O Sábado de Aleluia sempre foi para mim um dia de expectativa contida.
Após o silêncio sombrio da Sexta-feira Santa, as manhãs de sábado pareciam suspensas no tempo. A cidade seguia em voz baixa. As igrejas ainda mantinham os sinos calados, e a programação religiosa esperava pela Vigília Pascal.
Na minha infância no Centro Histórico de Cuiabá, esse dia era marcado por dois rituais: a limpeza da casa e a preparação para a festa da Ressurreição.
Minha mãe, com o avental rendado e os cabelos presos num coque, varria cada canto, trocava os panos da cozinha, preparava bolos e reservava um pedaço do melhor assado para o almoço do domingo.
Nós, crianças, vivíamos outro tipo de ansiedade: a esperada “malhação do Judas”.
Bonecos de pano, recheados de palha e velhos trapos, representavam o traidor.
Enforcavam-no em árvores, postes ou nos portões de vizinhos mais animados.
Depois, vinham os gritos, os paus, os foguetes e, por fim, o alívio coletivo. Judas estava castigado. O bem vencera o mal — mesmo que simbolicamente.
Era uma explosão de alegria após dias de silêncio e recolhimento. E, de certo modo, anunciava a festa que viria com o domingo.
Hoje, esse costume desapareceu das ruas. Talvez por medo da violência real ou pela mudança dos tempos, onde o simbólico perdeu força e os rituais se dissolveram no barulho dos dias modernos.
Mas ainda guardo no coração aquela esperança silenciosa do Sábado de Aleluia. A certeza de que, depois da dor e da morte, vem sempre um novo recomeço.
É o dia em que o mundo parece segurar a respiração, esperando a notícia que transformou a história: Ele ressuscitou!
E, dentro de cada um de nós, renasce a fé.
*Gabriel Novis Neves
15-04-2025
https://bar-do-bugre.blogspot.com/2025/04/sabado-de-aleluia.html
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