Paulo Guereta/Gabriel de Paiva/Alexandre Cassiano
Tarcísio de Freitas, Onyx Lorenzoni e Claudio Castro
Pesquisas eleitorais divulgadas no sábado, véspera da eleição, apresentaram discrepâncias significativas na comparação com os resultados das urnas apuradas no domingo na disputa pela Presidência, por governos de estados com grandes colégios eleitorais e por vagas no Senado. A máxima de que os levantamentos de opinião pública são o "retrato do momento" e não preveem o futuro, mesmo que seja de um dia para o outro, não é suficiente para explicar na totalidade diferenças tão expressivas. A partir de agora até o fim do segundo turno, os institutos e pesquisadores acadêmicos farão investigações na tentativa de identificar o que ocorreu e o que pode ser controlado nas amostras daqui em diante. Não há resposta final, hoje, para explicar o que aconteceu.
Os 43,3% alcançados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas — com 99,5% dos votos apurados — superam o que haviam medido o Ipec (ex-Ibope) e o Datafolha na véspera. Para os institutos de pesquisa, o candidato à reeleição tinha, no sábado, 37% e 36% dos votos válidos, respectivamente.
Pela margem de erro, que é de dois pontos percentuais nos dois levantamentos, a medida do apoio a Bolsonaro variava de 34% a 39%. As pesquisas foram mais assertivas ao mensurar o tamanho do eleitorado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que obteve 48,3% dos votos neste domingo. O Ipec indicava que o petista teria de 49% a 53%, enquanto para o Datafolha esse percentual poderia ser de 48% a 52%.
São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três maiores colégios eleitorais do país, são estados-chave para entender a discrepância entre o que as pesquisas de opinião pública estimavam um dia antes para a disputa presidencial e o que se observou nas urnas.
Em São Paulo, que abriga 34,7 milhões de pessoas aptas a votar, Bolsonaro venceu a votação com apoio de 47,7% dos paulistas — com 100% das seções contabilizadas. Teve quase 2 milhões de votos a mais que o ex-presidente Lula, que marcou 40,9%. As pesquisas divulgadas na véspera da eleição indicavam vantagem para Lula no estado, em um cenário largamente diferente. No levantamento do Ipec, o ex-presidente aparecia nove pontos percentuais à frente de Bolsonaro, distância que era de quatro pontos no Datafolha.
Inversões
A força do bolsonarismo em São Paulo também superou as estimativas sobre as disputas para governador e senador. As pesquisas não captaram a tendência de crescimento de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que aparecia nos últimos levantamentos em segundo lugar, com 31% dos votos válidos. Fernando Haddad (PT), por sua vez, encolheu em relação aos levantamentos: tinha 41% e 39% no Ipec e Datafolha, respectivamente. Com todas das urnas apuradas, o cenário se inverteu: Tarcísio teve 42,32% dos votos, cerca de dez pontos percentuais a mais do que o Ipec e o Datafolha apontavam. Haddad, por outro lado, registrou 35,7%, menos do que o captado pelos institutos.
No Rio de Janeiro, reduto eleitoral de Bolsonaro, Ipec e Datafolha mostravam disputa apertada entre o candidato à reeleição e Lula, com o petista numericamente à frente nas duas pesquisas (quatro pontos de diferençano Ipec e cinco no Datafolha). No entanto, Bolsonaro teve apoio de 51% dos eleitores fluminenses, dez pontos percentuais acima dos 41% alcançados por Lula.
Na disputa pelo Palácio Guanabara, Datafolha e Ipec subestimaram o desempenho do governador Cláudio Castro (PL), reeleito com 58,66% dos votos, com 99,9% das urnas apuradas. Nas duas pesquisas divulgadas no sábado, Castro apareceu com menos de 50% dos votos válidos: 47% segundo o Ipec, e 44% de acordo com o Datafolha.
Castro apresentou um crescimento não captado pelas pesquisas: tanto Ipec quanto Datafolha apontavam estabilidade. No caso do Datafolha, a amostra entrevistada não refletiu a votação de Marcelo Freixo (PSB), que tinha 35% pela pesquisa do instituto e terminou com 27,40% dos votos nas urnas. Nesse caso, praticamente o mesmo número captado pelo Ipec na véspera (28%).
Bolsonaro também teve desempenho melhor do que o previsto em Minas Gerais, a segunda unidade da federação em número de eleitores. Ipec e Datafolha indicavam no sábado que Bolsonaro tinha 34% e 33%, respectivamente, entre os mineiros. Nas urnas, ele teve 43,7%.
Na disputa pelo governo do estado, Romeu Zema (Partido Novo) foi reeleito com 56,20% dos votos, com 99,7% das urnas apuradas. O resultado confirma a estimativa captada pela pesquisa Datafolha do último sábado, que também apresentou Zema com 56% dos votos válidos e o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) com 35%. Nas urnas, o principal rival de Zema teve 35,06% dos votos, contabilizados até as 23h de ontem.
Os dados contrariam o cenário do Ipec nas últimas semanas, que mostrava uma tendência de crescimento de Alexandre Kalil, com 42% dos votos válidos, contra 50% de Zema. O Ipec tinha captado nas últimas semanas um recuo de Zema em meio a um avanço de Kalil.
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