Neste sábado (08), os restos de um foguete Long March 5B chinês devem cair na Terra. O problema é que esses destroços possivelmente pesam várias toneladas e ninguém conseguiu descobrir onde será o ponto exato da reentrada descontrolada.
Segundo os cálculos científicos realizados até o momento, a órbita do objeto indica que os possíveis pontos de pouso estão em qualquer lugar na faixa de latitude que vai do norte – pouco além de Nova York, Madri e Pequim – até o ponto mais ao sul do Chile e a cidade de Wellington, na Nova Zelândia. A possibilidade da queda em território americano vêm preocupando os Estados Unidos, que está monitorando a faixa que pode ser atingida.
Para Wang Ya'nan, editor-chefe a revista Aerospace Knowledge, o perigo é quase nulo: "a maior parte dos destroços queimará durante a reentrada na atmosfera terrestre, deixando apenas uma pequena porção que pode cair no solo, e que deverá pousar em áreas distantes das atividades humanas ou no oceano", disse em entrevista ao China Global Times, que pertence ao grupo oficial do Partido Comunista chinês.
Lixo espacial produzido por humanos
O professor Steven Freeland, membro do Conselho Consultivo da Agência Espacial Australiana, afirmou em um artigo publicado no site The Conversation, que estes devem ser alguns dos maiores destroços produzidos pelo ser humano a reentrarem na nossa atmosfera.
O foguete que está em rota de colisão com a Terra decolou no dia 29 de abril do espaçoporto de Wenchang, na China, levando o módulo Tianhe – parte central do que será a Tiangong-3, a próxima estação espacial chinesa – para a órbita. Após 492 segundos de voo, ele está voltando lenta e imprevisivelmente para nosso planeta.
Módulo central Tianhe foi lançado pela China no final de abril. Fonte: CMSEO/Gao Jian
O incidente ocorre um ano após outro caso similar, quando, em 11 de maio de 2020, os restos de outro foguete chinês caíram na Terra, mais precisamente no Oceano Atlântico. Antes de cair, no entanto, o objeto deixou pedaços por vilarejos da Costa do Marfim, na África.
Grandes incidentes na corrida espacial
Freeland enumerou alguns casos de queda de lixo espacial na Austrália. Segundo o acadêmico, o país detém o recorde de local atingido pelo maior pedaço de lixo espacial: em 1979, a estação americana SkyLab se desintegrou sobre o oeste australiano, deixando destroços por toda a cidade costeira de Esperance.
Desde a década de 70 pedaços de lixo espacial caem na Terra regularmente e são vistos com preocupação. Embora o incidente com a Skylab não tenha deixado feridos, esses eventos são potencialmente perigosos: mais de 70% da Terra são cobertos por oceanos, mas o problema são os 30% que restam. O professor afirma que as consequências podem ser desastrosas.
Em 1978 o satélite soviético de vigilância Cosmos 954 – movido a energia nuclear – não caiu em Toronto ou Quebec, no Canadá, por muito pouco. A queda de material radioativo, segundo o consultor, resultaria em uma evacuação de larga escala.
Primeiros destroços encontrados do satélite Cosmos-954Fonte: Wikimedia
Já em 2007, pedaços de um satélite russo quase atingiram o passageiro de um voo entre Santiago, no Chile, e Auckland, na Nova Zelândia. "Quanto mais enviamos objetos para o espaço, mais aumentamos a chance de um desastroso pouso forçado", explicou.
China deve pagar a conta
A Convenção sobre Responsabilidade Internacional por Danos Causados por Objetos Espaciais de Londres, um tratado da ONU de 1972, impõe regras aos países que lançam objetos no espaço. Entre os possíveis danos desta exploração, uma cláusula inclui lixo espacial atingindo a Terra: é um caso de responsabilidade absoluta.
A cláusula só foi invocada uma vez: no acidente com o satélite Cosmos 954, quando o Canadá cobrou 6 milhões de dólares canadenses da União Soviética, mas acabou fechando acordo em 3 milhões.
Na opinião de Freeman, um sistema de tráfico espacial globalmente coordenado será vital para evitar acidentes futuros – como colisões que podem resultar na perda de controle de satélites, que por sua vez podem se tornar lixo espacial em rota de colisão com a Terra. E disse: "Cooperação global é essencial se quisermos evitar um futuro insustentável para nossas atividades espaciais".
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