Ricardo Stuckert/PR
Centenas de milhares de fiéis e líderes mundiais lotaram a Praça de São Pedro neste sábado para o funeral do Papa Francisco, o primeiro líder latino-americano da Igreja Católica. Alguns fiéis passaram a noite na praça para garantir um lugar na cerimônia, com o Vaticano relatando cerca de 250 mil pessoas na praça e nas ruas ao redor durante o evento. A cerimônia durou uma hora e meia e contou com a participação de 224 cardeais e 750 bispos e padres. Depois da missa, o corpo do Pontífice saiu em cortejo no papamóvel pelas ruas de Roma para enfim ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, como ele pedira em testamento.
No início da manhã, o público presente na Praça de São Pedro acompanhou com aplausos e gritos a saída do caixão da basílica de mesmo nome. Minutos antes, seus sinos tocaram para os mortos. Nos três dias anteriores, reservados ao velório, 250 mil pessoas prestaram homenagens ao Pontífice argentino, algumas esperando até altas horas da madrugada.
Neste sábado, as lojas pararam de receber clientes, e todos, fiéis, turistas e lojistas se viraram para o centro da praça, onde acontecia a celebração, ou para os telões e televisões que a retransmitiam. Muitos jovens, gente de muitas nacionalidades enrolada em bandeiras do mundo todo e padres ficaram nas pontas dos pés para tentar assistir da melhor maneira possível o momento histórico.
"As demonstrações de afeto que testemunhamos nos últimos dias após sua passagem desta terra para a eternidade nos dizem quanto o pontificado do papa Francisco tocou mentes e corações", afirmou o cardeal italiano Giovanni Battista Re, que fez a homilia.
Segundo analistas, a cerimônia teve um tom político ao mencionar os imigrantes e pedir que líderes mundiais "construam pontes, não muros".
O evento também ficou marcado por encontro entre líderes globais, entre eles o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — incluindo uma reunião informal entre Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, dentro da Basília de São Pedro.
Francisco fez uma série de modificações no funeral para que o evento se assemelhasse mais ao "enterro de um bispo diocesano do que de um imperador romano".
Antes de morrer, o pontífice pediu para ser enterrado na Basílica de Santa Mariai Maior.
Com isso, ele se tornou o primeiro papa desde Leão 12, que morreu em 1903, a ser sepultado fora do Vaticano.
Como foi a cerimônia
Por volta das 9 horas da manhã no horário de Roma (4h no horário de Brasília), o caixão do papa Francisco foi retirado da Basílica de São Pedro.
Os restos mortais do pontífice ficaram no local por quatro dias, período em que milhares de fieis tiveram a oportunidade de prestar suas últimas homenagens.
O cortejo foi seguido por cardeais, bispos e outros representantes do clero e terminou quando o caixão foi colocado na Praça de São Pedro.
O funeral foi conduzido pelo decano do Colégio Cardinalício, o cardeal Giovanni Battista Re.
O italiano de 91 anos foi ordenado pela Diocese de Brescia em 1957.
Em 2001, o papa João Paulo 2º o proclamou cardeal.
Ele foi eleito decano do Colégio Cardinalício em 2020 — e o papa Francisco estendeu o mandato de Battista Re em fevereiro deste ano.
Ele participou do conclave de abril de 2005, que elegeu o papa Bento 16, e do conclave de março de 2013, que elegeu o papa Francisco.
O cardeal Giovanni Battista Re prestou homenagem à "liderança pastoral" do Papa Francisco, que, segundo ele, foi mantida "por meio de sua personalidade resoluta".
"Ele estabeleceu contato direto com as pessoas e os povos, desejoso de estar próximo de todos, com uma atenção especial aos que se encontravam em dificuldade, doando-se sem medida, especialmente aos marginalizados, aos últimos entre nós", disse o cardeal.
"Ele foi um papa entre o povo, de coração aberto a todos. Foi também um papa atento aos sinais dos tempos."
Líderes mundiais em peso
Cerca de 50 chefes de Estado participaram da cerimônia na Praça de São Pedro.
Entre os presentes estiveram, além de Lula da Silva (PT), Zelensky e Trump, o presidente da Argentina, Javier Milei; Emmanuel Macron, da França; Olaf Scholz, da Alemanha, e Giorgia Meloni, da Itália, também estão entre os que acompanharam a cerimônia. O príncepe William também participou da cerimônia de despedida ao papa Francisco.

Crédito,Getty Images / O príncipe William representou o rei Charles 3° no funeral do papa Francisco
Segundo repórteres da BBC no local, aplausos espontâneos explodiram entre a multidão quando Zelensky desceu os degraus da Basílica de São Pedro para tomar sua posição para a cerimônia.
Zelensky ainda se encontrou com Trump antes do culto numa reunião improvisada dentro da basílica.
Segundo a Casa Branca, os dois líderes tiveram uma "discussão muito produtiva".
Esta é a primeira vez que os dois líderes se encontram desde a controversa reunião no Salão Oval, no final de fevereiro, quando Zelensky foi acusado de não mostrar gratidão pela ajuda americana à Ucrânia.
Ainda nesta semana, Trump disse que Zelensky "não tinha cartas na manga" em um acordo de paz com a Rússia.

Crédito,Andriy Yermak/Telegram / Zelensky e Trump se encontraram antes do culto numa reunião improvisada dentro da Basílica de São Pedro
Homilia 'cheia de cores' e com 'tom político'
Segundo Sarah Rainsford, correspondente da BBC, a homilia foi "cheia de cores" sobre a vida de Francisco.
Ainda segundo ela, em alguns momentos o discurso pareceu político, "especialmente considerando quem está na multidão".
O cardeal Giovanni Battista Re, que conduz a cerimônia, falou sobre os apelos do papa Francisco para "construir pontes, não muros" — e sua compaixão pelos migrantes.
O tema da imigração gerou certa tensão com Donald Trump no passado — com Francisco chamando a expulsão de imigrantes sem documentos dos EUA de "uma vergonha".
Segundo Sarah Rainsford, a homilia foi acompanhada por momentos de aplausos entre a multidão.
A menção à primeira viagem do papa ao exterior, quando ele se encontrou com refugiados na ilha italiana de Lampedusa, foi recebida pelo público com palmas.
Procissão para o descanso final
No final da cerimônia, o cardeal Giovanni Battista Re abençoou o caixão do papa com água benta, antes de queimar incenso em um turíbulo — um símbolo de purificação.
Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram três vezes — pontualmente ao meio-dia, horário local — após a bênção do caixão.
Segundo Laura Gozzi, repórter da BBC na Praça de São Pedro, o silêncio neste momento foi total, exceto por um helicóptero que sobrevoava a região.
Na sequência, os carregadores levantaram o caixão do papa para ser levado em procissão até a Basílica de Santa Maria Maior.
Francisco é o primeiro papa em mais de um século a não ser sepultado no Vaticano, na cripta da Basílica de São Pedro.
Ele escolheu ser sepultado na igreja em Roma, perto de sua imagem favorita da Virgem Maria.
Ele também pediu para ser sepultado em um caixão simples de madeira, ao contrário de seus antecessores, que foram enterrados nos tradicionais caixões de três compartimentos, feitos de cipreste, chumbo e carvalho.
O caixão do papa Francisco foi transportado do Vaticano para a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, local de seu sepultamento.
O transporte aconteceu em um papamóvel adaptado.
Após o funeral, a Igreja Católica escolherá um novo líder com a realização de conclave. Entre os cotados, estão cardeais de diferentes matizes ideológicas.
Francisco foi um 'Papa do povo'
Coube ao cardeal Decano Giovanni Battista Re celebrar a homilia fúnebre. O decano do Colégio dos Cardeais lembrou que o Papa fez "incontáveis" esforços a favor dos mais vulneráveis. Com Trump sentado a poucos metros de distância, o cardeal relembrou a viagem do falecido Papa à fronteira entre o México e os Estados Unidos, um de seus muitos "gestos e exortações em favor dos refugiados e deslocados", quando Francisco falou da necessidade de "construir pontes, não muros".
— Ele foi um Papa do povo, com o coração aberto a todos — disse, ao lado do caixão de Francisco, na escadaria da Praça de São Pedro. — Ele também foi um Papa atento aos sinais do tempo e ao que o Espírito Santo estava despertando na Igreja.
O cardeal Re, de 91 anos, destacou a abordagem pastoral inclusiva de Francisco e seu estilo humilde e pacifista. O Papa "elevou incessantemente sua voz, implorando pela paz e convidando à razão e à negociação para encontrar possíveis soluções" para as guerras, disse ele, para quem o falecido Papa "compartilhava verdadeiramente as ansiedades, os sofrimentos e as esperanças deste tempo de globalização".
Além dos apelos pelo fim das guerras, o decano relembrou marcos de Francisco na Igreja, como sua proteção ao meio ambiente e seu trabalho de reaproximação entre as religiões. Re disse que a imagem duradoura de Francisco seria a do Domingo de Páscoa, na véspera de sua morte, quando, apesar de estar visivelmente doente, o Papa apareceu numa sacada com vista para a Praça de São Pedro para proferir sua bênção e, em seguida, saudou a multidão nas ruas, a bordo do papamóvel.
As autoridades italianas e do Vaticano montaram uma grande operação de segurança para a cerimônia, com caças em prontidão e atiradores posicionados nos telhados ao redor da pequena cidade-estado. Mas, após o toque das campanas de São Pedro, a multidão se manteve em grande parte silenciosa, assistindo aos procedimentos nos telões espalhados pela praça.
*Via BBC/G1
Confira santa missa das exéquias do Papa Francisco, via Vaticano News:
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