-araguaia tende a apresentar regiões mais cinzas escuras em várias partes do corpo, o boto vermelho costuma adquirir uma coloração rosa ao longo da vida. Por outro lado, medidas como frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura corporal não variaram significativamente entre os indivíduos.

 

Os botos estudados passaram por uma sequência de exames de forma que se pudesse estudar suas condições de saúde em diferentes ambientes no percurso do Rio Araguaia - Foto: Arquivo pessoal

 

O grande destaque vai para as variações encontradas nos exames hematológicos e bioquímicos séricos – análise do soro do sangue –, as quais Daniela de Mello trabalhou dentro da pesquisa. A pesquisadora afirma ao Jornal da USP que a razão para essas mudanças entre animais de diferentes espécies e áreas está relacionada aos variados ambientes em que os botos se encontram. 

 

“Diferentes tipos de presas e peixes que eles consomem, a própria profundidade da água é diferente. No rio Araguaia a profundidade é bem menor, fazendo com que eles mergulhem menos. Isso também se reflete em alguns parâmetros sanguíneos.” 

 

Compreender as condições físicas e de saúde são um passo crucial no manejo de esforços para a conservação do boto-do-araguaia. Sendo um animal de topo de cadeia, ele se classifica como um sentinela do meio ambiente, já que sua sensibilidade a fatores ambientais pode ser usada como um ferramenta de monitoramento da saúde de ecossistemas.

 

“Agora sabemos que esses animais estão saudáveis, com condições corporais boas e apresentando parâmetros dentro de certa faixa. Se, futuramente, houver qualquer tipo de alteração ambiental que se reflita na alteração de saúde desses animais, vamos conseguir detectar”, declara Daniela de Mello.

 

O artigo Comprehensive assessment of the physical and health features of the threatened Araguaian River dolphin Inia araguaiaensis pode ser lido aqui.

 

Mais informações: [email protected], com Daniela M. D. de Mello.

 

*Via Jornal da Usp

 

 

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