Bem antigamente, quando Pedro Álvares Cabral descobriu por acaso o Brasil em 1500, todo mundo por aqui passou a conhecer a Cruz de Malta dos portugueses. Ninguém sabia dizer o que representava seus oitos pontos da Cruz. Hoje, muitos acham que a Cruz de Malta é o símbolo do Clube de Regatas do Vasco da Gama do Rio de Janeiro, e que usam em seus uniformes, bandeiras e estádio de futebol.
Na Cuiabá antiga, nos ensinavam que os oito pontos da Cruz de Malta, traduziam as oito obrigações dos Cavaleiros de Malta: “ viver na verdade, ter fé, arrepender-se dos pecados, dar prova de humildade, amar a justiça, ser misericordioso, ser sincero e de todo o coração, e evitar a perseguição”. Hoje, muitos ainda acreditam que a Cruz de Malta, significa escudo e seus oito pontos, o número dos principais campeonatos que o Vasco ganhou.
Bem antigamente, os Cavaleiros de Malta era uma organização internacional católica que começou como uma ordem beneditina fundada no século XI na Palestina, durante as Cruzadas, mas que rapidamente se tornaria uma Organização militar. A Cruz de Malta é o símbolo da Ordem de Malta. Hoje, muitos ainda acreditam que é símbolo do Vasco da Gama, criados por migrantes portugueses.
Na Cuiabá antiga, existiam aqui muitos torcedores do clube da Cruz de Malta. Hoje, na segunda divisão do futebol brasileiro e tendo como técnico um que o Cuiabá dispensou, sua torcida que em outros tempos era enorme, ficou reduzida a um parente setentão que mora em meu edifício, cabendo com a do meu Botafogo em uma taxi de Uber.
Bem antigamente, os grandes poetas, escritores, filósofos da humanidade precisavam ir bem distantes, às margens dos rios, lagos, ruinas de cidades medievais, desertos e pirâmides à busca de inspiração. Hoje, é só sair de casa para assistir a um assalto, inspiração suficiente para escrever sobre a violência urbana que assola, principalmente as maiores cidades brasileiras, embora as estatísticas provem a queda das suas taxas.
Na Cuiabá antiga, a inspiração vinha das chácaras que as crianças eram criadas, da missa aos domingos na Matriz, do barulho da correnteza das águas rolando pelas ruas, do cantarolar das serenatas em céu estrelado, do chamar do telefone esperado com ansiedade. Hoje, inspiração você compra em shopping movimentado ou quando recebe a visita da Polícia Federal inesperável.
Bem antigamente, todos os países falavam a mesma língua. Após o problema na Torre de Babel, cada país criou o seu próprio idioma, sendo que alguns mais de um, e as línguas eram vivas. Hoje, com a globalização a língua mais falada é o mandarim, mas a língua comercial aceita em todo o mundo é o inglês, inclusive por aqueles países que usam o mandarim como o seu idioma.
Na Cuiabá antiga, o cuiabano tinha seu próprio idioma que foi traduzido por livros. Irei citar alguns exemplos para as novas gerações entendam o linguajar da cidade onde nasceram.
Cuiabano não faz gozação...Ele fica zoando de você.
Cuiabano não tem um zumbido no ouvido... Ele tem um grilo preso na orelha.
Cuiabano não corre... Ele vai rapidinho e corre duro.
Cuiabano não encosta em alguma coisa... Ele relaxa em alguma coisa.
Cuiabano não fica irritado... Ele cospe marimbondo.
Cuiabano não te chama de chato... Ele te chama de tocêra.
Cuiabano não caminha em vão... Ele perde a viagem.
Cuiabano não tem melhor amigo... Ele tem um chegado.
Cuiabano não acha que ficou bom... Ele acha que ficou até doce.
Cuiabano não diz as últimas notícias... Ele diz lapada, lapada, lapada.
Hoje, o cuiabano fala com sotaque carioca, paulista ou sulista.
Bem antigamente, seguindo as recomendações bíblicas, todos descansavam no sétimo dia da semana, menos os profissionais de serviços essenciais ao bem público, como pessoal da saúde, segurança, trabalhadores em limpezas das ruas, coveiros de cemitério e o pessoal de lazer, como cinemas, teatros, restaurantes, bares e esportes como o futebol, que já faz parte do calendário dos domingos. Hoje, alguns não obedecem esse ritual, e não vão nem assistir missas aos domingos.
Na Cuiabá antiga, todos tiravam os domingos para descansarem. Hoje, aos domingos é o dia que mais trabalho, indo à exaustão, escrevendo “OS PITORESCOS”, que publico sempre aos domingos.
*Gabriel Novis Neves
https://gnn-cultura.blogspot.com
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