Zilda Aparecida Zompero Pazini é presidente da Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais, a BPW Cuiabá. Empresária de sucesso, empreendedora, naturamente líder, Zilda é casada com Valdomiro Pazini desde os 20 anos, um ex-gerente de banco, com quem teve dois filhos, Tiago e Rodrigo.
Nesta entrevista ao MIDIA HOJE, Zilda Zompero fala da família, dos desafios da mulher empreendedora no Brasil e do amor por Cuiabá. E justifica. "Aqui empreendi, criei meus filhos para a vida, enterrei meus pais, tive neto, ampliei a rede de amigos, me empoderei e venci. Representa, portanto, amor, dedicação, bons negócios, e espaço aberto para uma trajetória honrada".
Relata com orgulho a trajetória da empresa Eletro Fios, que construiu há 26 anos e, hoje, é uma das maiores do setor na Capital. Na empresa, com sede moderna, fez questão de criar um "cantinho cuiabano", uma homenagem singela a Cuiabá e que foi reconhecida nos festejos alusivos aos 300 anos da cidade.
Zilda Zompero revela também uma curiosidade engraçada sobre o seu nome. Ela nasceu em um pequeno sítio que cultivava lavoura de café, no interior do Paraná. Um tempo antes do nascimento a mãe, dona Yolanda, empolgada, escrevera em uma folha de papel vários futuros nomes à ela. Todos personagens de radionovelas, que a mãe adorava. Qualquer um daqueles da lista que o pai, Eleonoro, escolhesse, estaria ótimo! A filha nasce e o pai deixa a roça e vai feliz à cidadezinha registrar a rebenta. Mas no percurso acaba perdendo o tal papel com os nomes. A saída encontrada por ele? Pediu sugestão de nome ao cartorário e a menina, que teria nome de personagem de novela, virou Zilda! A mãe, claro, não gostou da improvisação do pai e passou a chamar a filha de "Tika", tiquinho de gente, já que nascera pequenina demais.
Zilda admite que o episódio a incomodou por muito tempo, mas que ressignificou o seu nome já na fase adulta, como empresária, ao descobrir que o nome Zilda significa vencedora.
Seu pai, talvez sem querer, na simplicidade de pedir ajuda ao cartorário, encontrou sim o nome certo! Era para ser Zilda!
A empresária lidera um movimento que acaba de completar 18 anos de existência na capital e foi criado em Cuiabá pela jornalista e escritora Sueli Batista, hoje presidente da Academia Mato-grossense de Letras (AML). O trabalho lidera, encoraja e estimula o empreendedorismo feminino. As ações sociais também marcam sua atuação, seja como empresária ou realizando campanhas relacionadas à doação de sangue, meio ambiente, plantio de árvores, doação de alimentos, entre várias outras ações.
Mulher decidida, dona de uma das maiores lojas de materiais elétricos do Estado, ela se enche de entusiasmo quando fala do neto nas
redes sociais. "Amor de vó é incrível! Você é meu orgulho e faz meus dias terem verdadeiro sentido", declara Zilda, em uma mensagem ao neto Giuseppe no facebook. "Tenho certeza que você foi um presente que Deus mandou para mim, um anjo enviado para me alegrar. Amo você!", afaga a empresária, em outra mensagem.
E Zilda fala sem rodeios que gosta mesmo de ser avó. Uma mostra clara que o empoderamento da mulher na sociedade permite que ela seja o que quiser, inclusive "vozona presente", se assim desejar!
Acompanhe a entrevista:
Zilda, fale um pouco da sua infância, adolescência... Nasceu onde, quando chegou em Cuiabá?
Nasci em Diamante do Norte, uma pequena cidade do interior do Paraná, num sítio em meio a produção de café. Vivi minha infância de forma simples. Ainda muito criança experimentei minha primeira mudança. No ano de 1969, meu pai decidiu que mudaríamos para uma cidade maior, e com mais condições para os filhos estudarem, Paranavaí.
Meus pais Eleonoro e Yolanda moldaram meus caminhos de adolescente, acreditando na educação como meio transformador. Embora não tenha cursado o que eu sonhava, que era arquitetura, eu na adolescência fiz um curso de desenho arquitetônico.
Através dos estudos, entretanto, o que foi acessível eu abracei, e pude alcançar uma carreira profissional voltada a educação básica, na cadeira de estudos sociais.
Na juventude, fiz o caminho de volta para minha cidade natal, casei-me aos 20 anos e acompanhei meu marido Valdomiro Pazini, gerente de banco, para Diamante do Norte, onde assumiria uma agência bancária. Antes da decisão de vir para Mato Grosso, onde já residiam meus pais e irmãos, na cidade de Tangara da Serra, residi em outras cidades do interior paranaense, acompanhando o esposo. Até que chegamos a Cuiabá, quando ele foi transferido, em 1989. A cidade nos abraçou e se apresentou como um celeiro de oportunidades.
Sua família... Reza a lenda (risos) que Zilda não gostava de se chamar Zilda... conte esta história!
Quanto ao que reza a lenda sobre meu nome (riso), faço uma síntese, eram vários nomes que minha mãe colocou em um papel , devido ser personagens de radionovelas, que minha mãe gostava. 0 meu pai foi me registrar, em uma cidade distante 30 KMs de Diamante do Norte, e perdeu o papel com os nomes, e por sugestão do cartorário colocou meu nome de Zilda.
Ao chegar em casa e dar ciência do fato para minha mãe ela deixou claro que não queria o nome e passou a a me chamar de Tika, devido eu ter nascido fora do peso, muito pequenina. Eu cresci também não gostando do meu nome, devido ter sido recebido de forma negativa. Ocorre que na minha fase adulta , já aqui em Cuiabá, descobri seu significado: a vencedora, e passei a ressignificar.
Como foi o processo de inserção no ramo do empreendedorismo
Em Cuiabá, chegamos eu, meu marido meus filhos crianças, Tiago e Rodrigo, e aqui terminou nossas andanças e iniciou um caminho no ramo empresarial, que completou 26 anos, através da empresa Eletro Fios, no ramo de materiais elétricos, hidráulica e iluminação. Eu e meu marido fomos incentivados pelos meus irmãos Zico e Toninho, cujas expertises foram importantes no início do negócio, em que entraram como sócios, mas logo seguimos somente eu e meu marido, com os próprios passos, erros e acertos na consolidação do empreendimento.
Como é a história do “cantinho cuiabano”, que iniciou-se na empresa e hoje tem até ponto em um shopping de Cuiabá?
O Cantinho Cuiabano foi inserido quando a empresa completou 20 anos, como forma de nós como empreendedores vindo do Paraná manifestar gratidão, carinho e respeito para a cidade e sua gente.
O espaço ajuda a difundir, portanto, parte das tradições do povo cuiabano. Pensamos nos detalhes que tornaram o ambiente mais presente no cotidiano mato-grossense. É um espaço pequeno, mas muito agradável e acolhedor que encanta muitos clientes que visitam o 'showroom' de iluminação da empresa, e não raras as vezes querem se sentar na cadeira de balanço, entre as estampas e as fortes cores da chita e fazer uma leitura, porque existe vários livros de escritores cuiabanos, contando histórias e poesias.
Isso foi reconhecido nos 300 anos da cidade, quando ganhamos um espaço no mais antigo shopping da cidade, o Goiabeiras, para mostrar o cantinho com outras manifestações culturais que fez parte das ações da Secretaria Estratégica dos 300 anos. Fiquei radiante com o resultado, sendo que além da cultura e da história sobre o espaço pioneiro de minha loja, também abrimos nossa janela para a sociedade poder fazer registros fotográficos como se estivessem no cotidiano cuiabano.
E a BPW, como surgiu em sua vida?
Ingressei na Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais - BPW Cuiabá, em 2011, convidada pela minha cunhada Terezinha Sandoval Zompero. Eu admirava muito as gestoras da organização, e me sentia envolvida e inspirada por suas ações, e desejava conhecer um pouco mais da organização. Eu aceitei o convite de ser associada, e passei a compartilhar experiências prósperas no que tange ao empoderamento feminino.
Em 2012 as líderes da BPW Cuiabá viram em mim qualidades para que eu atuasse na diretoria, e abracei um cargo na gestão executiva, como segunda diretora secretária. No ano seguinte, ao ser estruturada a nova gestão da BPW Brasil, a presidente na época, Sueli Batista, sugeriu o meu nome para que a futura presidente, Eunice Cruz, me convidasse para ser a coordenadora do Comitê de Negócios, cargo nacional que passei a ocupar por duas gestões. Quando finalizava a gestão de Mariza Bazo, eu já era uma das vice-presidentes, e muito integrada com as associadas e aos objetivos da organização. Na gestão posterior, eu passei a ser a primeira vice-presidente, ocupando em 2017 a presidência interinamente, por decisão, em eleição por vacância do cargo. No ano de 2018, em nova eleição, fui eleita presidente, e imprimi meu trabalho como o faço na iniciativa privada, com ética, responsabilidade e dedicação. Esta foi minha trajetória e confesso que fiz o percurso surpreendendo a mim mesma.
Quem não conhece a BPW, pode imaginar tratar-se de um grupo elitista de mulheres. Tem fundamento isso?
Posso afirmar que a impressão da BPW ser elitista é realmente uma impressão errada. Vinda de pré-julgamentos devido ao status que tem as mulheres de negócios e profissionais. Trabalhamos dentro de uma missão voltada ao Empoderamento feminino e temos mulheres associadas desde as que atuam como empreendedoras individuais formais até grandes empreendedoras e não excluímos ninguém por porte e posição no mercado.
A BPW está completando 18 anos de vida... qual o balanço desse trabalho? Ações sociais são um marco da entidade. Que ações mais a comovem?
As ações que mais me comovem são as que transformam a vida da sociedade. É gratificante assistirmos vidas transformadas com as nossas ações. E atuamos não só com mulheres que fazem parte do nosso quadro associativo. Há uma preocupação com as que são chefes de família, com as que tem filhos que a impossibilitam de gerar renda e participarem da economia ativa.
Há ações bem variadas, em diversos setores...
O plantio dos ipês foi o resgate do Projeto Árvore é Vida, que é da BPW Brasil e que foi lançado nacionalmente em Cuiabá em 2006, e já foram plantadas 7 milhões de mudas no Brasil e exterior com sua chancela. Na Campanha Doando Vida deste ano, que completou 17 edições, sendo uma grande demonstração de engajamento de nossas associadas, beneficiando o MT Hemocentro, realizada durante um mês de 26 de agosto a 26 de setembro, contou com 2.125 mil doadores de sangue voluntários atendidos e 1.649 bolsas coletadas. Esse número de doadores foi aproximadamente 10% maior do que o registrado na campanha de 2018, quando foram atendidos 1.992 participantes e coletadas 1.472 bolsas de sangue. Imagine só quantas vidas salvamos e isso é gratificante. Outra ação importante foi através da Comissão BPW Jovem, que neste ano realizou duas ações de solidariedade, dentre elas uma junto com a vice-prefeitura, sendo responsável pela doação de mais de 14 mil em produtos lácteos para as mães de crianças vítimas de microcefalia. Não vou me alongar com exemplos mas deixar claro que vamos além do empoderamento feminino, entendendo que estamos empoderando a própria sociedade com ações de cidadania.
O que há por trás (ou à frente) dos movimentos de mulheres no Brasil?
Penso que isso se deve ao fato das mulheres assumirem após sua emancipação, o próprio protagonismo fazendo a diferença, não mostrando conformismo e indo além das suas obrigações legais como empreendedora, atuando voluntariamente, marcando sua trajetória, honrando as lutas de outras mulheres no passado e inspirando no presente pelas causas que abraçam, muitas vezes sem alarde.
Um exemplo é a nossa própria história institucional. Na época da fundação da BPW Cuiabá, não havia nenhum movimento associativo voltado especificamente ao nosso público alvo. E a participação feminina era pouco expressiva nas entidades que defendiam os anseios da classe empresarial e trabalhista. A BPW Cuiabá chegou com propósito, principalmente no sentido de que através da organização as mulheres passariam a ter mais voz e vez nos espaços de decisões. Hoje vemos muitos movimentos similares, mas nossa história em nível internacional tem 100 anos e um legado deixado.
Lei Maria da Penha, feminicídio virou crime qualificado, o que falta para diminuir, acabar com a violência sofrida pela mulher?
Não há dúvida que muitos avanços tivemos para as lutas femininas e a não violência contra as mulheres também estão em nossa pauta. Conseguimos trazer pra importantes espaços de discussões a temática, inclusive trazendo os maiores nomes de Cuiabá na defesa dos direitos da mulher. Acredito que políticas públicas de segurança mais efetivas possam minimizar o problema, principalmente do feminicídio, com a garantia de aplicações de leis mais duras contra agressores. Em 2018, 15.925 mulheres foram assassinadas em situação de violência doméstica no Brasil, conforme Mapa da Violência contra a Mulher. Esse número é 3,8 vezes maior do que os dados usuais das secretarias de Segurança Pública. Então temos que ter dados efetivos para ações efetivas.
Oportunidades... Pesquisas indicam que as mulheres ainda recebem menos que o homem exercendo funções idênticas.
Como mudar isso?
A BPW Cuiabá também faz sua parte neste sentido. Há anos temos realizado uma ampla campanha sugerida pela BPW Internacional “Equal Pay Day”, traduzida no Brasil por "Trabalho Igual, Salário lgual", que neste ano teve um importante desdobramento através da parceria feita pela BPW Cuiabá com a Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso-AL/MT. Atendendo a nossa solicitação o deputado estadual, Max Russi requereu audiência pública, que ocorreu com caráter propositivo, na noite do dia 27 de maio, e super lotou o auditório, mostrando grande interesse da sociedade com o tema. Na oportunidade tivemos representativas vozes do âmbito da justiça, da política e da sociedade civil. Temos feito nossa parte, e se a lei fosse aplicada não haveria o desequilíbrio na balança, que certamente traz prejuízos para o crescimento da mulher no mercado de trabalho, e para a justiça social e econômica. O próprio juiz federal do trabalho do Trabalho da 23ª Região, João Humberto Cesário, um dos que participaram da audiência, legítima isso. Ele apresentou sua sugestão de isenções para empresas para aumentar a empregabilidade para a mulher, e fazer valer o que é constitucional. Ou seja, se atuam fora da lei é preciso punição. Ocorre que há fragilidades no processo de fiscalização das empresas.
Zilda Zompero imagina um dia entrar em um processo político, uma candidatura, quem sabe?
Vim de uma família que teve exitosa experiência política, meu pai chegou a ser candidato a prefeito da minha cidade natal. Ele, entretanto, não deixou o legado para nenhum dos filhos e eu digo com convicção que a política partidária não me encanta e nem me move a me interessar em colocar meu nome numa disputa eleitoral. Não está absolutamente no meu propósito de vida. Gosto de defender os anseios da mulher, preferindo ter um olhar para as políticas públicas e não para a partidária
Representa, portanto, amor, dedicação, bons negócios, e espaço aberto para uma trajetória honrada.
O que significa Cuiabá, Mato Grosso, na vida da líder da BPW?
Cuiabá e Mato Grosso representam hoje minha segunda terra, não menos amada do que minha terra natal. Aqui empreendi, criei meus filhos para a vida, enterrei meus pais, tive neto, ampliei a rede de amigos, me empoderei e venci. Representa, portanto, amor, dedicação, bons negócios, e espaço aberto para uma trajetória honrada.
Qual personagem/liderança mato-grossense você tira o chapéu?
Tiro sem dúvida alguma para Sueli Batista, uma líder inspiradora, inteligente, motivada e de caráter reto. Talvez eu não precise justificar e se preciso for eu diria que ela saiu da periferia de São Paulo, onde viveu um lar de violência doméstica e conquistou vários espaços de poder, vindo formada em jornalismo para Mato Grosso, sendo premiada local, nacional e internacionalmente. Fundou a BPW Cuiabá, a presidiu por duas gestões; foi presidente da BPW Brasil; acompanhou missões internacionais do Sebrae nacional; fez parte da delegação de uma ministra da mulher, representando o Conselho dos Direitos da Mulher, na ONU; teve a maior condecoração que uma mulher pode receber no Senado Federal e recentemente assumiu a presidência da Academia Mato-Grossense de Letras.
Não dá pra terminar sem falar do neto, Zilda!
É um sentimento incomparável, um amor doce e profundo. É voltar no tempo e relembrar os filhos pequenos. Giuseppe é um presente de Deus em nossas vidas.
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