Um acordo de demissão selou o fim da parceria de Neide Duarte com a TV Globo. Ela trabalhou na emissora entre 1980 e 1997, e depois de 2005 até o fim de novembro.
Imprimiu um estilo próprio de fazer reportagem, com texto elegante sempre ressaltando a humanidade dos personagens e das histórias.
Aos 71 anos, era uma das últimas jornalistas veteranas do canal. A maioria de seus contemporâneos de Globo foi demitida nos últimos anos.
Entre eles, Isabela Assumpção, Renato Machado, José Hamilton Ribeiro, Alberto Gaspar, Francisco José, Carlos Tramontina e Chico Pinheiro.
A dispensa de Neide Duarte acendeu um alerta nas redações da Globo em São Paulo e no Rio. Há expectativa de novas demissões nas próximas semanas.
O temor de ser o próximo a ser convocado pelo RH gerou um clima pesado entre jornalistas, editores e produtores da TV.
Tradicionalmente, em todo fim de ano acontece nas grandes empresas de comunicação o 'passaralho', termo que designa cortes de jornalistas a fim de minimizar prejuízo ou aumentar o lucro.
Na principal emissora do clã Marinho, a reestruturação financeira iniciada antes da pandemia ainda não acabou.
A ordem é reduzir despesas fixas. Os jornalistas mais velhos, com salário maior, foram os mais afetados por essa política.
Há também a intenção de renovar o quadro de repórteres. Fala-se em etarismo, mas, na verdade, a substituição de funcionários idosos por jovens ocorre em qualquer empresa.
No caso dos demitidos da Globo, a imprensa repercute com estranheza e o público lamenta por eles terem se tornado rostos familiares ao longo de décadas.
É como se o telespectador, de repente, nem tivesse a oportunidade de se despedir de um amigo que não verá mais.
Ainda na Globo, a saída de Marco Aurélio Souza deu visibilidade a um problema comum atrás das câmeras: o sacrifício mental de quem é refém da notícia.
O repórter esportivo deixou o canal após 18 anos. Preferiu mudar o estilo de vida após enfrentar a Síndrome de Burnout.
De acordo com definição do Dr. Drauzio Varella, trata-se de um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse por condições de trabalho desgastantes.
Marco Aurélio teve uma crise em fevereiro. Precisou recorrer a psiquiatra e terapeuta. Ficou afastado da TV em licença médica.
Na volta à rotina de trabalho, teve certeza de que não queria mais aquela corrida contra o tempo, sob constante pressão, para gravar matérias e fazer entradas ao vivo.
É o segundo caso conhecido de Burnout na Globo. Em 2018, a apresentadora Izabella Camargo sucumbiu ao mesmo transtorno e precisou ficar alguns dias em casa.
No retorno à redação, foi demitida. Levou o canal à Justiça. Conseguiu a readmissão. Colocada em função burocrática, longe dos estúdios, se sentiu infeliz e pediu para sair.
O comentário nos corredores é de que não são casos isolados. Haveria outros funcionários com sintomas semelhantes devido à carga de trabalho e à cobrança por resultado.
Uma 'onda' de afastamentos, demissões ou saídas voluntárias provocadas por doenças psíquicas relacionadas à atividade laboral suscitaria um dano à imagem da Globo.
O público enxerga apenas o lado glamouroso de quem trabalha em televisão. Parece fácil e prazeroso. Na verdade, paga-se um preço bastante alto.
Apresentadores e repórteres enfrentam uma tóxica concorrência interna (não são raros os episódios de sabotagem) e o cansaço por longas jornadas.
Erros não são admitidos e todos tentam entregar mais do que o exigido para garantir o cargo. Afinal, há sempre alguém à espreita para puxar o tapete.
O maior desafio de trabalhar em TV é preservar a saúde mental. Poucos conseguem se manter emocionalmente incólumes.
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