Bem antigamente, pitorescos aconteciam com fatos e pessoas distantes. Hoje cometi um pitoresco, enviando uma mensagem que era para ser arquivada.
Na Cuiabá antiga, quem escrevia era cuidadoso ao enviar as suas mensagens. Dificilmente erravam nos seus encaminhamentos via Correios. Hoje, com o computador a margem de erros aumentou.
Bem antigamente, as mensagens eram trazidas por pessoas de confiança, montadas a cavalo. A notícia da Retomada de Corumbá chegou a Cuiabá após dois meses. A Independência do Brasil, Libertação dos Escravos e Proclamação da República, demorou anos para chegar aqui.
Na Cuiabá antiga, Rondon saiu daqui até Manaus e voltou a pé com a sua tropa para instalar os postes de madeira de lei das linhas telegráficas. Depois, foi ao Rio de Janeiro (dois meses) pelo rio Cuiabá, Paraguai e Oceano Atlântico, da Bacia do Prata até o Rio. Hoje, o percurso Cuiabá-Rio de Janeiro, é feito em duas horas num jatinho executivo.
Bem antigamente, brincava-se com as coisas pitorescas. Era divertido e ninguém se sentia ofendido ou humilhado. Hoje, tudo acaba no BO (boletim de ocorrência) da Delegacia de Polícia mais próxima.
Na Cuiabá antiga, as brincadeiras se iniciavam no cais do Porto, quando o passageiro chegava. Todos conhecem a história do turista que ao desembarcar ganhou o apelido de “Pedra Canga” do menino carregador da sua mala. Ele, quando criança, fora acometido de varíola e tinha o rosto todo cheia de cicatrizes dessa doença que produzia pústulas de pus, ficando o rosto parecido a uma pedra canga. Hoje, isso é crime e tudo ficou mais triste.
Bem antigamente, as pessoas eram mais alegres e tinham mais tempo para namorar. Daí as famílias numerosas, com filhos que nasciam em casa, e todos eram chamados e conhecidos pelos apelidos. Hoje, as famílias têm no máximo dois filhos, que nascem em hospitais e não têm apelidos, pois podem comprometer a evolução da sua personalidade, gerando a baixa estima.
Na Cuiabá antiga, as crianças dormiam todas em camas nas salas das casas. Os pais, muitas vezes nas redes. Hoje, os apartamentos são construídos no máximo com três quartos. Um do casal e outros dois um para cada filho.
Bem antigamente, embora a população de Cuiabá fosse pequena, o que não faltava eram as festas. Comemorava-se o nascimento de príncipes, aniversários de reis e rainhas de Portugal. Também quando falecia algum soberano português, havia luto muito demorado nas celebrações. Hoje, as festas de Cuiabá são em clubes, boates, bares, sempre animados por cantores sertanejos de Goiás, tão admirados pelos novos donos do poder econômico e político, do Estado.
Na Cuiabá antiga, o ritual da comemoração do falecido, iniciava no velório na sala principal da sua residência, oportunidade em que as mulheres desfilavam com as suas melhores roupas importadas da Europa. Os homens trajavam roupas escuras. Hoje, morre-se pela manhã e é enterrado, logo após o almoço sem vela ou choro.
Bem antigamente, foi grandiosa a inauguração da Santa Casa, com a presença do governador da Capitania, o capitão-general Magessi, em 1817. Hoje, não existe mais a Santa Casa e sim o Hospital Metropolitano de Cuiabá, que é do Estado, inaugurado com festanças pelo governador Mauro Mendes e o Ministro da Saúde, Mandeta.
Na Cuiabá antiga, a parte central enorme, já elevada à categoria de cidade (1818) tinha uma população que não atingia vinte mil habitantes. Era composta de proprietários rurais e urbanos, comerciantes, chefes militares, funcionários públicos, e o clero. Hoje Cuiabá, possui mais de seiscentos mil habitantes, inúmeros funcionários públicos e residência do pessoal do agronegócio em imensas áreas com pista para jatinhos no quintal.
Bem antigamente, Cuiabá recebia escravos negros. Iam direto para as Minas de Diamantino. Hoje, Cuiabá recebe escravas brancas de olhos azuis, do sul do Brasil. Vão direto para os hotéis de luxo.
Na Cuiabá antiga, escravos vinham de fora. Hoje, encontra-se em bares, boates, motéis, clubes fechados e até universidades. Bordeis, não existem mais.
*Gabriel Novis Neves
https://bar-do-bugre.blogspot.com
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