Em Cuiabá, a dançarina Luana Vieira, arregaçou as mangas em plena pandemia e criou um vídeo para “sacudir” não só o corpo, mas também chamar atenção das autoridades locais com relação à valorização da arte e cultura.
O termo coreografia (do grego choreia, “dança”, e graphein, “escrita”), designava, nos séculos XVII e XVIII, um sistema de sinais gráficos que representam os movimentos dos bailarinos. Esse significado foi atribuído à expressão “notação coreográfica”, a partir do século XIX. Coreografia e coreógrafo passaram então a designar, respectivamente, a arte e o profissional da composição de danças.
Em entrevista para o site Mídia Hoje, Luana fala com exclusividade sobre as dificuldades que ela enfrenta durante a pandemia para manter os estudos na Faculdade de Dança, como também cita seu sonho de divulgar e valorizar a arte na capital de Mato Grosso.
Quem é Luana Vieira?
Sou dançarina, tenho 22 anos, cuiabana. Sou apaixonada pela dança e sempre foi um sonho meu fazer faculdade de dança, estudar dança e viver de arte. Em 2017 eu passei para a Faculdade de Dança, no Instituto Federal de Brasília, sendo assim desde 2017 eu moro em Brasília para realizar este meu sonho, que é fazer a faculdade de dança e me formar em dança. A faculdade tem a duração de quatro anos, e infelizmente agora no meu ultimo ano de formação, veio o coronavírus e por questão financeira, eu precisei retornar para Cuiabá, e estou terminando a distancia.
Como e quando a dança surgiu na sua vida?
Bem, a dança sempre esteve muito presente na minha vida. Eu não tenho um marco, uma época, um momento que eu falei: agora eu vou dançar! Eu sempre gostei de dançar, desde muito nova. Sempre participei das apresentações do dia das mães na escola, sempre gostei de estar na frente, sempre gostei de me aparecer. Nunca foi um problema para eu falar para as câmeras, quando novinha eu fazia shows para os meus pais em casa, para eles me assistirem, alias, eu os obrigava (risos), enfim eu não tive oportunidade de fazer aula quando eu era nova. Eu gostaria de ter entrado no balé com cinco anos de idade, mas infelizmente a arte ainda é elitizada, e meus pais não tinham esta condição de bancar uma aula de dança para mim. Então eu entrei em uma aula de dança aos 11 anos, porque eu consegui uma bolsa com uma professora, e depois eu fui para uma escola de dança maior, a Academia Dançart, e que inclusive este ano ela encerrou suas atividades e fechou. Com 13 anos eu fiz meu primeiro espetáculo grande de dança, e desde então eu nunca mais parei. A minha mãe me apóia muito, ela é a pessoa que acredita no meu potencial, e que topa tudo junto comigo, então ela nunca mediu esforços para que eu pudesse fazer cursos fora de Cuiabá. Eu sempre me esforcei muito para correr atrás do meu sonho e nunca tive o “não” como resposta, sempre fui atrás do “sim”, sempre fui muito persistente.
Como surgiu a idéia de fazer a coreografia do ‘Me Gusta” em Cuiabá?
A artista Anitta é uma referência para mim, eu sempre a acompanhei e amo o trabalho dela, sou muito fã. A coreógrafa dela produziu um vídeo com a coreografia oficial com a música “Me Gusta”, e com outras dançarinas, em um ponto turístico do Rio de Janeiro. E a partir disso, outras cidades foram tendo a mesma idéia e fazendo o mesmo vídeo, o mais parecido possível, para mostrar os pontos turísticos das cidades. Então teve vídeo na Bahia e em várias outras cidades. Vendo todo este movimento, em uma conversa descontraída com um amigo meu, imaginei por que não fazer um vídeo aqui em Cuiabá, aproveitando que estou na minha cidade natal? Aqui temos vários artistas e muita gente talentosa, mas infelizmente não temos esta referência de arte. Temos a referência como agronegócio, mas com a arte infelizmente não temos. Assim surgiu a minha grande vontade de mostrar a nossa arte e tentar o reconhecimento através de uma artista que é conhecida mundialmente, e assim mostrar a nossa cidade e os artistas que temos aqui.
Você arregaçou as mangas e produziu um vídeo com seus próprios recursos, ou você contou com algum apoio?
Eu tinha tudo para dar errado (risos). Eu não tinha recursos nenhum. Não tinha quem editasse o vídeo, não tinha drone, e tudo era muito caro. Eu fui fazer os orçamentos e dava R$ 4 mil reais, e eu sem nada. Imagina a loucura?! Fora isso como iria ensaiar os dançarinos, em plena pandemia? Então eu precisava privar a saúde de todos e por isso decidi fazer os ensaios on-lines, pelo instagran, em formato de lives. Até que no momento oportuno, tivemos alguns ensaios presencias, todo mundo de máscara e mantendo o distanciamento. Apenas três ensaios, e todo mundo teve que aprender a coreografia, mesmo a distância. Então não foi nada fácil! Teve alguns perrengues durante o processo, eu consegui parcerias que pudessem me ajudar, mas três dias antes da gravação no dia marcado, o rapaz responsável pela empresa que havíamos feito a parceria inicial, teve o coronavírus e ai ele não pode fazer. Então eu fui atrás de outra pessoa que pudesse fazer a gravação, com parceria, porque eu não teria condições nenhuma de conseguir este recurso pagando, infelizmente. Eu não tive ajuda do governo, e de nenhum orgão da cultura de Mato Grosso, infelizmente é muito desvalorizado a arte aqui. Tanto que não foi a toa que eu precisei sair daqui para viver de arte. Não é fácil. Mas eu penso em me estruturar lá fora e voltar para Cuiabá, e trazer as coisas para cá, porque aqui tem muita gente talentosa. A geração nova que está vindo tem sede por arte, e a gente precisa ter esses projetos para aguçar que os jovens dancem mais, façam teatro, ousem música, toquem e participem de projetos assim.
Minha intenção com o vídeo é que ele faça muito sucesso, e que com esse sucesso a gente consiga mostrar esses talentos que temos aqui em Cuiabá, e mostrar a nossa cidade. Aqui nós temos muita gente talentosa, e precisamos chamar atenção dos órgãos responsáveis da cultura para dar este apoio e este reforço.
Então qual a maior finalidade do vídeo?
Minha intenção com o vídeo é que ele faça muito sucesso, e que com esse sucesso a gente consiga mostrar esses talentos que temos aqui em Cuiabá, e mostrar a nossa cidade. Aqui nós temos muita gente talentosa, e precisamos chamar atenção dos órgãos responsáveis da cultura para dar este apoio e este reforço. Porque é um descaso gigantesco, e para conseguir uma coisinha é muito difícil, muita burocracia. Eu me coloco como uma artista cuiabana, e não temos reconhecimento. Eu posso até estar fazendo este vídeo para mostrar a nossa cidade e os nossos talentos, e no final não ter reconhecimento nenhum dos órgãos responsáveis, mas como eu disse: o não eu já tenho, então estou correndo atrás do sim! Eu não sou de desistir fácil, então eu espero que este vídeo chegue até os “chefões” e eles tomem iniciativas, e vejam que não só do agronegócio vive Cuiabá, mas que aqui tem arte também e que nós artistas precisamos ter reconhecimento, visibilidade e apoio.
Para encerrarmos, seu vídeo já está repercurtindo nas redes sociais, então a quem você gostaria de agradecer?
Gostaria de agradecer todos os envolvidos, em especial a minha mãe, Clarinda da Silva, que como sempre muito prestativa, fez o impossível para que este vídeo acontecesse. E gostaria de estender meus agradecimentos aos editores e dançarinos que toparam essa aventura comigo. Gratidão a todos!
Assista o vídeo na íntegra:
CRÉDITOS
Co-produção: Dejailton-Dédy
Edição: Thai Moreira e Lucas Padilha
Dançarinos:
Aderson Costa
André Monteiro
Brayan Saavedra
Catarina Lana
Coimbra
Dan Close
Hemylle
Isabella Larica
Julyana Pinheiro
Karina Martan
Luana Vieira
Mariana Laura
Nicoly Lopes
Pedro Scarlett
Renan Vinicius
Thais Santos
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