No último dia 18 o Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros de 14,75% para 15% ao ano para conter a alta de preços e conduzir a inflação ao intervalo de tolerância da meta que vai do alvo de 3% ao teto de 4,5%.
Nos comunicados que fez logo após a reunião, a autoridade monetária indica que vai manter a taxa nesse elevado patamar de 15% por um longo período. Alega, entre diversos fatores que embasam a decisão, cenários de incertezas no mercado doméstico e, principalmente, no ambiente internacional, diante dos riscos geopolíticos ocasionados pelas guerras no oriente médio, invasão da Rússia na Ucrânia e a famigerada guerra tarifária iniciada pelo governo americano contra todo o restante do mundo.
O Banco Central, ao abordar os ambientes hostis nos cenários doméstico e global, chega a falar em “choque de incertezas”. No campo internacional, a incerteza, até aqui, tem atuado para derrubar os preços do petróleo e a taxa de câmbio e não para pressionar os preços internos. A despeito da volatilidade das últimas semanas, o petróleo e o dólar acumulam queda no ano, com seus respectivos efeitos desinflacionários.
No cenário interno, mesmo admitindo sinais de desaceleração da atividade econômica e reconhecer que os indicadores indicam trajetória de redução da inflação, o Banco Central optou pelo aumentoda taxa básica de juros. Manter a taxa de juros em 15% por período prolongado, com os indicadores mostrando queda da inflação, significa elevar os juros reais acima de 8%, um dos maiores do mundo.
o Banco Central vai iniciar um ciclo de cortes de juros em pleno período de eleições presidenciais.
A insistência da diretoria do Banco Central em elevar os juros e mantê-los em patamar elevado até março de 2026, gerou um outro tipo de avaliação entre analistas políticos e econômicos, conectando a política monetária com a política partidária. Estaria a autoridade monetária criando as condições para um movimento de redução gradual de juros em plena campanha das eleições presidenciais do próximo ano, beneficiando quem atualmente está à frente do executivo?
Não parece muito difícil relacionar o calendário da trajetória de redução da taxa básica de juros com o período das próximas eleições presidenciais.
À luz da experiência história e considerando o que está escrito na ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central e o compasso dos indicadores econômicos, é possível estimar que a Selic terá reduções graduais a partir de março de 2026, chegando a 12,5% até outubro.
Não será nenhuma novidade histórica a redução dos juros em período de campanha eleitoral. Estudos do padrão de atuação do Banco Central mostram que, nos últimos vinte anos, encerramento de trajetórias de aumento da taxa básica de juros e início de ciclos de redução aconteceram em 2002, 2006, 2010, 2014 e 2022.
Destaque para o ano de 2006 e 2022, anos finais dos primeiros mandatos dos presidentes Lula e Bolsonaro e campanha de reeleição para o segundo.
Naquele ano de 2006, o Copom reduziu os juros de 19,75%, em setembro de 2025, para 13,25% ao final de 2006. Apesar de patamar alto, transmitiu-se a sensação de queda da taxa de juros ao longo da campanha.
Em 2022, quando o presidente Bolsonaro tentou (e não conseguiu) a reeleição, a sensação deu-se em sentido contrário. A taxa de juros chegou, em 2020 ,ao menor patamar histórico de 2%. O Banco Central precisou aumentar a taxa Selic ao longo de 2021 e 2022, chegando a 13,75%, para combater os nocivos efeitos econômicos da pandemia causada pela covid-19. Mesmo tendo estancado o ciclo de alta em agosto de 2022, às vésperas do pleito, para a sociedade e agentes econômicos, prevaleceu a impressão de juros elevados em pleno ano eleitoral.
A ressalva é que a diretoria do Banco Central está mais blindada para tomar decisões técnicas independente de suas repercussões no ambiente político e mercadológico, graças à autonomia atribuída em lei pelo Congresso Nacional em 2021. E as condições macroeconômicas para um movimento de redução gradual dos juros estarão mais favoráveis daquelas verificadas em 2006 e 2022.
Mesmo com a autoridade monetária tendo sua autonomia constituída em lei, a maioria dos analistas econômicos apostam que, à semelhança do que ocorreu em outros anos de campanhas eleitorais, o Banco Central vai iniciar um ciclo de cortes de juros em pleno período de eleições presidenciais.
*Vivaldo Lopes é economista.
*Os artigos são de responsabilidade seus autores e não representam a opinião do Mídia Hoje.
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