O bar do Bugre nasceu no dia 29 de junho de 1920 no galpão do antigo cinema de Cuiabá, lugar que está construído o atual Cine Teatro de Cuiabá, inaugurado em 1942.
Não conheci o cinema do galpão e sim o moderno Cine Teatro frequentado pela sociedade cuiabana à noite, antes da chegada da televisão.
A minha geração assistia às suas matines às tardes.
Artistas famosos do teatro brasileiro se apresentaram lá.
Recordo-me do ator Procópio Ferreira na peça de Joracy Camargo: “Deus lhe pague”.
Meu pai se fez presente, mas não me recordo se na companhia da minha mãe.
Naquela época as mulheres tinham muitos filhos, tipo escadinhas, e não tinham com quem deixá-los em casa.
O Bar do Bugre surgiu da necessidade que a minha avó Eugênia sentiu de abrir um negócio para três dos seus filhos maiores de idade trabalharem.
Meus avós não possuíam recursos para enviar todos os seus filhos para estudarem no Rio de Janeiro, cidade que a minha avó paterna nasceu.
Dos três primeiros filhos, dois se formaram em Direito, e ao retornarem à Cuiabá ingressaram na Magistratura e terminaram suas carreiras como desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
Outro fez o curso de agronomia, e foi chefe do Departamento de Terras de MT.
Os outros concluíram o ensino primário, mas não o ensino médio, que era onde terminava o ensino em nossa capital.
Meu pai era o mais velho dos irmãos que ficaram por aqui.
Vivia de fazer pequenos “biscates”, assim como seus irmãos.
Foi cobrador de médicos, dentistas e farmacêuticos, sendo o mais famoso o farmacêutico Pedro Celestino Corrêa da Costa, que foi governador de Mato Grosso por dois períodos e empresta o seu nome a antiga e aristocrática rua de Cima.
Meu pai alugou uma parte da antessala do cinema do galpão e montou um pequeno bar.
Minha avó, viúva, ajudada pelas suas filhas solteiras, eram as responsáveis pela feitura dos salgadinhos, doces e refrescos.
Meu pai alugou mesas, cadeiras e comprava cervejas na primeira fábrica de cerveja que ficava em Várzea-Grande, município de Cuiabá às margens do rio Cuiabá.
Era do empresário Almeida, sogro do médico Alberto Novis, que ficou surdo, e foi trabalhar como gerente da fábrica de cerveja.
Na noite da inauguração do Bar do Bugre toda a sociedade compareceu para prestigiar o evento.
A festa estava animada, quando alguém pediu silêncio e perguntou o nome do bar.
Ao saber que o bar não tinha nome, começaram os palpites, até que um poeta bradou: seu nome tem que ser Bar Moderno, pois ele viverá por muitos anos, e será sempre moderno.
Devido ao sucesso do bar meu pai comprou um enorme casarão residencial na rua de Cima com duas frentes, uma para a Praça Alencastro outra para a Praça da República.
Fez uma ampla reforma no imóvel, transformando em Bar do Bugre, reconhecido e sempre lembrado pelos antigos cuiabanos.
O bar Moderno viveu cinquenta anos e só existia com esse nome, na Junta Comercial de Cuiabá.
Meu pai envelhecido (76 anos) não estimulou nenhum dos seus quatro filhos homens para ser seu sucessor.
Formou dois filhos em medicina e um em economia, todos no Rio de Janeiro, e o caçula em Direito na nossa Universidade Federal de Mato Grosso, implantada pelo seu filho primogênito.
Meu pai teve como principais auxiliares seus irmãos desempregados, Tinô, Ioiô e Joãozinho, e três garçons, Quindú, Paulo e Domingos.
Esta é a história do nascimento do Bar do Bugre.
*Gabriel Novis Neves
https://bar-do-bugre.blogspot.com
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