Aceitei o convite da minha filha para o almoço do primeiro sábado de junho.
Sei que meu estado de saúde não permite essas extravagâncias.
Costumo almoçar com a cuidadora e, em seguida, vou direto para a sesta.
A reunião da família acontece uma vez por semana, mas logo deixo a sala — não janto e o lanche das sete da noite me é servido na cama.
Não me lembro da última vez em que almocei ou jantei fora.
Já testei: não me sinto bem quando saio de casa.
Dou um trabalhão ao motorista, à enfermeira e a quem me convida.
Mesmo em datas especiais — como Natal, Ano Novo e meu aniversário — mantenho a rotina de ficar em casa e dormir cedo.
Hoje, forcei a barra.
Sai do meu quarto, sentado na cadeira de rodas, até a casa da minha filha, a vinte minutos daqui.
Logo nos sentamos à mesa, com quatro convidados e o esposo dela.
Um filho e a esposa estavam em São Paulo. Outro, tinha um compromisso.
Meus netos e bisnetos estavam em aniversários de amigos.
Mas minha filha insistiu tanto, que acabei cedendo.
Já saí de casa sentindo um mal-estar. Mas insisti.
Não aproveitei a comida deliciosa, não conversei com ninguém e só pensava em voltar.
Será que ninguém entende a velhice em uma pessoa com saúde?
Joguei-me na cama por uma hora e levantei-me para escrever.
Será que ninguém entende a velhice em uma pessoa com saúde?
Sei que esses convites são demonstrações de carinho.
Mas a minha recusa precisa ser compreendida como um limite imposto pela saúde.
Doente não é só quem está internado em uma UTI.
Tenho muita saúde para minha idade, estou bem — mas tenho certas limitações.
A mais importante delas é a locomoção, mesmo em cadeira de rodas.
*Gabriel Novis Neves
07-06-2025
https://bar-do-bugre.blogspot.com
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