O vereador Marcelo Canova (Novo), do município de Colíder, a 631 km de Cuiabá, protocolou no Ministério Público e Delegacia da Polícia Civil, na segunda-feira (30), denúncias de fraude na escolha da empresa que organiza a Exposição Agropecuária (Expolíder) e na contratação de empresa ligada ao ex-prefeito do município, Celso Banazeski (PRD), para realizar serviço de máquina pesada. As denúncias de Canova são assinadas por outros seis vereadores: Luciano Milani (PP), presidente da Câmara; Fernando Consone (PL), Rica Matos (União), Joize Marques (Podemos), Denny Serafini (MDB) e Carlão Enfermeiro (MDB).
As representações pedem que tanto o MP quanto a Polícia Civil aprofundem o trabalho de fiscalização realizado por Canova apontando irregularidades na contratação da empresa Four Play Shows e Eventos, responsável por organizar a Expolíder, e da Amazon Empreendimentos Ltda e Celso Banazeski (ex-prefeito), acusados de fraude no fornecimento de serviços de máquinas pesadas ao município.
"O presente dossiê demonstra suposto esquema de direcionamento de contratação pública, iniciado em 23 de novembro de 2024, antes mesmo da posse do atual gestor municipal", aponta a representação sobre possíveís irregularidades na Expolíder 2025.
"(...) A diligência inicial do parlamentar (...) revelou uma série de entraves, a ocultação de informações e a dificuldade em obter quaisquer dados por parte de diversos setores da administração municipal, culminando na descoberta de um complexo e suposto esquema de favorecimento que constitui o objeto desta representação", traz a denúncia relacionada a empresa do ex-prefeito.
Cópias das duas denúncias estão anexadas, abaixo.
Expolíder
No caso da Expolíder, a representação questiona os critérios usados para escolha da empresa Four Play Shows e Eventos, contratada pela prefeitura para organizar a Expolíder, tradicional feira agropecuária que será realizada no município entre os próximos dias 9 e 12. No relatório de investigação, o vereador aponta a existência de indícios de que os entendimentos para que a empresa assumisse a realização da Feira iniciaram antes mesmo da posse do prefeito Rodrigo Benassi (PRD), em 1º de janeiro deste ano.
"Os envolvidos agiram para garantir que a empresa Four Play Eventos fosse a escolhida, antes de qualquer processo legal", aponta a investigação, apresentando uma sequência de situações que comprovariam que as discussões entre o então prefeito eleito Rodrigo Benassi e o Sindicato Rural (tradicional organizador da Feira) iniciaram ainda em novembro de 2024. Pela denúncia, o proprietário da empresa de eventos, Fernando Moreno da Silva, teria participado das tratativas.
O documento mostra uma reunião realizada no Sindicato Rural, em 18 de dezembro de 2024. Esta reunião, segundo a representação, contou com as presenças do prefeito eleito, membros da diretoria do Sindicato Rural de Colíder e Fernando Moreno, representante da empresa Four Play Eventos. Na foto divulgada da reunião, Rodrigo Benassi estaria com uma pasta com a referida logomarca da empresa de Moreno.
"A reunião, ocorrida na sede do Sindicato Rural, não foi um mero encontro protocolar, mas sim uma agenda para 'alinhar os detalhes' do evento. A presença de Fernando Moreno da Silva, representante da Four Play, e a ostentação de material com o logotipo da empresa pelo prefeito eleito indicam que a empresa não era uma mera espectadora, mas a parceira já escolhida. A tratativa, portanto, foi direta e pessoal, estabelecendo o direcionamento do contrato de forma inequívoca", assinala a representação.
A Four Play Eventos só foi oficialmente contratada para realizar a Expolíder no último mês de junho, através da adesão do município a uma ata de registro de preços de Guarantã do Norte, cidade próxima, no valor de R$ 860,300,00, para 'alocação de estrutura metálica e montagem' do evento. Outros R$ 1,694,00 milhão foram destinados à contratação de shows artísticos.
A investigação conduzida pelo vereador Marcelo Canova diz ter percorrido uma peregrinação de cobranças e ofícios à prefeitura e ao próprio Sindicato Rural, tentando entender a lógica da realização da Expolíder. A pressão para obter informações e os questionamentos formalizados pelo gabinete do vereador, segundo a representação, acabaram levando a administração municipal a formalizar contratualmente a parceria com a empresa Four Eventos. A cronologia dos atos e a existência de erros formais no processo, segundo a investigação, teriam reforçado os indícios de fraude.
"A cronologia é irrefutável. A contratação não foi fruto de um planejamento, mas sim uma reação direta à pressão e fiscalização do poder legislativo. A rapidez e a modalidade escolhida (adesão) sugerem uma tentativa de 'regularizar' às pressas uma situação que já estava consolidada de forma ilegal", atesta a documentação.
Além da forma de contratação, outra irregularidade grave apontada é a permissão para que a Four Play Eventos comercializasse os espaços da Expolíder. A representação estima que entre a venda de bangalôs e camarotes, a empresa tenha faturado R$ 580 mil "antes mesmo da sua contratação formal, ocorrida apenas em 09 de junho de 2025". Além de a empresa ter vendido espaços antes de firmar qualquer contrato com a prefeitura, não haveria embasamento legal para a comercialização dos espaços.
A representação questiona a legalidade do "Item 17" da Ata que autorizou a empresa a "ter o direito de comercializar camarotes, bangalôs e área vip, assim como de auferir patrocínio em seu favor". A avaliação é de que o ato se assemelhou a uma outorga de exploração comercial de bem público. "A lei é clara: se um evento é 100% custeado com dinheiro público, a receita de sua exploração comercial deveria, em tese, retornar ao erário. Permitir que a empresa explore comercialmente o evento exigiria um processo licitatório de concessão, com um contrato bilateral onde a empresa demonstraria sua contrapartida. O que supostamente ocorreu foi a concessão de um duplo benefício: a empresa é paga com dinheiro público e, ao mesmo tempo, lucra com a venda da estrutura, o que pode configurar enriquecimento ilícito."
O documento denuncia ainda que o Estudo Tecnico Preliminar (ETP) de embasamento da parceria firmada com a Four Play tem indícios fortes de ter sido fraudado. "O ETP, datado de 29 de maio de 2025, aparenta ser a peça para justificar um processo viciado desde 2024", aponta.
Essa é a primeira vez que a prefeitura está bancando integralmente a Expolíder. A Câmara Municipal aprovou em março um Decreto do Executivo autorizando o remanejamento de R$ 2,6 milhões do orçamento para investir na Feira. Uma das condições para justificar o investimento é o acesso gratuito da população ao evento.
Empresa de ex-prefeito
A segunda denúncia formalizada pelo vereador Marcelo Canova, também assinada por outros seis vereadores, aponta a contratação de empresa familiar do ex-prefeito Celson Banazeski pela administração municipal no primeiro dia após a posse do atual prefeito.
"A referida ação foi motivada por uma denúncia anônima que apontava para a contratação e utilização, pela Prefeitura Municipal de Colíder, de uma máquina pesada pertencente a uma empresa de propriedade do senhor Celso Paulo Banazeski e de seus filhos, os quais constam no quadro societário da empresa Amazon Empreendimentos LTDA", aponta a representação, concluindo que "o arranjo foi meticulosamente planejado para ocultar o direcionamento e ludibriar a transparência, utilizando-se de um sistema de gerenciamento de frota (GTF) da empresa PANTANAL GESTÃO E TECNOLOGIA LTDA".
Reprodução/Representação

Relatório detalhado de Ato Fiscalizatório do Vereador Marcelo Canova, que descreve o recebimento da denúncia e os passos da fiscalização.
Segundo o documento, diligências realizadas pelo vereador Marcelo Canova revelaram "um complexo e suposto esquema de favorecimento".
Ex-prefeito, Celso Banazeski é classificado como 'apoiador e incentivador' da entrada do atual prefeito Rodrigo Benassi na política. A contratação da Amazon, segundo a denúncia, poderia caracterizar uma contrapartida ao apoio recebido por Benassi. "A suposta manobra para viabilizar o pagamento à empresa de Banazeski iniciou-se com o Ofício nº 001/2025, primeiro ato da gestão Benassi. Este ofício solicitou o Sexto Termo de Apostilamento ao contrato da Pantanal, alterando a dotação orçamentária no código 891 entre outros. A cronologia dos atos demonstra a fraude: em 02 de janeiro de 2025, a prefeitura emitiu o primeiro empenho para a empresa Pantanal que em fevereiro faz pagamento de 55 mil reais à Amazon", denuncia.
Na representação, é questionado ainda a utilização das redes sociais da prefeitura para divulgar o ex-prefeito. Segundo a denúncia, Celso Banazaski estaria anunciando a candidatura a deputado estadual na eleição de 2026.
OUTRO LADO
A reportagem enviou mensagem ao secretário de Administração e Fazenda de Colíder, Leandro Kessler, mas não houve retorno ao pedido de esclarecimentos sobre as denúncias. A empresa Four Play Shows também não retornou a tentativa de contato. O ex-prefeito Celso Banazeski também foi procurado via assessoria da vice-governadoria de MT, onde está lotado atualmente, mas também ainda não se pronunciou. O telefone da empresa Pantanal Gestão e Tecnologia, divulgado nas redes sociais, não completa as ligações. Os espaços para esclarecimentos continuam abertos e serão publicados assim que enviados.
O presidente do Sindicato Rural, Luiz Carlos Moia, também foi contactado, mas ainda não se posicionou. Em ofício encaminhado ao gabinete do vereador Marcelo Canova, em maio, ele disse que o sindicato não possui nenhum vínculo nem contrato formalizado com a empresa Four Play. Ressaltou também que a organização do evento é de responsabilidade do município.
Além das duas denúncias abaixo, confira fala do vereador Marcelo Canovo, na tribuna da Câmara, na última segunda-feira (30).
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