– Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A abertura do 1º Congresso Internacional de Emissoras Públicas, no dia 21
Emissoras de rádio e TV públicas são fundamentais para o avanço e o fortalecimento da democracia no mundo. Elas são a garantia da qualidade e da credibilidade das informações transmitidas à sociedade, em meio à disseminação de fake news. Para manter sua atividade, é necessário buscar novas fontes de financiamento, como a contribuição voluntária dos cidadãos.
Essas foram algumas análises feitas durante o 1º Congresso Internacional de Emissoras Públicas, realizado nos dias 21 e 22 de maio no auditório do Complexo Brasiliana da USP, na Cidade Universitária, em São Paulo. O evento reuniu especialistas de 13 países da América, Europa e África, que discutiram temas como a contribuição das emissoras públicas para a democracia, os desafios das rádios e TVs públicas diante das novas tecnologias de comunicação digital e o financiamento como forma de preservar a independência dessas emissoras.
Cinco grupos de trabalho – reunidos na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – apresentaram 33 comunicações sobre temas como ética, inteligência artificial, plataformas digitais e combate à desinformação. Participaram do encontro mais de 200 pessoas – entre elas, profissionais ligados a órgãos públicos de comunicação de diferentes regiões do Brasil.
Ao longo dos dois dias do congresso, em cinco painéis e dois colóquios, os especialistas se aprofundaram nas mais diferentes questões ligadas às emissoras públicas. O chefe da redação brasileira da Rádio França Internacional (RFI), Elcio Antonio Ramalho, que participou do painel sobre os desafios dessas emissoras no mundo digital, destacou à Rádio USP que as emissoras públicas precisam se preocupar em ocupar o espaço das mídias digitais.
“Nós temos público em diferentes lugares, consumindo conteúdo. Então precisamos nos adaptar, produzindo conteúdo especificamente para esse público, com conteúdos curtos para as redes sociais ou conteúdos mais longos para podcasts para streamings, por exemplo”, acrescentou Ramalho, citando exemplos de iniciativas da RFI. “As emissoras públicas têm um espaço a ocupar em todas essas novas plataformas.”

Elcio Antonio Ramalho - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
O diretor de redação da BBC Brasil em Londres, Caio Quero, destacou a importância das redes sociais como um canal de comunicação direto com a audiência. Segundo ele, uma das ferramentas mais poderosas para fazer isso é o uso da rede social como uma espécie de “caixa acústica”. “O que a gente faz na BBC e estimula todos os jornalistas a fazer é ler os comentários nas redes sociais”, destacou Quero. “Quando a gente faz isso, outras histórias podem surgir além das opiniões, que são muito importantes para que você saiba como o seu trabalho está sendo recepcionado por essa audiência, e também nas opiniões tem outras histórias e observações interessantes. Com isso você cria um senso de comunidade com sua audiência que é fundamental.”

Caio Quero – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A superintendente de Comunicação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Maíra Bittencourt, lembrou que, entre as 730 emissoras do campo público em atividade no Brasil hoje, existem diferentes formas de financiamento, o que influencia na forma da sua estrutura e da sua comunicação. A atuação e a capacidade das emissoras diferem conforme os repasses de recursos sejam constantes ou oscilantes. “Precisamos pensar em formas sólidas e permanentes de financiamento para essas diferentes estruturas de comunicação”, destacou Bittencourt, citando, entre outras possibilidades, a destinação de uma porcentagem da publicidade institucional do governo para as emissoras públicas. “Essa diversidade de emissoras precisa estar reunida para buscar regulamentação de recursos e fazer um trabalho social para que a sociedade defenda a comunicação pública como um direito, assim como ela tem direito à saúde pública e à educação pública.”
Ela ainda enfatizou que as emissoras públicas precisam garantir espaços de participação do público, “que devem existir, mas não necessariamente existem”. Bittencourt considera essa agenda “um trabalho longo e árduo”, que pode começar a ser feito nos cursos de graduação, com disciplinas específicas sobre comunicação pública. “Este congresso é uma proposta de retomada e articulação para o fortalecimento das emissoras públicas, para que elas possam encontrar caminhos conjuntos.”

Maíra Bittencourt - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
O diretor do Secretariado Técnico do Conselho Geral Independente (CGI) da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), Pedro Jorge dos Santos Braumann, insistiu na necessidade de mostrar a relevância das emissoras públicas à sociedade. “Essa é uma questão que não se mostra automaticamente”, advertiu. “É preciso apresentar isso na praça pública, mostrar aos cidadãos e aos políticos, promover um debate público que mostre por que um serviço público de comunicação deve existir e qual a sua vantagem para a sociedade. Se não formos nós a defender, quem será?”

Pedro Jorge dos Santos Braumann - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A professora Patricia Aufderheide, da American University, dos Estados Unidos, fez outra sugestão para fortalecer a relação entre as emissoras e o público. “O segredo é entender a comunidade, conhecer suas características e fazer com que as pessoas sintam que há uma ligação com elas e entendam que os programas têm alguma coisa importante para elas.” Aufderheide gostou do que viu durante o congresso. “Aqui tem uma fome para conhecer outros com os mesmos problemas”, destacou, num português com pouco sotaque. “Tem pessoas aqui articulando uma agenda para servir o público, para falar do bem comum e levar essas ideias de novo para o discurso público.”

Patricia Aufderheide - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Já o administrador executivo da Televisão de Moçambique (TVM), Sergio Marcos David Matusse, enfatizou a importância das discussões feitas no congresso. “Toda a nossa energia é para garantir o nosso serviço público no dia a dia e sobra-nos pouco tempo para ações programáticas, de definição do nosso caminho para frente, e para isso precisamos de parcerias com entidades que estão mais abalizadas com isso”, disse.

Sergio Matusse - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Para Norma Meireles, presidente da Rede de Rádios Universitárias do Brasil (Rubra), as emissoras públicas atuam num contexto muito semelhante no Brasil e na América Latina. “Vivemos situações parecidas. O importante é, a partir daqui, dar passos além do que já fazemos.” Ela citou como exemplo a troca de conteúdos entre as emissoras, iniciativa que, para ela, precisa ser fortalecida. “Temos que pensar o que podemos fazer mais.”
O 1º Congresso Internacional de Emissoras Públicas foi uma realização da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP, com apoio da Fundação Padre Anchieta (Rádio e TV Cultura), de São Paulo, e da Rede de Rádios Universitárias do Brasil. Mais informações sobre o evento estão no site do congresso.
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