Foto: Reprodução/Bellingcat
Apontada como espiã russa usava identidade de Maria Adela Kuhfeldt Rivera
Ela se apresentava como uma designer de joias de origem latino-americana, chamada Maria Adela Kuhfeldt Rivera, e chegou a participar de festa com funcionários da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, inimiga de Moscou) em Nápoles (Itália). Maria Adela dizia ser filha de pai alemão e mãe peruana e que tinha nascido em Callao, na Grande Lima (Peru).
Uma equipe de investigadores, entretanto, descobriu que era um disfarce. Maria Adela é na verdade uma espiã russa. Mais precisamente lotada a Agência de Inteligência Militar da Rússia, mais conhecida como GRU. A descoberta foi feita pelo siite investigativo "Bellingcat", com sede na Holanda, em parceria com vários meios de comunicação, incluindo "La Repubblica" (Itália) e "Der Spiegel" (Alemanha).
Christo Grozev, CEO da Bellingcat e investigador principal, disse que encontrou pela primeira vez o rastro de um possível agente da GRU quando estava olhando para um banco de dados vazado de passagens de fronteira registradas por guardas de fronteira bielorrussos e fornecidos por um grupo de hackers da oposição ao regime de Alexander Lukashenko.
Grozev procurou números de passaportes russos em intervalos conhecidos por terem sido usados por agentes do GRU e encontrou vários resultados. A maioria tinha nomes russos, mas uma se destacou: Maria Adela Kuhfeldt Rivera, contou o jornal britânico "Guardian", que teve acesso à investigação.
Olhando mais de perto para "Rivera", Grozev descobriu que ela viajou com vários passaportes russos com números de série em uma faixa usada por outros agentes conhecidos da GRU, incluindo um oficial que havia sido indiciado pelo suposto envenenamento por novichok (composto de substâncias neurotóxicas desenvolvidas pela União Soviética) do traficante de armas búlgaro Emilian Gebrev, e outro oficial do GRU supostamente envolvido no ataque a Sergei Skripal e sua filha, em Salisbury, em 2018.
Grozev também descobriu que em 15 de setembro de 2018, "Rivera" comprou uma passagem de Nápoles para Moscou. No dia anterior, membros do "Bellingcat" e o seu parceiro de investigação russo, o "Insider", publicaram um artigo sobre os dois envenenadores de Salisbury, que viajaram sob as identidades falsas Ruslan Boshirov e Alexander Petrov, observando irregularidades em seus dados de passaporte, sugerindo que eles tinham ligações com serviços de segurança.
Ao que tudo indica, "Rivera" foi retirada às pressas da cidade italiana por seus chefes, que temiam que outros agentes com números de passaporte semelhantes pudessem ser comprometidos. Ela não parece ter deixado a Rússia novamente.
Dois meses após sua saída repentina de Nápoles, ela postou um status no Facebook em italiano, aparentemente como uma forma de explicar seu desaparecimento e silêncio.
A explicação era "um câncer".
"É a verdade que devo finalmente revelar… O cabelo está crescendo agora após a quimioterapia, muito curto, mas está lá. Sinto falta de tudo, mas estou tentando respirar", escreveu ela.
Alguns agentes da GRU só viajam para o exterior para missões rápidas e de curto prazo e mudam de identidade regularmente, enquanto outros como "Rivera" passam anos usando a mesma identidade de disfarce.
PASSAPORTE BRASILEIRO
Em junho, a Holanda deportou um homem com passaporte brasileiro em nome de Viktor Muller Ferreira, acusando-o de ser um agente russo chamado Sergey Vladimirovich Cherkasov. Ele aparentemente passou uma década preparando sua identidade, incluindo períodos de estudo na Irlanda e nos EUA, e era suspeito de tentar se infiltrar no Tribunal Criminal Internacional em Haia. O modo de operação era semelhante ao de "Rivera".
O inusitado de "Rivera" é que ela viajou com passaporte russo, quando geralmente os agentes disfarçam as suas óbvias ligações com a Rússia ou a União Soviética. De acordo com o "Bellingcat", em 2006, "Rivera" já havia tido um pedido por cidadania peruana negado. Foi descoberta fraude no processo.
Sem se incomodar com o revés, a GRU então relançou a identidade "Kuhfeldt Rivera" com um passaporte russo. Esta foi uma decisão estranha, considerando a história que ela contava sobre sua origem alemã e peruana, mas é possível que ela já tivesse feito contatos valiosos sob essa identidade e não quisesse perdê-los.
Várias pessoas que conheceram "Kuhfeldt Rivera" disseram que ela contou que a sua mãe, peruana, a levou para a União Soviética em 1980 e a deixou lá. Ela aparentemente tentou várias rotas para obter um passaporte da Europa Ocidental ao longo dos anos.
O "Bellingcat" disse ter obtido, após cruzamento de fotos em banco de dados, a identidade real da espiã, mas não a revelou. O grupo tentou contato com ela, mas não obteve resposta.
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