Diminuir a população de jacarés, matando parte dela, pode ser uma das alternativas para o aumento do volume de peixes nos rios que compõem o Pantanal de Mato Grosso. Pelo menos é o que pensam algumas pessoas que participaram de uma audiência púbica realizada nesta terça-feira (22) pela Assembleia Legislativa. Em pauta, a discussão do manejo sustentável de jacarés nos rios e aprovação do projeto "Cota Zero" de pescado, como alternativas para o aumento de peixes no Pantanal. A audiência foi proposta pelo deputado estadual Paulo Araújo (PP).
O parlamentar disse ter saído da audiência convencido que o manejo dos jacarés no pantanal é necessário. “O manejo está embasado em análises feitas por especialistas. De forma técnica, eles apontam que o manejo é viável e não traz prejuízo ao meio ambiente. Isso propicia aumento da economia, com a geração de muitos empregos”, explica Araujo.
A professora de medicina veterinária da UFMT, Cristine Strussmann, disse na audiência que a única forma de saber quantos jacarés existem no pantanal, e se o manejo deve ser feito, é por meio de contagem ou estimativa. Segundo ela, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) fez essa pesquisa no pantanal de, norte a sul, e estimou à época uma população de aproximadamente três milhões de jacarés. "Depois de 19 anos dessa estimativa, a Embrapa não recomenda o manejo porque não há estudo que possa embasar o manejo extensivo sustentável”, disse Strussmann.
Questionada se era favorável ou contrária ao projeto de lei da "Cota Zero", ela disse que se houver um estudo consistente de que jacaré é o responsável pela diminuição de peixes nos rios do Pantanal, “serei a primeira a reconhecer essa proposta. Mas esse estudo não existe. Isso não pode ser feito de boca, não tem embasamento científico. Isso é muito sério.”
O professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rubem Mauro Palma de Moura, afirma que não há nenhuma atividade humana que não seja impactante ao meio ambiente. "O jacaré sofre tanto quanto a gente, que precisa do peixe para se alimentar. Se está diminuindo o peixe para o homem, está diminuindo também para o jacaré. Nos últimos 350 anos, o jacaré viveu em harmonia com outros peixes e com a biodiversidade”, analisa o professor.
O também professor aposentado do curso de Biologia da UFMT, Francisco de Arruda Machado, admite que é preciso uma nova lei para regular a pesca nos rios de Mato Grosso, mas descarta o projeto “Cota Zero”. Segundo ele, quem produz a riqueza dos rios é a natureza, que é o grande produtor, e não os homens. "É a natureza que produz, quando compra um peixe é pago o trabalho de quem vai pescar. Dessa perspectiva é preciso ter o cuidado de não votar um projeto que significa matar uma cultura e principalmente o lazer, que é a pesca difusa realizada nos finais de semana. Muitas vezes, esse peixe é a única proteína animal que vai à mesa, além do ovo que ele pode comprar”, disse Machado.
Ele sugere que o Governo do Estado e o Legislativo façam um grande debate com ictiólogos e as pessoas que conheçam o verdadeiro problema dos rios de Mato Grosso. “O homem veio para ser gerente, mas se mostra um péssimo gerente. Não adianta fazer esses tipos de politicagem, querendo arrumar uma forma de privilegiar um grupo hegemônico que é muito rico. Não concordo com uma lei tacanha como essa”, disse.
Questionado se o jacaré do Pantanal Mato-grossense é um vilão, que foi criado por ignorância ou má-fé, o professor Francisco de Arruda Machado, afirma que não se pode falar do assunto por meio "de achismo". De acordo com ele, o jacaré não come apenas peixes, mas come também uma quantidade enorme de outros animais como cobras, moluscos caranguejos, camarões e mamíferos.
“A partir do primeiro ano de vida, o jacaré só se alimenta de insetos e depois de pequenos peixes. O achismo é uma bobagem; é um criminoso achar que o jacaré é um responsável pela diminuição dos peixes no Pantanal. Tem uma população vigorosa e não uma super população. O jacaré é o termômetro que indica que ainda tem muitos peixes no pantanal. Ele come peixes pequenos e sedentários”, explica Machado.
Ou seja, se o deputado Paulo Araújo está tão convicto assim da necessidade de "remanejar" jacarés, não se percebe o mesmo entusiasmo dos técnicos. A avaliação feita pela professora Cristine Strussmann parece extremamente relevante. Qualquer discussão sobre manejo deve ser precedida por uma contagem da população de jacarés, saindo de qualquer achismo.
Se em 2002 haviam três milhões de jacarés no Pantanal, quantos têm hoje? Essa população está desequibrando o volume de peixe do Pantanal? Sem esses dados, qualquer passo sobre o tema é jogar no escuro.
Seja como for, o deputado Paulo Araújo pode até estar equivocado com a defesa antecipada do manejo, mas está certo em trazer à baila a discussão!
*Com informações da Secom da AL.
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