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opinião Domingo, 29 de Dezembro de 2024, 11:27 - A | A

Domingo, 29 de Dezembro de 2024, 11h:27 - A | A

ARTIGO

Celebre a vida

*LUIZ FERNANDO FERNANDES

 

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O brasileiro é rico no uso de metáforas para transmitir sabedoria de forma acessível e bem humorada. Os provérbios ou ditos populares foram passados de geração em geração, primeiro através da oralidade e depois pelos registros escritos que os trouxeram até os dias atuais. Expressões que ora ou outra sentam-se às mesas dos mais simples aos mais eruditos, sempre com o mesmo brilho.

 

Já falei aqui da minha avó materna Esmeralda, um ser humano fantástico que sabia usar como ninguém a sabedoria popular. Frases e palavras que ela lançava certeiras, sempre no momento certo. Uma delas me veio à mente ao iniciar este escrito. Ela fala sobre gostos e preferências e valoriza a ideia de que na diversidade da vida valorizamos coisas diferentes, e isso torna nossa existência especial.

 

Dizia minha avó, “Uns gostam dos olhos, outros da remela”, ou seja, ela estava dizendo que precisamos valorizar, reconhecer e aceitar as diferenças de gostos entre as pessoas. Não tem como exigir do outro o mesmo nível de entendimento ou aceitação que você tem. Precisamos respeitar as limitações ou mesmo as manias de quem quer que seja. Assim, uns podem apreciar aspectos considerados mais atraentes e desejáveis, no caso os olhos, enquanto outros podem valorizar detalhes menos evidentes e até mesmo inusitados, como a remela.

 

Este inclusive é um conceito encontrado também em outras línguas como o espanhol por exemplo onde há um ditado “Para gustos, los colores”, que traduzido literalmente significa, “Para gostos, as cores”. Em francês “Les gousts et les couleurs ne se discutent pas”, ou seja,  “Os gostos e as cores não se discutem”. Em inglês existem várias expressões que levam ao mesmo ponto, uma delas é “Theres’s no accounting for taste”, equivalente a “Gosto não se discute”, e por aí vai. Desta forma podemos  perceber que o mundo inteiro concorda que o gosto pessoal é subjetivo e não deveria estar sujeito a julgamentos.

 

Aqui amigos nasce a nossa reflexão, estamos mesmo respeitando o outro e suas preferências? O que vejo, principalmente nas redes sociais, são pessoas se eximindo de suas opiniões com medo das reações adversas, dos haters e do cancelamento.  Estamos vivendo uma ditadura da opinião, o maniqueismo do pensamento onde se polarizou o todo. A terceira e as muitas vias que deveriam existir deram lugar a esse pensamento egoísta e tóxico do ele e eu. O eu, tú, vós e eles estão se perdendo, afinal se ele não é de direita, logo ele é de esquerda. Se ele não bebe, logo não vamos convidá-lo para a festa. Se não gosta da música que eu gosto, bom sujeito não é. E neste viés vamos reservando nossos pensamentos, tolhendo nossas emoções e simplesmente adentrando no universo do silêncio e da falta de opinião.

Dizer não é tão importante quanto dizer sim, é imperativo que tenhamos essa capacidade de respeitar o gosto do outro, mas também a possibilidade de defender o nosso.

 

E se você pensa que isso é uma coisa que está acontecendo só agora com o advento da tecnologia, saiba que já na década de 1970 esse tema era assunto de estudo. A socióloga e cientista política alemã Elisabeth Noelle-Neumann realizou o Estudo da Espiral do Silêncio, onde buscava explicar como a opinião pública se forma e por que algumas pessoas preferem permanecer em silêncio ao expressar suas opiniões, mesmo quando discordam do consenso aparente.

 

Como podemos avançar enquanto raça se não discutimos, de forma saudável, o contraditório. Como podemos crescer se não defendemos nossas ideias e apáticos nos lançarmos no mar do conformismo e da aceitação. Dizer não é tão importante quanto dizer sim, é imperativo que tenhamos essa capacidade de respeitar o gosto do outro, mas também a possibilidade de defender o nosso. Se não fizermos isso, as opiniões majoritárias se tornarão cada vez mais dominantes e as minoritárias podem desaparecer do discurso público. Olhos e remelas deveriam dançar a valsa da vida no salão da diversidade, sem serem ultrajadas e mortas no final do baile.

 

Vamos celebrar a vida, afinal nossa passagem por este orbe é curta demais para nos preocuparmos com o que o outro vai pensar, falar ou fazer. Relaxe um pouco e tenha a certeza de que independente do que você pense, fale ou sinta, você está certo. Se faz sentido pra você, lute por aquilo que você acredita, talvez você não tenha uma segunda chance, afinal o amanhã é uma incerteza.

 

Dia desses tive o privilégio de presenciar o encontro de primos que há muito não se viam. Foi lindo, cada um com suas particularidades, ideias, vivências. Juntos formavam uma miscelânea de experiências que me mostraram como a vida é mesmo bela e especial. Histórias de infância se misturavam a memórias de jogos de tabuleiro, voltas na praia, porres homéricos, namoros, vida pulsando em cada lembrança compartilhada. Todos trazendo o melhor de si e levando o melhor do outro, assim, juntos pude ver que nem mesmo a distância, a falta de contato ou as escolhas que cada um fez diminuiu o amor que sentiam uns pelos outros, pelo contrário, o tempo só serviu para reforçar o melhor de cada um.

 

Respeitar a diferença, vibrar com as conquistas, entender as derrotas do outro é mesmo o caminho para uma vida plena, sem traumas, sem neuras. Não é uma questão monetária, afinal a maior riqueza de um ser humano é a sua história, o que somos é o nosso maior capital, afinal o tempo, a traça e a ferrugem podem destruir em pouco tempo aquilo que levamos anos para construir. Nosso capital intelectual, esse amigos, nada pode  ser destruído e uma vez que nos lançamos nessa construção com certeza será um caminho sem volta.

 

Então lembre-se, se você gosta dos olhos não critique aquele que gosta da remela. Seja gentil com o outro, o mundo já está cruel demais. Menos cobrança e mais amor, mais compreensão. Entender as dores e fraquezas daqueles que nos cercam é digno e muito positivo.

 

Talvez a sua verdade possa ajudar o outro em sua caminhada, mas se isso não acontecer está certo também. O que não podemos é exigir que nossa receita seja seguida à risca, afinal o sucesso possui milhares de formas e nem sempre o meu sucesso será o seu. O encontro desses primos me marcou justamente por conta disso, eles deixaram as carreiras de lado, os bens materiais, as manias. Simplesmente sentaram, conversaram, riram  e celebraram a vida.

 

E você, está celebrando também?  

 

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*Luiz Fernando é jornalista em Cuiabá, palestrante, terapeuta holístico e criador do método CURE que auxilia no tratamento para a bipolaridade. @luizfernandofernandesmt 

 

 

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