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geral Sexta-feira, 08 de Julho de 2022, 07:00 - A | A

Sexta-feira, 08 de Julho de 2022, 07h:00 - A | A

ENVENENOU ENTEADOS

Envenenados pela madrasta: polícia vai investigar médica por falso testemunho

Extra

Reprodução

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Madrasta desejou boa recuperação a enteada quando jovem estava internada.

 

O fim da investigação de uma trama que envolveu morte, ciúmes, envenenamento e mentiras. A Polícia Civil concluiu na quinta-feira os inquéritos que investigam o homicídio de Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, e a tentativa de homicídio do irmão dela, Bruno Carvalho Cabral, de 16 anos. Além de anunciar que a médica Maria Cecília Gonçalves, do Hospital Albert Schweitzer, será investigada por falso testemunho, o delegado destacou os principais pontos para a conclusão das investigações, como o depoimento dos próprios filhos de Cíntia.

 

 

De acordo com o delegado, Os depoimentos dos filhos de Cíntia, Lucas e Carla, também foram fundamentais para a conclusão das investigações. À polícia, Lucas disse que a mãe confessou ter envenenado Bruno e Fernanda por não querer dividir a atenção de Adeílson Cabral, seu marido, com os enteados.

 

— Foi um depoimento formal contra a própria mãe por não tolerar um crime tão hediondo — disse, lembrando que possíveis mortes de um ex-namorado e um ex-vizinho de Cíntia estão sendo investigadas. — É um crime tenebroso. Nunca tinha visto alguém vir a público pedir justiça por um crime praticado pela própria mãe.

 

Cíntia Mariano Dias Cabral e conversa dela com o irmão
Cíntia Mariano Dias Cabral e conversa dela com o irmão Foto: Reprodução

 

O delegado explicou que o trabalho foi feito com base em três pilares: depoimentos colhidos, provas técnicas, como análise de prontuários e laudos dos exames, e a análise do celular da autora. Durante os inquéritos, os relatos do comportamento estranho de Cíntia foi o que mais chamou a atenção dos investigadores.

 

— A postura da indiciada de recolher o prato de Bruno depois que ele reclamou do gosto muito amargo do feijão é muito relevante. Como passar despercebido? Quem na hora não tomaria o prato da mesa e jogaria tudo fora? Eu mesmo já fiz isso na minha casa — ressaltou o delegado. — Para quê apagar a luz da cozinha?

 

Outro ponto que chamou atenção dos envolvidos na investigação foi o lugar em que o veneno contra pulga apreendido na casa de Cíntia estava armazenado.

 

— Fizemos a busca e encontramos um frasco de veneno de pulga numa prateleira embaixo do cooktop. Quem guarda veneno de pulga numa prateleira junto ao fogão, na cozinha? Como não suspeitar disso? — questionou.

 

Em relação ao atendimento médico recebido por Fernanda no hospital Albert Schweitzer, o delegado foi enfático em dizer que não há qualquer suspeita de erro médico ou de diagnóstico, que o prontuário da jovem — também analisado nas investigações — indicava intoxicação exógena e que ela foi tratada como tal.

 

A morte teria sido não por falta de um tratamento correto, mas pela quantidade de veneno ingerida.

 

Em nota, a direção do Hospital Municipal Albert Schweitzer diz está à disposição para prestar todas as informações que possam contribuir com a investigação.

 

— De perfil ciumento e possessivo, quando foi abandonada pelo companheiro, Cíntia simulou suicídio e foi para o mesmo hospital que Fernanda dizendo que tinha ingerido chumbinho, mas não há qualquer menção à suspeita de intoxicação nos prontuários — disse o delegado.

 

Durante a investigação, uma perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) no celular de Cíntia mostrou que ela pesquisou na internet sobre “como apagar mensagens de WhatsApp”, na tarde de 27 de abril. O relatório, obtido com exclusividade pelo EXTRA, aponta, nas conversas no aplicativo, haver diversas demonstrações de preocupação e medo dos filhos dela com o comportamento da mãe.

 

“Wesley, Bruno veio almoçar aqui e foi envenenado. Uma desgraça está acontecendo aqui”, escreveu Cíntia ao irmão, às 12h03 de 16 de maio, no dia seguinte do estudante ter sido internado no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. “Mas, como assim? Se ele comeu aí. Onde ele está?”, pergunta o homem.

 

 
Conversa no celular apreendido pela polícia
Conversa no celular apreendido pela polícia Foto: Reprodução

 

Em outra conversa, a filha de Cíntia, Carla Mariano Rodrigues, pergunta: “Mãe, você lembra tudo que passamos na separação de vocês? Como a gente não vai desconfiar de você?”. Ela, então, responde: “Não, Cá, fiz isso, isso foi seu pai que gralhou. Eu só busquei lá, não levei”. Entre as mensagens, diversos textos foram apagados do celular e não foram recuperados pelo software israelenese Cellebrite.

 

Em outro diálogo, uma amiga da família escreve a Cíntia: “Cheguei na delegacia, Bruninho tá no CTI igual Fernanda, mesmas coisas, só que ele chegou a ver e contar para tia Jane. Viu coisas azuis no feijão, veneno, disse que a madrasta na hora ficou nervosa, começou a pegar o prato dele, trocar, apagar a luz da cozinha, porque ele sentiu o gosto. Agora, tá no Albert”. Na sequência, ela encaminhou um print dessa mensagem a seu outro filho biológico, Lucas Mariano Rodrigues.

 

Conversa no celular apreendido pela polícia
Conversa no celular apreendido pela polícia Foto: Reprodução

 

Cíntia então escreve algo que apaga logo depois, e Lucas responde: “Mãe, você tá me acusando, você tá vendo as coisas que tá fazendo? Eu sou seu filho, cara. Pelo amor de Deus! Assuma suas responsabilidades. Eu tô ficando com vergonha de te olhar. Eu pedi para você me contar a verdade, cara, você tá acusando as pessoas por coisas que você fez. Acabou, mãe. Acabou. Por favor! Não faça isso. Assuma o que você fez. Eu não tô aguentando isso tudo. Eu tô passando mal. Por favor”.

 

Na última terça-feira, o laudo complementar de necropsia realizado no cadáver exumado de Fernanda atestou que a causa de sua morte foi intoxicação exógena, provocada por ação química por envenenamento. O documento do Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto (IMLAP), demonstra que, embora o exame toxicológico não tenha sido capaz de identificar substâncias tóxicas, a análise de prontuário médico do Hospital Municipal Albert Schweitzer, onde a jovem ficou internada por 12 dias, atesta que eliminação do organismo de carbamato, inseticida comumente chamado de chumbinho, é rápida.

 

Conversa no celular apreendido pela polícia
Conversa no celular apreendido pela polícia Foto: Reprodução

 

Já laudo de exame complementar de pesquisa indeterminada de substância tóxica em amostra biológica apresentou evidências da presença dos compostos carbofurano e terbufós no material gástrico de Bruno. O documento, produzido com base em análise realizada no Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec) da Universidade Federal do Rio (UFRJ) atesta que os pesticidas estavam em quatro grânulos esféricos diminutos, de colocação azul escura, no organismo do estudante.

 

O laudo complementar de exame de corpo de delito de lesão corporal feito a partir da análise do material gástrico de Bruno já mostrava que o estudante havia sido vítima de uma “ação química, envenenamento por carbamatos” — compostos orgânicos utilizados como inseticida.

 

Nesse documento, o perito Gustavo Figueira Rodrigues havia explicado que o exame laboratorial revelou a presença dos grânulos no organismo de Bruno — “forma de apresentação de raticida ampla e clandestinamente comercializado e conhecido como chumbinho”. A análise química do material em questão, entretanto, não revelou a presença de substâncias tóxicas: “Os carbamatos possuem meia vida curta, e considera-se que, em 24 horas, 90% da dose ingerida é eliminada pela urina”, escreveu.

 

Conversa no celular apreendido pela polícia
Conversa no celular apreendido pela polícia Foto: Reprodução

 

Por meio de seus advogados, Cíntia nega que tenha cometido o crime. “Os laudos periciais são atécnicos e extremamente parciais. Com uma simples leitura, percebemos que não foi detectado nenhuma substância tóxica, o que estão fazendo é um malabarismo pericial para buscar algo que não existe, realizando uma espécie de achismo, onde, no último laudo pericial, acessaram o prontuário e afirmaram que, devido aos sintomas, ela foi envenenada. Ocorre que os médicos que a atenderam foram categóricos em afirmar que ela não apresentava sintomas de envenenamento. Ressaltamos que o exame toxicológico da exumação do corpo da Fernanda, foi negativo para qualquer substância tóxica”, disseram, em nota, os criminalistas Carlos Augusto dos Santos e Raphael Souza.

 

"No decorrer da instrução criminal tudo isso será analisado e com as devidas representações contra os peritos para apuração das falhas técnicas”, afirmaram os advogados.

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