Quem tinha R$ 1 mil reais em ações da Americanas (AMER3) no início de quinta-feira (12) vai dormir com menos de R$ 96. Os papéis perderam 76% do seu valor em apenas poucas horas de negociação.
A Bolsa bem que tentou segurar, suspendendo as negociações das ações por boa parte do dia, para acalmar os ânimos, mas a queda brutal no preço vai entrar para a história do mercado de capitais brasileiro, num mau sentido.
Tudo começou na noite de quarta-feira (11), quando a empresa emitiu um comunicado ao mercado, afirmando que fora detectado um rombo estimado em R$ 20 bilhões em suas contas.
E R$ 20 bilhões não desapareceram da noite para o dia. A empresa afirmou serem inconsistência em lançamentos ao longo de anos. Se não bastasse a cifra bilionária, a informação levou investidores a se questionarem se não há outros "esqueletos no armário", ou seja, erros até então não encontrados.
No mesmo documento, a Americanas anunciou a renúncia de Sergio Rial ao cargo de CEO e de André Covre à posição de CFO e Diretor de Relações com Investidores. Os executivos estavam há 9 dias no cargo.
Assim, o mercado amanheceu em polvorosa nesta quinta, com investidores prontos para vender as ações da empresa, com medo de que caiam ainda mais com possíveis novas descobertas.
Erro ou fraude?
O agora ex-CEO, Sergio Rial, fez uma apresentação pública, logo de manhã, antes da abertura do mercado, para tentar acalmar os investidores.
Ele, que também já ocupou o mesmo cargo no Santander Brasil, fez questão de dizer que os R$ 20 bilhões apontados como erro na contabilidade da rede de lojas e e-commerce estão no balanço, mas no lugar errado.
Rial lembrou, por diversas vezes, que passou apenas 9 dias à frente da gestão da empresa e que foi nesse período que notou as falhas na contabilidade.
Em resumo simplificado, haveria, há anos, uma confusão entre o que é dívida bancária e o que é financiamento a fornecedores da companhia, o que muda muito o perfil de risco da empresa. Ele evitou classificar como "fraude".
Rial falou, com todas as letras, porém, que a empresa vai precisar de novas injeções financeiras para sair dessa. E que não serão apenas "alguns milhões".
Com a onda de insegurança, o valor de mercado da Americanas despencou para cerca de R$ 2,6 bilhões. Ou seja, se todas as ações AMER3 fossem vendidas agora, não somariam o valor que está errado no balanço.
Quem paga a conta?
A insegurança dos investidores reflete também na auditoria responsável por aprovar as contas da empresa. Como mostrou reportagem do Monitor do Mercado, os balanços foram aprovados "sem ressalvas" pela PricewaterhouseCoopers, ou PwC.
Entre as maiores do mundo, ela também "deixou passar" em suas auditorias as fraudes e desvios da Petrobras, descobertos na operação 'lava jato'; e a situação insustentável da Evergrande, que colapsou o mercado imobiliário chinês.
Ela é uma das chamadas "Big Four", ou seja, as quatro maiores auditorias do mundo, que são responsáveis por analisar as contas de quase todas as empresas que têm ação em Bolsa. E especialistas afirmam que elas podem ser responsabilizada por prejuízos causados a investidores, se ignoraram problemas nas contas.
Ao Monitor do Mercado, o presidente da Abradin (Associação Brasileira dos Investidores), Aurélio Valporto, disse já estudar medidas cabíveis junto à CVM e ao Ministério Público para apurar a responsabilidade dos auditores, e controladores (atuais e anteriores) no prejuízo que investidores terão.
"A primeira coisa que me chamou a atenção foi a absoluta incompetência dos auditores. Este fato lesa enormemente o patrimônio dos investidores e mina a credibilidade do mercado de capitais nacional", afirma Valporto.
Também ouvidos pelo Monitor do Mercado, advogados especialistas na área de mercado de capitais apontam que a Americanas deve ter um longo e difícil caminho de disputas com seus investidores.
Pedro Almeida, especialista em Contencioso Empresarial e Arbitragem no GVM Advogados, afirma que a responsabilização dos diretores e conselheiros é bem provável neste caso, mas dificilmente será suficiente para cobrir os prejuízos sofridos pelos investidores.
Como a legislação brasileira, ao contrário da estadunidense, não prevê a responsabilidade da própria companhia por danos causados pela sua administração, uma alternativa é pleitear a responsabilização dos auditores independentes, por se tratar de uma questão contábil. "No exterior, existem alguns precedentes que permitem cogitar essa possibilidade”, diz Almeida.
Veja a análise especial de Bo Williams, do PhiCube, sobre as ações AMER3
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