Além de destruir empresas, empregos e a economia brasileira, a operação Lava Jato jogou uma "pá de cal na democracia do país" ao criminalizar a política, disse especialista à Sputnik Brasil.
Segundo levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a operação fez o país perder R$ 172,2 bilhões.
O estudo, encomendado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), diz ainda que o Brasil deixou de arrecadar 40 vezes mais do que o valor recuperado com a operação (R$ 4,3 bilhões).
Para Clarisse Gurgel, professora da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), o relatório apenas confirma agora o que já era percebido no dia a dia da população brasileira. A cientista política diz que o levantamento "consegue traduzir por números fenômenos que têm sido cada vez mais cotidianos".
"Algo que já tinha se experimentado no dia a dia da população brasileira, mas que agora se confirma em dados e números mais precisos, que é um contexto de absoluto abandono de um país que foi devastado, seja no que diz respeito a sua natureza, ao seu desenvolvimento, a sua independência, seja no que diz respeito as suas liberdades, a sua participação popular, a sua democracia e as suas instituições republicanas", disse Gurgel.
Empregos destruídos
O estudo do Dieese também indica que o país deixou de arrecadar R$ 47,4 bilhões em impostos. Dessa quantia, R$ 20,3 bilhões seriam em contribuições sobre a folha de salários.
Segundo o levantamento, as consequências da operação Lava Jato provocaram o fechamento de 4,4 milhões de empregos. O setor mais afetado foi o da construção civil, que perdeu 1,1 milhão de postos de trabalho no país.
Para Gurgel, empreiteiras "foram cirurgicamente perseguidas pela Lava Jato", que, segundo ela, teve como resultado nefasto a perda de investimentos que essas empresas e a Petrobras geravam. Além disso, Gurgel ressalta que esses empregos produziam "consumo e tributos".
"Tudo aquilo que o governo Lula e o governo Dilma produziram de perspectiva de autonomia na geração de empregos e mercado, ruiu a partir do governo Temer e Bolsonaro", disse a professora.
Na segunda-feira (8) a Lava Jato sofreu um duro golpe, com a anulação de duas condenações e dois processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o ex-juiz Sergio Moro, que foi titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, não era o "juiz natural" dos casos. A Procuradoria-Geral da República (PGR) deve recorrer da decisão.
'Manto de neutralidade'
Para Clarisse Gurgel, a Lava Jato, sob um "manto de neutralidade e imparcialidade", combateu uma política de autonomia brasileira em relação aos Estados Unidos, e de aproximação com novos parceiros, como países da África, América Latina e China, e que tinha como uma de suas bases o "fortalecimento de empreiteiras e da Petrobras".
Em relação ao aspecto político, Gurgel diz que a Lava Jato "não pode ser subestimada", pois "representou muita coisa para o Brasil".
"Ela foi o pano de fundo legitimizador de uma política de criminalização da política. Foi a partir da Lava Jato, a partir, principalmente, da figura de Moro, que a política pôde ser afastada da perspectiva do brasileiro, que já sofre, desde a década de 50, uma restrição da democracia por imposição dos norte-americanos", avaliou a especialista.
'Expurgar a política'
Segundo ela, a Lava Jato, ancorada em uma falsa pretensão de imparcialidade, buscou imprimir uma "espécie de assepsia e higienismo da sociedade brasileira como um todo".
Para a pesquisadora, é como se tivesse ocorrido uma "transferência de poder para o judiciário", que passou a "ser o mais apto a dizer quem deve ter poder ou não". Segundo ela, a democracia brasileira, que já era frágil, sofreu um golpe brutal a partir da Lava Jato e seus desdobramentos.
"É como se o judiciário viesse para expurgar a política da vida dos brasileiros. Isso fez com que se terminasse de colocar uma pá de cal na democracia do país", disse Clarisse Gurgel.
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