Em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem corrido contra o tempo para conquistar mais votos e garantir a reeleição ao Palácio do Planalto. Caso a missão falhe, no entanto, o bolsonarismo deve ter, ainda assim, um papel de protagonismo na oposição a partir do ano que vem, segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles.
Os mais recentes levantamentos de intenção de voto para o primeiro turno mostram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na dianteira da disputa presidencial. De acordo com o Datafolha, o petista tem 48% dos votos e Bolsonaro, 34%. Com percentuais parecidos, o Ipec aponta que Lula tem 48%, contra 31% do atual presidente.
Embora as pesquisas indiquem uma possível vitória do petista, a atuação política do bolsonarismo deve seguir forte, ainda que sem Bolsonaro no comando da Presidência. Nesta semana, o candidato do PT ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que vai ganhar de Jair Bolsonaro nas eleições deste ano, mas que o bolsonarismo seguirá existindo. Segundo ele, é necessário derrotar o movimento “no debate político” e na “discussão sadia”. “Nós vamos ganhar do Bolsonaro, mas o bolsonarismo vai continuar existindo. E nós precisamos derrotá-los”, disse Lula.
Segundo o cientista político André Rosa, o protagonismo do bolsonarismo deve se manter em função da grande possibilidade da taxa de reeleição dentro do Congresso Nacional, além da eleição de aliados de Bolsonaro para os cargos de governadores, por exemplo. Para ele, o grupo de extrema direita “já faz parte do leque da política brasileira e vai seguir fazendo barulho, em especial nas redes sociais”.
Levantamentos recentes feitos pelo Metrópoles mostram que a rivalidade entre Lula e Bolsonaro pelo comando do Palácio do Planalto tem reverberado nas disputas para o Senado Federal e para os governos estaduais.
Candidatos bolsonaristas e nomes associados ao petista que disputam o Senado lideram em, pelo menos, 18 das 27 unidades da Federação, de acordo com pesquisas de intenção de voto – sendo nove candidatos ligados a Bolsonaro, e nove a Lula.
Já nas corridas estaduais, nomes ligados aos dois candidatos à Presidência lideram em 22 estados. O cenário, no entanto, é mais favorável a Bolsonaro, que tem 13 aliados disputando as corridas estaduais. Lula, por sua vez, tem nove candidatos. Apesar de não estarem liderando as intenções de voto, candidatos de Bolsonaro aos governos estaduais têm crescido nas pesquisas. É o caso de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tenta o governo de São Paulo, aliado próximo do presidente e que tem grande apoio do bolsonarismo.
“O Brasil vai ter a banda bolsonarista – seja em governos estaduais, seja no Senado, seja na Câmara dos Deputados, etc. O bolsonarismo pode continuar existindo com outros rostos. É o que eu chamaria de bolsonarismo sem Bolsonaro [estando em um cargo político]”, diz André Rosa.
Para o professor e cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o lugar de maior articulação do bolsonarismo será a Câmara dos Deputados. Ele cita como exemplo as prováveis reeleições de nomes como Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Carla Zambelli (PL-SP), que compõem a base radical do grupo de extrema direita.
“A capacidade que o bolsonarismo vai ter de fazer oposição ao governo Lula é muito grande. Até porque quando o Lula perdeu as eleições em 1989, 1994 e 1998, ele não tinha cargo. A grande vitrine do PT para continuar estimulando um petismo que estava ali em formação, era a atuação do partido na Câmara dos Deputados. Então esses bolsonaristas mais radicais, que provavelmente serão reeleitos, de alguma forma vão ajudar o Bolsonaro a manter vivo o movimento”, explica Casarões.
Bolsonaro deve seguir no debate público
Segundo Guilherme Casarões, para que o bolsonarismo continue em evidência em um cenário em que o atual presidente não seja reeleito, nomes já conhecidos do grupo de extrema direita não bastarão para manter a força do movimento. O cientista político diz que, além disso, Bolsonaro terá de estimular sua base de forma contínua. Para isso, terá de seguir na vida pública, ainda que sem cargo político.
O especialista cita como exemplo o caso do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump que, após ter deixado o comando da Casa Branca, em 2021, passou a ter um calendário de eventos com acenos à sua base.
“Para o bolsonarismo continuar existindo como um movimento relativamente unificado, ele precisa de Bolsonaro estimulando esse grupo o tempo inteiro. Num cenário em que ele [Bolsonaro] vire o principal nome da oposição, mesmo não tendo cargo, ele deve conseguir organizar esse misto de estratégia digital e estratégia de rua para manter o movimento vivo”, comenta.
Há algumas semanas, o candidato à reeleição disse que, caso perca a disputa, passará a faixa presidencial ao vencedor do pleito e se recolherá da vida política. Para Casarões, no entanto, “é muito provável que Bolsonaro continue ativamente no debate público” mesmo derrotado, assim como Lula, Marina Silva e Ciro Gomes (PDT) quando perderam as eleições.
“É claro que um candidato sem recursos políticos, não tendo cargo, vai ter mais dificuldade, mas ele não está fora do jogo político. Eu não vejo porquê presumir que caso Bolsonaro perca nas eleições deste ano, vai ser o fim da vida política dele. Mariana Silva sobreviveu sem cargo entre duas eleições, Ciro Gomes foi assim, o próprio Lula foi assim”, explica o cientista político.
PL pragmático e Lula
Apesar das estratégias que podem ser usadas para manter o bolsonarismo em evidência, especialistas ouvidos pelo Metrópoles alertam para o pragmatismo do Partido Liberal, que é uma sigla do Centrão. Em um eventual governo Lula, há chance de que políticos eleitos pela sigla componham uma base para o petista.
“O PL tem por característica fazer parte de todos os governos — Lula, Temer e agora Bolsonaro, por exemplo. Há, inclusive, uma chance de racha, como aconteceu com o PSL, em 2020. A história do PL é uma história de governismo”, observa o cientista político Marco Teixeira.
Guilherme Casarões, por outro lado, diz que existem políticos pragmáticos, mas que a influência de Bolsonaro para viabilizar a eleição de deputados federais vai fortalecer os laços do bolsonarismo.
“Governadores, por exemplo, podem ser mais pragmáticos ao lidar com certas questões e podem até conciliar com Lula, mas a bancada federal bolsonarista não tem razão nenhuma para compactuar com o governo. Eu acho que a grande resistência ideológica do bolsonarismo vai estar na Câmara dos Deputados”, explica o cientista político.
Segundo ele, outra estratégia do grupo de extrema direita é ocupar as assembleias legislativas do país com candidatos aliados.
“Mesmo que o Bolsonaro não tenha uma agenda tão ativa e não consiga estar ali estimulando a sua militância o tempo inteiro, existe uma certa resistência política em defesa dele, estabelecida nos estados, seja via governador, seja via Assembleia Legislativa”, pontua.
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