A escassez de mão de obra qualificada se tornou o novo pesadelo das empresas brasileiras. Com o mercado de trabalho aquecido e o desemprego em patamares historicamente baixos, milhares de vagas de empregos seguem abertas sem candidatos aptos a preenchê-las. Setores fundamentais da economia, como construção civil, indústria, varejo e tecnologia, enfrentam uma crise silenciosa, porém crescente, que ameaça investimentos, provoca atrasos em entregas e obriga companhias a rejeitar novos clientes.
Entre os setores mais afetados, a construção civil vive um verdadeiro apagão de profissionais.
De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), mais de 82% das construtoras relatam falta de trabalhadores para preencher as vagas disponíveis.
Como consequência, 21% das empresas do setor já estão atrasando entregas de edificações, e 18% começaram a repassar os custos do déficit de mão de obra aos preços dos imóveis — alimentando, assim, a pressão inflacionária.
A situação tem se tornado insustentável para muitas companhias, que enxergam a escassez de profissionais não apenas como um desafio, mas como um risco direto ao negócio.
Falta de engenheiros
Mesmo grandes corporações, como a Gerdau — maior produtora de aço do Brasil —, sentem os efeitos do descompasso entre oferta e demanda de profissionais.
O CEO da companhia, Gustavo Werneck, afirma que há escassez de mão de obra em diversas funções e faixas salariais.
Segundo ele, a Gerdau conseguiria contratar todos os engenheiros metalurgistas formados no país atualmente, tamanha a carência.
A empresa tem buscado parcerias com instituições de ensino para estimular o ingresso de alunos em cursos de engenharia, mas Werneck também aponta um entrave estrutural: os programas sociais.
Para o executivo, o desenho atual do Bolsa Família desestimula a formalização de empregos, já que o ingresso no mercado formal pode resultar na perda do benefício para milhares de brasileiros inscritos no CadÚnico.
Supermercados: 40 mil vagas não preenchidas
A Associação de Supermercados de São Paulo (Apas) também ligou o alerta.
Com quase 40 mil vagas de emprego abertas no setor e dificuldade em preenchê-las, a entidade enviou uma solicitação ao governo federal pedindo mudanças nos critérios de acesso aos benefícios sociais, como forma de incentivar o retorno de parte da população ao mercado formal.
A iniciativa visa reduzir a escassez de mão de obra que já começa a comprometer o atendimento ao consumidor e os resultados financeiros do setor supermercadista.
Siderurgia e óleo e gás adotam treinamento próprio para formar mão de obra
Na tentativa de contornar a escassez de mão de obra qualificada, empresas de setores como siderurgia e óleo e gás estão adotando abordagens criativas.
A Foresea, companhia especializada em sondas de petróleo, passou a contratar trabalhadores sem experiência e sem diploma universitário.
O único requisito é possuir ensino médio técnico em áreas como mecânica, eletrônica ou petróleo e gás.
A empresa desenvolveu o Programa de Desenvolvimento Offshore (PDO), que oferece um ano de capacitação teórica e outro de atividades supervisionadas.
A iniciativa é uma forma de preencher lacunas técnicas e também de reter talentos, já que a concorrência entre empresas por profissionais especializados é intensa — a rotatividade média no setor chega a 30%.
1 milhão de vagas de emprego
Segundo especialistas, o número de vagas de emprego ociosas no Brasil já pode ter ultrapassado a marca de 1 milhão.
E a expectativa é que esse número cresça em 2025, impulsionado por um mercado de trabalho mais aquecido e pela baixa qualificação dos candidatos disponíveis.
A Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) estima que o setor de tecnologia sozinho tenha 200 mil vagas abertas.
Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta a necessidade de formar 2,2 milhões de novos profissionais até 2027 para suprir a demanda da indústria nacional.
FGV-Ibre: escassez afeta preços, entregas e expansão
De acordo com o FGV-Ibre, 58% das empresas brasileiras relatam dificuldades para contratar. Os setores mais prejudicados são: construção (82,4%), varejo (77,3%), indústria (76,8%) e serviços (76,5%).
A escassez de mão de obra está levando 17,5% das companhias a atrasarem entregas, enquanto 8,4% já rejeitam novos clientes por incapacidade de atender à demanda.
Além disso, 15,9% das empresas estão revisando preços para compensar o aumento de custos com salários e benefícios.
Uberização e comportamento da Geração Z
Além das causas estruturais, fatores comportamentais também impactam o mercado de trabalho. A chamada “uberização” das relações profissionais atrai muitos trabalhadores menos qualificados para atividades informais em plataformas de transporte e entrega, que oferecem maior flexibilidade e, em muitos casos, rendimentos superiores aos salários formais.
A geração Z, que está ingressando agora no mercado, também contribui para a mudança. Jovens valorizam mais a flexibilidade, o trabalho remoto e menos formalização — o que representa um desafio para setores como supermercados, tradicionalmente vistos como porta de entrada para o primeiro emprego.
Perspectivas para o futuro
Para enfrentar a escassez de mão de obra e garantir o preenchimento das vagas de emprego em aberto, especialistas apontam a necessidade de ações conjuntas entre empresas, governo e instituições de ensino.
O investimento em capacitação profissional, a modernização das regras de benefícios sociais e a adaptação das políticas de recrutamento às novas gerações são caminhos apontados para reverter o quadro.
Sem medidas concretas, a falta de profissionais qualificados continuará a prejudicar a produtividade, os investimentos e o crescimento da economia brasileira — e manterá milhares de vagas de emprego sem destino certo.
*Via Clik Petróleo e Gás com informações do InvestNews
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