É um desejo, um sentimento ou atitude de uma pessoa, ou um grupo, de se identificarem com o problema do próximo com o objetivo de ajudar a solucionar, apoiar ou amenizar uma situação conflitante.
Esse desejo, tão em falta no mundo atual, é encontrado com facilidade nas salas de espera dos ambulatórios dos hospitais universitários.
Os pacientes são do mesmo nível social e foram agendados por serem, geralmente, portadores de patologias raras ou graves.
Os ambulatórios dos hospitais universitários são referências, e os casos mais simples tratados no Programa Saúde da Família (PSF) e mais complexos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
Assim deveria funcionar o Sistema Único de Saúde (SUS).
Os pacientes que procuram os serviços do SUS nos ambulatórios universitários sabem que serão atendidos por médicos e professores, mas não sabem seus nomes.
Para aqueles que os atendem também a situação é idêntica, e a enfermeira os encaminham pela ordem da chegada.
Durante dez anos acompanhei os alunos de medicina do quinto e sexto ano da nossa universidade no Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM).
Os alunos atendiam vestidos com seus clássicos uniformes brancos.
Eu, me misturava com pacientes e alguns acompanhantes de pacientes que vinham do interior.
Ficávamos sentados em bancos de madeira no estreito corredor da frente do hospital.
Mesmo tratando com “professores” de medicina, a gente humilde intuitivamente percebe que a solidariedade humana, apoio, ajuda, é mais fácil encontrar no corredor dos ambulatórios.
O ambiente não era refrigerado e o sol da tarde castigava aqueles que lá estavam.
Passava tão mal, que propus a um colega recém-formado em faculdade fora do Estado, que trocasse o seu horário de atendimento da manhã comigo.
Ele não atendeu ao meu pedido, e disse que o período da manhã ele escolheu primeiro que eu...
Para quem se esqueceu eu fui o 1º Reitor da FUFMT, criei e coloquei em funcionamento a nossa escola de medicina.
Exemplo explícito de falta de solidariedade com um colega bem mais velho e com hipertensão arterial.
Notei que as pacientes humildes no corredor dos ambulatórios procuravam se ajudar mutuamente, contando seus problemas, num ato de verdadeira solidariedade humana.
Muito daquilo que conversavam lá fora não comentavam com o “professor” do ambulatório, que “sabia de tudo”, e elas achavam que aquilo era assunto para corredor de espera.
Certa ocasião, uma paciente que nasceu, cresceu, casou, nunca menstruou, engravidou ou consultou, moradora num sítio nos arrabaldes de Cuiabá, disse no corredor que achava que estava na época de consultar com um bom médico e relatou os seus sintomas e, eu os ouvi.
Sua amiga disse que falasse tudo isso ao médico professor na consulta.
Respondendo a primeira pergunta da anamnese: “qual o motivo que fez com que a senhora viesse consultar”, ela disse: tratar da menopausa, e nada mais.
Na verdade, ela nasceu sem útero e veio tratar dos fogachos da menopausa.
Mesmo tratando com “professores” de medicina, a gente humilde intuitivamente percebe que a solidariedade humana, apoio, ajuda, é mais fácil encontrar no corredor dos ambulatórios.
Eu aprendi como lecionar medicina humanizada.
*Gabriel Novis Neves
https://bar-do-bugre.blogspot.com
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