Pesquisa de tese de doutorado em Estudos Linguísticos pelo Instituto de Linguagens (IL), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Câmpus Cuiabá, aponta que a violência contra a mulher começa no plano discursivo.
O estudo, intitulado “De Louca a Incompetente: Construções Discursivas em Relação à Ex-Presidente Dilma Rousseff em uma rede social”, é da professora da Faculdade de Engenharia, câmpus Universitário de Várzea Grande, Perla Haydee da Silva.
Para a pesquisa, a professora selecionou um mês de comentários na rede social de um grupo contrário à ex-presidente, o que rendeu 300 páginas, contendo 2.993 comentários. Munida destas informações, ela constatou que poderia filtrar os dados em quatro eixos de observação. De acordo com o teor de cada comentário, os mesmos foram encaixadas em quatro categorias: burra, louca, prostituta e com associação ao nojento.
“Com esse material, pude fazer associações com outros discursos da sociedade, por exemplo, à questão do estereótipo: quando você diz que um homem é vagabundo, isto está indiretamente associado à competência dele, homem que não gosta de trabalhar, que não produz. Agora uma mulher vagabunda, é uma mulher devassa, logo se está falando da moral sexual dela”, analisa.
Nesse sentido, a professora esclarece que um dos principais estereótipos contra as mulheres se refere aos espaços decisórios. No senso comum, o homem é visto como pertencente ao espaço público, de liderança, enquanto a mulher é vista para o espaço privado, do lar. Assim, quando ela rompe este lugar socialmente imposto e alcança o espaço decisório, sua imagem e credibilidade são atacadas.
“Tanto é assim que, aquilo que se fala sobre a Dilma, pode-se perceber que também se fala sobre outras, como Marta Suplicy, Manuela D’Ávila, entre tantas. Só usei a Dilma realmente como um acontecimento discursivo”.
Para a pesquisadora, esses discursos revelam a violência com a qual a mulher é tratada no campo discursivo e, em sua opinião, observar esse tipo de comportamento pode prever ações mais extremas, como a passagem da violência verbal para a física.
“Não tem como não tratar da violência neste caso. É violenta a forma que esses comentários trataram da Dilma. Então, o que concluí na pesquisa foi que esta violência contra a mulher, que aumenta cada vez mais na sociedade, começa no plano discursivo. Se a gente vai combater a violência doméstica, nós precisamos discutir a forma como se fala sobre essa mulher”, finaliza a professora Perla Haydee.
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