O crescimento da rejeição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos temas que mais preocupam o PT na reta final das eleições. A campanha está encadeando uma série de ações para conter o aumento do desgaste da imagem do petista, como a tentativa de aproximação a personagens inicialmente refratários ao ex-presidente, o uso da presidenciável derrotada Simone Tebet (MDB) e investidas na direção aos evangélicos.
Dados da pesquisa Ipec mostram que o índice de eleitores que declaram não votar de jeito nenhum em Lula está crescendo desde 19 de setembro, quando o percentual era de 33%. Uma semana depois, passou para 35% e na véspera do primeiro turno, em 1º de outubro, chegou a 38%. Já no segundo turno, a rejeição do ex-presidente passou de 40% para 42%.
Enquanto os números apontam tendência de alta dos que rechaçam o petista, o índice de eleitores que rejeitam Bolsonaro vem caindo desde o final do mês passado. De acordo com o Ipec, em 26 de setembro, a rejeição ao presidente era de 51% e passou a 48% no levantamento divulgado na segunda-feira (10).
O principal temor da campanha de Lula é o de que ele e Bolsonaro atinjam o empate técnico na semana que vem, quando haverá nova pesquisa do Ipec. Petistas calculam que até 20% dos 57 milhões de brasileiros que votaram em Lula no primeiro turno são "volúveis" e podem mudar de opinião no segundo.
A estratégia para conter a alta da reprovação passa por Simone Tebet, presidenciável derrotada que declarou apoio a Lula. Como ela representa majoritariamente eleitores de centro, sua atuação pode reverter a rejeição ao ex-presidente nesse espectro. Recentemente, ela defendeu que a campanha do petista evite explorar o vermelho do partido, na tentativa de reduzir o constrangimento do brasileiro que cogita votar em Lula para derrotar Bolsonaro, mas não se sente identificado com o PT.
A campanha também trabalha para reverter o cenário de reprovação junto aos evangélicos, segmento em que Bolsonaro tem ampla vantagem. Ontem, ele fará um ato em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ao lado do prefeito da cidade, Waguinho (União Brasil-RJ), que é evangélico e ajudou a eleger sua mulher, Daniela do Waguinho, deputada federal mais votada do Rio. Além disso, a campanha avalia elaborar uma carta de compromissos voltada ao segmento religioso.
Em outra frente, tratada internamente como a mais ambiciosa, a campanha está tentando cooptar personalidades com apelo popular, de dentro e fora da política, para o palanque de Lula. Interlocutores atuam para atrair o senador reeleito Romário (PL), correligionário de Bolsonaro, mas que se sentiu traído pelo presidente ter declarado que votou em Daniel Silveira (PTB), candidato ao senador derrotado no Rio. Apesar da rusga, porém, Romário já anunciou que votará em Bolsonaro, o que praticamente inviabiliza o flerte com o ex-presidente. Os petistas também trabalham para conseguir uma declaração de apoio, ainda que crítica, por parte de Luciano Huck, cuja mulher, a apresentadora Angélica, já se disse eleitora de Lula antes do primeiro turno.
O núcleo duro de Lula também botará em prática medidas que, se não são capazes de baixar a rejeição ao petista, têm potencial de ampliar a de Bolsonaro. O ex-presidente manterá o tom dos ataques ao adversário, mas deverá abandonar o termo genocida, um dos mais usado para fustigá-lo até aqui. Pesquisas qualitativas encomendadas pela campanha apontam que grande parte dos eleitores não entende o significado da palavra. Por isso, a ideia é insistir na pecha de que Bolsonaro só trabalha quatro horas por dia, de que é “vagabundo”. Para isso, será explorada a cena do presidente passeando de jet ski. Essa abordagem já foi usada na propaganda eleitoral gratuita da terça-feira, em oposição à imagem de Lula como um líder que agrega apoio de diferentes setores da sociedade, que trabalha e de que ajudou o Brasil no passado.
Nesta semana, Lula fará um tour pelo Nordeste entre quarta e sexta-feira, com agendas por Salvador (BA), Aracaju (SE), Maceió (AL) e Recife (PE). Em todos os compromissos, o petista irá explorar o fato de Bolsonaro ter atribuído sua derrota na região ao índice de analfabetismo e reforçará o orgulho de ser nordestino. A campanha almeja aumentar a vantagem de Lula na região para compensar a desvantagem do petista no Sul e no Centro-Oeste.
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