A filosofia da mente é uma das áreas mais fascinantes e desafiadoras da filosofia contemporânea. Ao longo da história, pensadores têm se debruçado sobre questões fundamentais como a natureza da consciência, a relação entre mente e corpo, e a possibilidade de a inteligência artificial replicar a cognição humana, sendo esta a grande questão ética que se apresenta às reflexões filosóficas atuais.
Desde a antiguidade, filósofos tentam responder à questão: a mente é uma entidade separada do corpo ou apenas um fenômeno do cérebro físico? Uma das formulações clássicas desse problema é o dualismo cartesiano de René Descartes, que argumentava que a mente e o corpo são substâncias distintas. Segundo Descartes, a mente, como substância pensante (res cogitans), é separada do corpo material (res extensa), mas interage com ele de alguma maneira.
O dualismo, no entanto, enfrenta desafios significativos. Um dos principais é o problema da interação causal: como algo não material, como a mente, pode influenciar algo material, como o corpo? Em resposta a essas dificuldades, surgiram teorias alternativas, como o monismo materialista, que sustenta que apenas a matéria existe e que a mente é um produto da atividade cerebral.
O materialismo emergiu como uma resposta poderosa ao dualismo. Defensores do materialismo argumentam que todos os fenômenos mentais podem ser reduzidos a processos físicos no cérebro. O behaviorismo, por exemplo, sugeria que estados mentais não eram mais do que padrões de comportamento observáveis, descartando a necessidade de uma mente imaterial.
Com os avanços da neurociência, o fisicalismo tornou-se a perspectiva dominante. Segundo essa visão, estados mentais correspondem a estados cerebrais. A teoria da identidade mente-cérebro, defendida por filósofos como Smart, sustenta que cada experiência mental tem uma contraparte neural específica.
Contudo, essa visão também apresenta desafios. O problema da experiência subjetiva, ou o "problema difícil da consciência" de David Chalmers, questiona como processos físicos podem dar origem a “qualia” – a experiência subjetiva e qualitativa de estar consciente. Esse problema levou ao surgimento do funcionalismo e do “panpsiquismo” como alternativas teóricas.
O funcionalismo, influenciado pela ciência da computação, propõe que estados mentais são definidos não por sua composição material, mas por seu papel funcional num sistema. Essa visão permite a possibilidade de que máquinas possam, teoricamente, ter estados mentais, desde que sejam organizadas de maneira adequada para processar informação como um cérebro humano.
Poderia um sistema digital ter experiências subjetivas, ou a consciência requer um substrato biológico?
Isso levanta questões sobre a inteligência artificial (IA) e a consciência artificial. Uma IA forte, capaz de replicar a consciência humana, desafiaria nossa compreensão tradicional da mente. Testes como o de Turing tentam avaliar a inteligência das máquinas, mas a questão da consciência artificial permanece em aberto. Poderia um sistema digital ter experiências subjetivas, ou a consciência requer um substrato biológico?
Diante das limitações do materialismo e do funcionalismo, algumas correntes filosóficas têm ressuscitado perspectivas que atribuem consciência a uma parte fundamental da realidade. O panpsiquismo, por exemplo, sugere que a consciência é uma propriedade fundamental do universo, presente em graus variados em toda a matéria.
As novas teorias e descobertas aproximam a humanidade de uma compreensão mais profunda do que significa ser um ser pensante. Seja através do materialismo, do funcionalismo ou de hipóteses mais ousadas como o panpsiquismo, a busca pela natureza da mente continua a desafiar e expandir os limites do conhecimento humano.
É por aí...
*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito.
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