Abílio ganhou as eleições este ano, antes de tudo, por sua determinação, protagonismo, inteligência e perseverança. E algumas doses cavalares de discurso anti-PT, é claro.
Já na sua estreia na política como vereador, 2016-2020, Brunini inovou usando as redes sociais de maneira inteligente durante o mandato, não se limitando aos seus enfadonhos discursos de plenário e alcançou um público jovem e conectado que não se informava pelo rádio, TV e sites.
Por mais óbvio que pareça o que fez, Abílio reinventou a função do vereador na câmara municipal ao vistoriar espaços públicos como UPAs, escolas e obras da prefeitura, com transmissões ao vivo pelas redes sociais.
Criou assim um conceito de “vereador fiscalizador” destemido que enfrentava poderosos com um celular na mão.
Por ser neto do presidente estadual da Assembleia de Deus, Sebastião Rodrigues e membro dessa religião, defendia a chamada pauta dos costumes atraindo para seu projeto os evangélicos de várias denominações. Incorporou no imaginário popular “da voz que grita no deserto ou do herói peregrino na multidão”.
Abílio era um outsider que tinha apenas um celular na mão e uma narrativa de justiceiro antissistema, anti-nenel e antipolítica, fortemente inspirado na trajetória de Bolsonaro.
O “sistema político” reagiu, desprezou, zombou, fez chacota, chamou de louco, cassou seu mandato, perseguiu e não acreditou que essa fórmula nova de política daria certo. E criaram um “monstro”.
Em 2020, Abílio disputou a prefeitura quase que como lobo solitário pelo diminuto partido PODEMOS, junto com mais três vereadores corajosos, sem grupos tradicionais da política no palanque, sem mídia e grandes siglas na aliança.
Venceu o primeiro turno e surpreendeu a todos, mas perdeu as eleições logo depois.
Desse trampolim frustrado, dois anos depois, em 2022, obteve votação expressiva para deputado federal, cargo que atualmente exerce.
Nesse ínterim, sua antítese e algoz, Emanuel Pinheiro, prefeito de 2020 a 2024, só desceu ladeira abaixo e a cidade mergulhou num abismo profundo, com inúmeros casos de corrupção e índices estratosféricos de reprovação da sua gestão.
A partir de hoje, acho melhor levarmos a sério quem ousa fazer diferente, pois existe um mundo inteiro ávido por novidades em todos os espaços sociais e, principalmente, na política
É claro que isso favoreceu sua condição de disputa nas duas eleições, pois Pinheiro era o seu grande antagonista.
Em 2024, a conjuntura políticas das eleições passadas quase se repete. Abílio se apresentou para a disputa quase que sozinho, numa eleição improvável novamente, com apoio de apenas um partido nanico coligado, o NOVO, e dois vereadores de mandato na chapa, quase uma chapa pura.
Sabia, como candidato antissistema, que quanto menor o palanque e sem políticos “carimbados” ao seu lado, maiores seriam as chances de se eleger como prefeito. Preferiu não compor com ninguém ou não quiseram compor com ele. Repetiu a estratégia.
Nas duas disputas eleitorais, sua metodologia de campanha foi totalmente diferente das mobilizações tradicionais. Fazia ao seu jeito, Abílio de ser, sem grandes reuniões, agendas diárias de campanha, arrastões e um monte de gente contratada. Pegava o celular e seguia com seu faro político, seu feeling. Optou pela mobilização digital na relação íntima de selfie, direta com eleitor, sem intermediários caciques ou líderes locais.
Embora num partido mais robusto, o PL, com recursos do fundo partidário e no mandato de deputado federal, seu desafio continuava grande.
Não hesitou e chegou, contrariando o óbvio, ao segundo turno em primeiro lugar, enfrentando gigantes como o presidente da AL-MT, Eduardo Botelho, com apoio do governador e um caminhão cheio de vereadores e deputados, e por outro lado, o deputado estadual Lúdio do PT e todo apoio do Governo Federal.
Apesar de vitorioso no primeiro turno, o fantasma de sua alta rejeição poderia impedir a vitória final. Pensou rápido e refez suas estratégias.
Mais maduro e calejado, ajustou seu discurso, fez meia-culpa, pediu desculpas, apertou a mão de Dorileo Leal, anunciou apoios de políticos de outros grupos como Mauro Mendes, Pivetta e outros tantos deputados, avançou, buscando o pedaço eleitoral que faltava para vencer o segundo turno e abriu seu palanque para quem quisesse se somar a campanha.
A população quis experimentar algo novo, estava cansada e ele virou essa esperança. Tinha algo mais que um debate entre esquerda e direita.
Todo esse textão para afirmar que não acredito que essa vitória foi “exclusivamente” efeito da polarização ou do Bolsonarismo de maneira simplória, como alguns acreditam.
Abílio construiu sobre si uma linguagem lacônica de sinais difusos. Para alguns, era fofo, corajoso e engraçado, mas para outros, debochado, raivoso, louco mas sempre era uma caricatura icônica.
Com sua careca brilhando ao sol, uma camiseta de mescla que mais parecia personagem de HQs ou dos filmes de cinema de horror, tragicomédia ou de super-heróis, conseguiu assim ser o top trend das rodas de política e das redes sociais.
Foi assim ocupando o espaço vazio da mídia e da política analógica, sem patrocinadores oficiais, padrinhos políticos, com a pecha de louco, mas sempre com uma notícia nova pronta, um jeito de fazer diferente, quase sempre polêmico ou inconveniente para alguns. Conseguiu fazer assim, ser a pauta das redes sociais e furar a bolha da política.
Era notícia que se espalhava rápido nos grupos de debates e WhatsApp. Lacração diziam, mas era, na verdade, o mais puro e genial marketing político. Agora sabemos. Qualquer análise que desconsidere a persona que ele construiu, concordando ou não com ele e suas teses, simplificaria ou menosprezaria o fenômeno político que, em menos de quatro anos, levou Abílio até o Palácio Alencastro, provando que de louco e bobo ele não tinha nada.
A partir de hoje, acho melhor levarmos a sério quem ousa fazer diferente, pois existe um mundo inteiro ávido por novidades em todos os espaços sociais e, principalmente, na política, que quase sempre não inova e aproveitar para rever nossas convicções e verdades sobre campanhas e eleições.
*SUELME FERNANDES é mestre em História e articulista político.
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Anderson 29/10/2024
Que isso velhinho. Você sempre muito elegante, inteligente e polido com as palavras. Belo texto meu amigo Biéla .
Carmindo 29/10/2024
Parabéns Biela pelo artigo, sem fazer militância política e bem neutro e imparcial em suas colocações.
Armandonoel 29/10/2024
Parabéns caro amigo Suelme. Suas palavras são uma verdadeira realidade histórica diante desse contesto Político atual. SUCESSO SEMPRE.
3 comentários