16 de Março de 2025

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opinião Quarta-feira, 18 de Dezembro de 2024, 11:52 - A | A

Quarta-feira, 18 de Dezembro de 2024, 11h:52 - A | A

ARTIGO

JUROS, INFLAÇÃO E RESILIÊNCIA

*VIVALDO LOPES

 

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Em sua última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a taxa básica de juros de 11,25% ao ano para 12,25%. Anunciou também que aumentará no mesmo patamar a Selic nas duas reuniões que ocorrerão em janeiro e março próximos. Ao final de março de 2025, a Selic chegará a14,25%. Com essa alta, a taxa real de juros (deduzida a inflação) ficará acima de 9%. O Brasil terá, então, a terceira maior taxa real de juros do mundo, atrás apenas de Rússia e Turquia.

 

No histórico do sistema de metas de inflação, é muito raro o Banco Central elevar a Selic em um ponto percentual de uma única vez. Mais raro ainda é anunciar antecipadamente que repetirá a dose nas duas reuniões seguintes. Nas últimas duas décadas, a autoridade monetária subiu a taxa de juros nesse patamar em 2001 e 2002. A exceção foi na pandemia, quando o Banco Central acelerou as altas, com doses de 1 e 1,5 ponto percentual, elevando os juros de 2% para 13,75% ao ano. Uma necessidade para aquele momento extraordinário. No governo de Dilma Roussef, o Copom precisou elevar a taxa básica de juros a 14,25% para conter a inflação que estava descontrolada e chegou a 10,67% ao ano. Agora, teremos a Selic a 14,25% com inflação de 2024 em 4,8%, pouco acima do limite superior da meta que é de 4,5%.

 

O Banco Central não nota comprometimento dos congressistas com medidas estruturais. Estão mais preocupados em agradar seus eleitores, financiadores e aumentar o montante de emendas ao orçamento.

 

A decisão do Banco Central indica uma forte mensagem política ao poder executivo e ao congresso nacional: é urgente promover corte dos gastos públicos com medidas estruturais em todos os três poderes e áreas como despesas com pessoal, previdenciárias e gastos tributários (renúncias, incentivos, benefícios, isenções) que chegaram ao estonteante patamar de 7% do PIB nacional.  O Banco Central não nota comprometimento dos congressistas com medidas estruturais. Estão mais preocupados em agradar seus eleitores, financiadores e aumentar o montante de emendas ao orçamento. E o executivo federal parece convencido que os gastos públicos são impulsionadores do crescimento econômico e necessitam ser continuados.

 

A outra mensagem é a constatação técnica de que a atividade econômica precisa ser desaquecida porque está rodando acima da capacidade produtiva. Na visão dos economistas do Banco Central, como a base produtiva do país não consegue responder no curto prazo à pressão da demanda das famílias e empresas, causa pressões cambiais e inflacionárias, aumentam a trajetória da dívida pública em relação ao PIB que precisam ser contidas com juros mais elevados.

 

O bom debate é sobre a eficácia do aumento dos juros para conter o aumento do consumo numa economia que cresceu 3% em 2022, 3,2% em 2023 e 3,5% em 2024. Está com taxa de desemprego de 6,2%, renda do trabalho crescendo 5% acima da inflação e 80% das despesas públicas são com gastos sociais (salários, previdência, programas de transferência de renda).

 

A teoria monetária reza que aumentar os juros é medida utilizada pela autoridade monetária para desaquecer a economia e trazer a inflação para um nível que não iniba o crescimento econômico. Trás como dano colateral a possiblidade de produzir recessão e todos os seus perversos malefícios econômicos e sociais. Danos que ficam potencializados em um país onde os índices de pobreza ainda são relevantes e boa parte das camadas populacionais dependem de programas sociais.

 

Em minha visão, conviveremos com dois movimentos de titãs em 2025 e 2026. De um lado o Banco Central implementado medidas contracionistas para desaquecer a atividade. De outro, o governo federal e estaduais expandindo suas despesas para evitar que a economia entre em recessão em ano que antecede as eleições gerais.

 

A autoridade monetária, por seu lado, terá que conviver com o dilema de saber se diagnosticou perfeitamente as razões da resiliência do aquecimento da atividade antes de aplicar o choque de juros. Afinal, nos últimos anos, os economistas do Banco Central e do mercado erraram feio no prognóstico da trajetória do crescimento da atividade do país.

 

A literatura econômica está repleta de exemplos em que erros na dosagem do remédio de elevar juros para conter a inflação e aumento da dívida torna-se veneno que precisa ser corrigido adiante com mais aumento de juros. Como os efeitos do medicamento somente serão sentidos nos últimos trimestres de 2025 e ao longo de 2026, teremos que aguardar para conferir.

 

*VIVALDO LOPES é economista.

 

 

 *Os artigos são de responsabilidade seus autores e não representam a opinião do Mídia Hoje.

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