A igreja Assembleia de Deus, maior segmento evangélico do Estado com mais de 400 mil fiéis espalhados em três mil templos nos 141 municípios do Estado, está literalmente rachada em Cuiabá e região. De um lado o filho do pastor Sebastião Rodrigues de Souza (vítima recente da Covid-19, aos 89 anos), o também pastor Silas Paulo de Souza, que é o responsável pela igreja em Tangará da Serra; de outro, o primeiro-secretário da igreja na região metropolitana, pastor Nelson Barbosa Alves. Mesmo não sendo filho, Nelson era um dos principais assessores do pastor Sebastião, espécie de braço-direito.
O grupo liderado por Silas, que detém maioria na COMADEMAT (Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus do Estado de Mato Grosso), o órgão máximo da igreja no Estado, indicou previamente o seu nome para liderar a igreja na capital. A decisão, porém, precisa ser homologada pela Convenção que reúne pastores, evangelistas, presbíteros e diáconos.
Aí está o cerne da disputa. A celeuma envolve duas situações.
A primeira é que a COMADEMAT, segundo o grupo liderado pelo pastor Nelson, reuniria cerca de 40 mil pessoas com direito a voto em plena pandemia de coronavírus. O grupo entende que o momento seria totalmente inoportuno para tal aglomeração. E que a convenção deveria reunir um número máximo de membros da igreja.
De outro lado, o grupo liderado pelo pastor Silas buscaria, na verdade, reunir um número muito menor, garantindo sua indicação por aclamação. Ou seja, ele aproveitaria a pandemia para ser alçado ao posto número 1 da igreja em Cuiabá, cargo ocupado até recentemente por um irmão seu, pastor Rubens Rodrigues de Souza, número 2 da igreja em Mato Grosso, também filho do pastor Sebastião e também vítima da Covid-19
A disputa foi parar na justiça, que chegou a nomear um administrador provisório da igreja na capital.
Em uma última cartada, a COMADEMAT divulgou neste final de semana uma convocação para que membros da igreja referendem a decisão do Conselho para terça-feira (4). A convocação é assinada pelo administrador nomeado pela justiça, Enézio Barreto Júnior. Ele pede que os membros compareçam usando máscaras e cheguem em horário adequado para higienização das mãos e calçados e aferição da temperatura corporal.
Para o grupo opositor, porém, trata-se de mais uma jogada ilegal. Decreto municipal em vigor não permitiria esse tipo de aglomeração. Informações de bastidores indicam que o grupo de Silas se reúne nesta segunda-feira (4) com o prefeito Emanuel Pinheiro para tentar a anuência da prefeitura na convocação.
"Eles querem uma aclamação, sabem que se os membros da igreja votarem, vão rejeitar a indicação", informa uma fonte da igreja Assembleia de Deus. Pelo estatuto, o indicato teria que com contar com 2/3 dos membros para ser aprovado.
A disputa revela uma guerra travada há anos dentro da igreja Assembleia de Deus. Só que camuflada.
Muitos líderanças da igreja não aceitam o compadrio de poder estabelecido pela família do principal líder da igreja, pastor Sebastião Rodrigues. "Todos respeitavam o pastor Sebastião, por isso o conformismo, mas agora basta, não dá para aceitar isso", diz um membro da igreja.
O clima está tão quente que nas redes sociais corre a notícia de que podem surgir graves denúncias de desvios de conduta e dinheiro por parte do grupo liderado pelo pastor Silas.
Em um grupo de whatsapp de membros da igreja, o vereador cuiabano Abílio Junior, neto do pastor Sebastião e sobrinho do Pastor Silas, condena os debates internos entre os irmãos, e atribui a disputa interna como obra “dos inimigos da igreja”. “A batalha é espiritual e o mundo lá fora está vendo os obreiros brigando entre si e tirando proveito disso, o inimigo da igreja ri disso tudo”, diz trecho da postagem de Abílio.
"Para o vereador e membro da família Rodrigues de Souza, que comanda a Assembleia de Deus há décadas, o regime da igreja é teocrático, emanado por Deus, portanto, não admite contestação", avalia reportagem recente do site Hipernotícias, da capital.
“Sempre que eu falava de organização da igreja com meu avô ele reforçava comigo: ‘na igreja o regime é teocrático, e o Senhor está no controle’. Muitas vezes eu indagava alguma decisão, e ele respondia que a igreja tem dono e o dono desta obra é o Senhor Deus. Se chegamos até aqui, foi porque até aqui o Senhor nos ajudou e daqui pra frente não será diferente (sic)”, escreveu Abílio Junior.
Só precisa combinar isso com os 40 mil fieis com direito a voto na região da capital.
VEJA A CONVOCAÇÃO:
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