Faz sentido que Salvador Dalí tenha se tornado uma das maiores figuras do movimento surrealista de todos os tempos, pois ele sempre preferiu viver em seus próprios sonhos a viver na realidade. A mente do gênio já era imensa quando ele ainda era apenas uma criança repleta de devaneios e reflexões.
Contudo, por trás de toda a sua excentricidade, loucura e personalidade enigmática, havia um lado obscuro e bizarro que o dominava e só era dito através de sua própria arte.
Sempre houve algo de muito errado com Dalí.
O Grande Masturbador
Felipa Domènech Ferrés, mãe de Dalí, foi a única pessoa que encorajou a veia artística do filho, enquanto o pai, Salvador Dalí Cusí, um advogado e tabelião ateu anticlerical e federalista catalão, tentava educá-lo com sua abordagem grotesca do mundo e da realidade.
Depois da morte da mãe, em 6 de fevereiro de 1921, quando tinha 16 anos, a mente do pintor se perdeu no convívio com o pai. Em obras como O Jogo Lúgubre (1929), Os Primeiros Dias da Primavera (1929) e O Grande Masturbador (1929), Dalí expressou a sua ansiedade sexual e desejos inconscientes, como sua homossexualidade tão represada.
Seu pai enfatizava que havia um mal e um pecado grande dentro do garoto que surgiriam quando ele entregasse seu corpo aos “prazeres da experimentação sexual”. Dalí foi forçado a olhar para um livro repleto de imagens de pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) em estado avançado, com órgãos desfigurados e até em estado de decomposição.
Ele ficou tão traumatizado que cresceu certo de que o sexo e a masturbação degradavam o corpo. No entanto, a exposição forçada não o repeliu como o pai esperava, apenas gerou alguns distúrbios, como a ninfomania.
Por anos, Dalí comparou seu pênis com os de seus colegas e o achava pequeno e “mole” demais. Em certo ponto de sua vida, ele se considerou sexualmente impotente e desenvolveu uma obsessão pela masturbação, a ponto de se masturbar mais de dez vezes ao dia diante do espelho. Ele também fazia isso porque esperava que o ato fosse gatilho de inspiração para levá-lo ao seu “mundo do absurdo”.
Um homem violento
Em um emaranhado de misticismo, metafísica, psicanálise freudiana, teoria óptica e física, Salvador Dalí foi um dos artistas mais influentes do século XX – e um homem violento. Já aos 5 anos, ele chegou a empurrar um menino de uma ponte sem motivo algum e costumava chutar a cabeça de sua irmã de 3 anos “como se fosse uma bola” para vê-la chorar.
Isso poderia ser considerado só um comportamento infantil, no entanto, à medida que foi amadurecendo, Dalí foi gostando ainda mais da dor que a violência lhe causava. Aos 29 anos, ele gostava de pisotear diariamente uma mulher que havia comentado que seus pés descalços eram bonitos.
Aos 76 anos, acusado de espancamentos e estupros de mulheres e jovens, o artista não abandonou seu lado furioso nem quando um distúrbio motor o impediu de segurar até mesmo uma escova de dentes. Dalí era abandonado por até 2 dias por sua esposa e musa, Gala Éluard, que usava o dinheiro que ele recebia por sua arte para gastar com presentes para seus amantes, que em sua maioria eram jovens artistas que também a viam como musa.
Quando a revolta o atingiu de vez, Dalí espancou Gala de tal forma que quebrou duas de suas costelas. Como consequência, a mulher o injetou uma grande dose de Valium e outros sedativos, causando-lhe um dano neural irreversível. Foram os amigos de Dalí que o tiraram de casa e o colocaram sob os cuidados das enfermeiras da Clínica Incosol. Uma vez lá, o pintor fazia questão de assediá-las, arranhar seus rostos e praticar todo e qualquer ato de maldade que ainda lhe cabia, apesar de suas limitações.
As formigas
No ensaio Benefício do Clero: Algumas Notas sobre Salvador Dalí, de 1944, o escritor George Orwell criticou a “personalidade estranha vista como a personificação de um gênio” de Dalí e como o talento dele fazia as pessoas considerá-lo acima de qualquer repreensão.
Entre os escândalos que o artista se envolveu ao longo de sua vida, a necrofilia foi o considerado o mais polêmico. Em sua autobiografia Vida Secreta de Salvador Dalí, publicada em 1942, ele admitiu que exercia a prática, mas disse que foi “curado” dela tempos depois.
Foi por meio das formigas que o pintor começou a desenvolver suas tendências necrófilas: tudo teria começado em seus 5 anos, quando ele encontrou um morcego quase morto coberto por formigas e simplesmente o abocanhou e mastigou até que sobrasse apenas pedaços.
Ao longo de suas obras, as formigas surgem com frequência para representar a putrefação que Dalí tanto temeu, porém também a atração obscura que sentiu por insetos. É nas fotos surrealistas que o vigor do homem por cadáveres aparece com mais frequência, em cliques que expõem corpos exumados em decomposição, sempre rodeados por formigas.
No fim das contas, em sua análise, Orwell observou: “Deveríamos ser capazes de manter na cabeça, simultaneamente, o fato de que Dalí é um bom desenhista e um ser humano nojento”.
O Enigma de Hitler
Artistas e intelectuais do mundo todo foram os primeiros a se posicionarem contra as artimanhas genocidas e ideologias inumanas de Adolf Hitler na primeira metade do século XX. O Grupo Surrealista de Paris, que surgiu com o fim da Primeira Guerra Mundial diante da ameaça nazista, expulsou Salvador Dalí por ele demonstrar um estranho fascínio pelas convicções hitleristas após desenhar o quadro O Enigma de Hitler (1938).
Apesar de Eric Shanes afirmar em sua biografia A Vida e as Obras-Primas de Salvador Dalí que a idolatria do pintor surgiu apenas para “ofender” o poeta francês André Breton, esse argumento não parece se sustentar muito bem junto ao fato de que Dalí também enaltecia o ditador Francisco Franco, responsável pela Guerra Civil Espanhola, intitulando-o como o “maior herói da Espanha”.
O jornalista Mick Brown, que passou um fim de semana com Dalí em 1973, disse que o artista imaginava uma linha de governo com um “rei que governa fortemente o país, e abaixo do máximo de anarquia. Um governante, o mais autoritário possível, com uma coroa decorativa e simbólica para colocar em cada capa de revista”.
Dalí revelou que “muitas vezes sonhava com Hitler como outros homens sonhavam com mulheres”, e isso ficou explícito em suas obras Hitler se Masturbando (1973) e A Metamorfose do Rosto de Hitler em uma Paisagem Enluarada com Acompanhamento (1958), que geraram um caos no mundo da arte por ninguém saber se o pintor nutria uma paixão ideológica pelo nazista ou se ele o atraía sexualmente.
Dalí se eternizou como o gênio, a mente além de seu século e o “rei do imaginário”, mas também como o agressor, ninfomaníaco, estuprador, necrófilo e louco.
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