07 de Outubro de 2024

cotações: DÓLAR (COM) 5,46 / EURO 5,99 / LIBRA 7,16

variedades Quinta-feira, 13 de Outubro de 2022, 09:15 - A | A

Quinta-feira, 13 de Outubro de 2022, 09h:15 - A | A

FALSOS SEGUIDORES

Como funciona o obscuro mundo de venda de seguidores nas redes sociais

Terra/Byte

Foto: Pixabay

1

Compra de seguidores traz falsa credibilidade a influenciadores e marcas

 

 

Como conseguir visualizações, seguidores e curtidas nas redes sociais? Existem empresas especializadas em vender falso engajamento, o que é ilegal.

 

volume de seguidores legitima a  figura do influenciador e até da marca anunciante, rentabilizando negócios em variados setores. Quando esse engajamento não é verdadeiro, consumidores, e mesmo eleitores, estão sendo enganados.

 

Parte desse trabalho é executado por robôs, softwares que se fazem passar por humanos nas redes. Outra parte, por pessoas que podem receber menos de R$ 0,01 por tarefa como curtir, seguir, visualizar e comentar.

 

Não é difícil contratar estes serviços: a reportagem fez uma simples busca no Google, que devolve vários anúncios de empresas que fazem este serviço, com empresas como Seguidores Up, Seguidores Eternos, Agência Pop Up e SocialFast. Dá para comprar 10 mil seguidores no Instagram por apenas R$ 179, parcelar e até escolher entre brasileiros e estrangeiros.

 

Resultado do Google para compra de seguidores em redes sociais
Resultado do Google para compra de seguidores em redes sociais
Foto: Reprodução / Google

 

Esse cenário voltou ao noticiário com a ação da Meta, dona das plataformas Facebook, Instagram e WhatsApp, movida em agosto deste ano, contra as empresas brasileiras MGM Marketing Digital Ltda e Igoo Networks.

 

Em nota no site da empresa, Jessica Romero, diretora Jurídica da Meta, diz que a motivação foi a identificação de serviços prestados por essas empresas de vendas de curtidas de seguidores e visualizações falsas no Instagram, que viola os termos de uso da plataforma. Uma prática conhecida como “fazendas de cliques”.

 

Os processos em curso, segundo Romero, alegam violação também da lei brasileira, já que os envolvidos usaram automação não autorizada (uso de robôs). E, além disso, alguns dos serviços solicitavam credenciais de login dos usuários do Instagram.

 

Essa prática pode ferir as exigências da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). A lei dita que deve haver transparência, finalidade e base legal (justificativa) para o tratamento de dados pessoais. Também deve-se sempre respeitar o princípio da necessidade, ou seja, apenas os dados estritamente necessários devem ser tratados.

 

Combustível das ações judiciais

 

Alguns dos termos de uso do Facebook e do Instagram que serviram de combustível para os processos da Meta dizem que os usuários não podem usar seus produtos para trapacear, agir de forma ilegal, enganosa ou fraudulenta ou violar os direitos de outra pessoa (incluindo o uso do conteúdo de alguém sem a devida permissão). Também é proibida nas redes sociais a coleta de dados dos produtos usando meios automatizados, sem a permissão prévia das plataformas. 

 

Há ainda as proibições para criar contas falsas; coletar informações para as quais o usuário não deve ter acesso; ou comprar, vender ou transferir contas. 

 

Para garantir que o conteúdo visto pelas pessoas em suas plataformas seja autêntico, a Meta deixa claro que pode remover conteúdo ou restringir ou excluir contas, caso os termos ou diretrizes da comunidade sejam violados. 

 

Em nota enviada a Byte, a Meta diz ser muito importante que as interações no Instagram e no Facebook sejam genuínas, e para isso trabalham para manter a comunidade livre de comportamentos inautênticos: “Serviços de engajamento falso, que aumentam artificialmente a popularidade de uma conta por meio da compra e venda de curtidas, comentários e seguidores violam nossos Termos de Uso, assim como tentativas de comprar, vender ou transferir qualquer elemento de sua conta”.  

 

A Meta afirma ainda que direciona recursos significativos ao combater abuso em suas plataformas e, quando detectados, consideram todas as opções aplicáveis, incluindo a suspensão e a remoção das contas. Em alguns casos, tomam medidas legais contra os responsáveis.

 

Falta de transparência com compra de seguidores pode prejudicar influenciadores no Instagram
Falta de transparência com compra de seguidores pode prejudicar influenciadores no Instagram
Foto: Claudio Schwarz / Unsplash

 

Credibilidade "express"

 

Estamos vivendo em uma sociedade ávida por transparência, defende Patrícia Peck, advogada especialista em direito digital. “Não é aceitável a distorção da realidade, ou seja, a fabricação de uma realidade falsa. Dessa forma, qualquer pessoa pode adquirir fama e relevância”, diz.

 

Para a advogada, um perfil que compra muitos seguidores passa a ter poder de manipulação da credibilidade, o que afeta a ética e a transparência das redes sociais. “Será que teríamos a mesma opinião se soubéssemos quantas curtidas são espontâneas e as compradas? Será que afetaria a opinião pública? Não podemos legalizar a enganação.”

 

Elizabeth Saad, professora titular da ECA-USP e coordenadora do grupo de Pesquisa COM+, também alerta para a importância da transparência nas redes. “As fazendas de cliques vendem não somente para influenciadores, mas para agências e até para marcas. Todos, portanto, precisam rever suas estratégias para a preservação da credibilidade.” 

 

Mais qualidade, menos quantidade

 

Para Saad, o fato de seguir um influenciador na rede com um número grande de seguidores não faz diferença: “O que importa é a empatia, o sentimento de pertencimento ao volume gigante de seguidores. A grande maioria nem lê o post, porque está encantada pelo personagem”.  

 

Outro ponto relevante destacado pela professora é que as marcas seduzidas pelo volume de seguidores nem sempre avaliam a importância de conectar o perfil do influenciador com o produto. “Contratam celebridades que claramente não têm esse alinhamento, mas focam na sua potência incontestável de audiência.” 

 

Edgar Rebouças, coordenador de Pesquisa da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), afirma que não há nada de novo no tema. “Na década de 70, o pesquisador canadense Dallas Smyhte escreveu um texto fundamental sobre a audiência como mercadoria, contribuindo para a construção de uma economia política das comunicações”, argumenta.

 

Rebouças destaca que o objetivo de qualquer comunicador é atrair audiência para captar negócios como patrocinadores e anunciantes. “Os produtos são iscas para vender audiência. É o que acontece nas redes sociais na estratégia dos influenciadores. E quanto mais qualificada for, mais cara.”

 

Há uma luz no fim do túnel, apostam os especialistas. Segundo eles, o atual quadro pode sofrer uma virada com a aprovação da Lei das Fake News pelo Congresso Nacional, que prevê inibir o funcionamento de contas inautênticas nas redes. Mas, eles avisam, as discussões em torno da ética e da credibilidade nas redes sociais para a criação de uma nova cultura estão apenas começando.

 

 

Nossas notícias em primeira mão para você! Link do grupo MIDIA HOJE: WHATSAPP



Comente esta notícia