O Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras já está disponível para cientistas, pesquisadores, estudantes e o público em geral desde quarta-feira (16), quando foi lançado durante o V Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas (CONBRAU), que acontece no auditório do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), no campus da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), em Cuiabá. O e-book "Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras: Distribuição, ecologia, manejo, ameaças e lacunas de conhecimento" é fruto do trabalho de 95 pesquisadores, de diversas regiões do Brasil, e reúne uma ampla classificação e mapeamento dessas áreas, com informações sobre sua ecologia, ameaças e os desafios para seu manejo.
O e-book é um projeto do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU). Segundo a professora-doutora da UFMT, Cátia Nunes da Cunha, uma das coordenadoras da obra, o e-book oferece um conhecimento essencial para pesquisadores, gestores e tomadores de decisão. "Esse ecossistema é vital para manter nossa vida, nossa economia e nossa biodiversidade", ressalta a ecóloga.
As áreas úmidas desempenham um papel fundamental no equilíbrio do ciclo hidrológico, especialmente em tempos de extremos climáticos, como secas severas e inundações. O Pantanal, por exemplo, uma das maiores áreas úmidas do mundo, tem sofrido uma severa degradação, especialmente pela ação humana, tendo perdido quase que 50% de sua área alagada somente nas últimas três décadas. A proteção das áreas úmidas é essencial para garantir a estabilidade da água, a conservação da biodiversidade e a saúde dos ecossistemas e da economia.
O inventário é uma ferramenta indispensável na criação de políticas públicas, legislação adequada e no desenvolvimento do manejo sustentável dessas áreas no Brasil, organizando de forma científica e detalhada a classificação, tipologia e localização das áreas úmidas em todo o território nacional. Protegendo as áreas úmidas, estamos protegendo nossos recursos hídricos", explica a coordenadora do e-book. Esse esforço colaborativo trouxe à luz diversas tipologias de áreas úmidas que, até então, eram pouco conhecidas ou mal documentadas, representando um avanço significativo no conhecimento científico. Além de descrever essas tipologias, o inventário elenca os principais problemas enfrentados por cada área, destacando as lacunas de conhecimento e as necessidades urgentes de ação para sua proteção.
Durante o primeiro dia do CONBRAU, inúmeros pesquisares que participam da elaboração do e-book, proferiram palestras apresentando as pesquisas e estudos que integram o Inventário. O cientista florestal Jochen Schongart, pesquisador do INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) há 26 anos, explica a importância do Inventário para conhecimento de cada ecossistema e o desenvolvimento de políticas públicas específicas e adequadas a cada ambiente.
"A Amazônia, com sua vasta dimensão continental, abriga a maior parte das áreas úmidas que temos no Brasil. No total, 2,3 milhões de quilômetros quadrados da Bacia Amazônica (que integra outros países, além do Brasil) são considerados áreas úmidas, que têm uma variação enorme na sua formação, com diferenças na qualidade do solo, com ambientes muito ricos em nutrientes e outros muito pobres em nutrientes. Temos os rios de águas brancas, que associados as várzeas, são muito ricos em nutrientes e dinâmicos em vegetação. Temos os rios de águas pretas, que são o contrário, ecossistemas lentos devido a qualidade da água, pobre em nutrientes, muito ácidos. E cada um desses ecossistemas necessita uma dedicação mais sofisticada em classificar, para poder pensar as políticas públicas para conservação desses ambientes. Esse conhecimento específico, presente no inventário permite desenvolver uma gestão ambiental focada na conservação e no manejo dos recursos naturais, e elaborar uma legislação específica em nível desses macro habitats, que gera uma política pública muito mais efetiva de conservação", explica Jochen.
O inventário mostra a riqueza da biodiversidade brasileira, como aponta a pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Yara Schaeffer Novelli - mestre em Oceanografia e doutora em Zoologia - cujos estudos integram dois capítulos do Inventário, abordando as áreas úmidas do sistema costeiro-marinho brasileiro. "Nós temos praias arenosas, praias lamosas, temos costões rochosos, temos dunas. Temos o própria manguezal, que tem vários tipos. Imagine que na ilha de Fernando de Noronha, temos o único manguezal de ilha oceânica do Atlântico Sul. Temos recifes de coral, que não só o coral formam os recifes. Temos recifes de arenito, temos recifes de politquetas. Por exemplo, os recifes que falam da 'boca do Amazonas', não é um recife de coral, mas um recife de alga de calcária. Nosso sistema costeiro é uma variedade incrível".
A pesquisadora fala da alegria e do orgulho em integrar o inventário e também tece críticas a falta de políticas públicas para conservação da biodiversidade Brasileira, do desinteresse dos governantes e de projetos que, se desenvolvidos, podem impactar de forma a gerar o fim de muitos ecossistemas, como o projeto de exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, no estado do Amapá. "Eu conheço o litoral do Amapá. Já estive lá em uma expedição. Temos lá, agora o risco eminente de prospecção de petróleo, e é algo terrível que se aproxima e ameaça todo o ecossistema daquela área".
O "Inventário das Áreas Úmidas Brasileiras: Distribuição, ecologia, manejo, ameaças e lacunas de conhecimento" está disponível para acesso e download no portal do INAU, no endereço eletrônico inau.org.br.
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