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conversa da semana Terça-feira, 13 de Agosto de 2019, 08:17 - A | A

Terça-feira, 13 de Agosto de 2019, 08h:17 - A | A

Memória perdida?

Amigos do Centro Histórico cobram governos e pedem pacto às famílias cuiabanas

Grupo realiza a 1ª semana do Patrimônio Histórico de Cuiabá; programação inclui pesquisadores em história, arquitetura e artistas

Redação/Midia Hoje

Cuiabá tem um centro histórico fabuloso, mas que pede socorro. Muita gente tem alertado há anos sobre a necessidade de uma ação efetiva, uma política de preservação das igrejas, casarões e outros imóveis que compõem o acervo arquitetônico da área e a sua beleza única, de valor inestimável.

O centenário Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT) é um deles. A Academia Mato-grossense de Letras (AML) é outro. Infelizmente, porém, são vozes muitas vezes esquecidas pelos governos de plantão. Somando à elas, no entanto, começam a emerger outras vozes na sociedade.

Os Amigos do Centro Histórico de Cuiaba (ACHC), entidade formada por voluntários, é uma delas. Nasceu depois das verdadeiras tragédias ocorridas com casarões históricos da nossa capital, como a Casa de Bem-Bem e a Gráfica do Pêpe, que sem manutenção foram literalmente ao chão depois de chuvaradas.  

Localizada na Rua Barão de Melgaço, no Centro Histórico da Capital, o Casarão do Nhô-Nhô de Manduca – Dona Codó – Dona Bem-Bem, foi construída em 1850, em estilo colonial. A casa faz parte do patrimônio histórico de Cuiabá desde 1998. O local é marcado como ponto de encontro da cuiabania nas antigas festas de São Benedito. A Gráfica do Pêpe é um casarão do final do século XIX e que deu origem à primeira gráfica e papelaria de Cuiabá, em 1940, na rua Sete de Setembro.

Formado por voluntários representando instituições como CDL Cuiabá, ACC (Associação Comercial e Empresarial de Cuiabá), Secretaria de Cultura, Fecomércio, FCDL-MT, Iphan, Academia de Arquitetura e Urbanismo, UFMT, Univag, Sincalco, Sincotec, Sesc, Associação dos Comerciantes da Praça da Mandioca, Associação Cuiabana de Comida de Rua, ou simplesmente empresários, profissionais liberais e artistas, o ACHC é exatamente o que parece: uma manifestação, um grito, um alerta. Pessoas comuns em busca de uma ação comum: o resgate de uma política de preservação do Centro Histórico da capital.

O ACHC realiza essa semana uma das suas primeiras ações, que é a 1ª Semana do Patrimônio Histórico de Cuiabá. Reuniões, palestras, shows artísticos... A meta? Conscientizar as pessoas sobre o valor do patrimônio histórico da Capital, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1993. A área tombada abrange a configuração urbana construída até o final do período colonial e corresponde à cerca de 10% da central da cidade, onde estão os primeiros monumentos e os casarios construídos nas vias urbanas abertas a partir da descoberta de ouro, em 1721, às margens do rio Cuiabá. A fase de mineração definiu os eixos de ocupação do povoado, logo elevado à categoria de vila e, mais tarde, à capital.  

Nessa área estão as ruas mais antigas de Cuiabá e equipamentos que documentam momentos marcantes da história da cidade, tanto no que se refere aos materiais e técnicas de construção quanto aos estilos. As antigas ruas de Baixo, do Meio e de Cima (atualmente, as ruas Galdino Pimentel, Ricardo Franco e Pedro Celestino) e suas travessas ainda mantem bem preservadas as características arquitetônicas das casas e sobrados.

Gláucia Lôbo, uma das lideranças do ACHC

Gláucia Lôbo, uma das lideranças do ACHC

Uma das integrantes do Amigos do Centro Histórico é Gláucia Lôbo. Empresária, pós-graduada em design, professora, Gláucia é neta de Bento Machado Lôbo, ex-prefeito da passagem dos 250 anos de Cuiabá. Nessa entrevista, Gláucia fala da iniciativa de amigos do centro histórico se unirem. "Infelizmente, como em qualquer outra política pública, não há articulações entre os entes", constata Gláucia, informando que um dos objetivos do ACHC é implementar um plano de gestão sustentável da área. Ela cobra ações da prefeitura, como a implementação do IPTU Progressivo; do Iphan, com falta de servidores; e do Estado, que não possui uma política de restauração de bens tombados. Às famílias cuiabanas, faz um apelo: "É preciso estabelecer um pacto das famílias cuiabanas com as instituições públicas, em defesa da nossa história e das nossas memórias."

 

 

Acompanhe a entrevista:

 

Midia Hoje (MH) Como surgiu a iniciativa de criar Associação dos Amigos do Centro Histórico de Cuiabá?

Gláucia: Após as tragédias que destruíram a Casa de Bem-Bem e, posteriormente o Casarão da Gráfica Pêpe, no começo desse ano, um grupo de amigos, cansados de ver a destruição de nosso patrimônio, decidiu se mobilizar, de maneira espontânea. Daí, surgiu o Grupo de Amigos do Centro Histórico de Cuiabá. 

(MH) Fale sobre a agenda de mobilizações dessa semana?

Gláucia: A 1ª semana do Patrimônio Histórico de Cuiabá reúne, em sua programação, pesquisadores em história, arquitetura e artistas, que discutirão com a sociedade o valor do patrimônio histórico e cultural para as memórias sociais. Os dois pontos altos são o debate sobre as Políticas Públicas e Soluções Práticas para a Gestão do Patrimônio Histórico de Cuiabá(16/08)  e a Manifestação na Praça Alencastro, no dia 17/08,  sábado. 

(MH) Quais os próximos passos?

Gláucia: Faremos ações que visam a sensibilização e a educação patrimonial, durante o ano todo, não podemos deixar essa iniciativa morrer, como tantas outras.

(MH) Falta empenho do Poder Público para garantir uma revitalização contínua do Centro Histórico?

Gláucia: Do ponto de vista jurídico e político, a responsabilidade da gestão dos imóveis que são tombados pelo IPHAN e Secretaria de Estado de Cultura, são dos três entes federais. A prefeitura já deveria ter implantado o IPTU progressivo, que desapropria imóveis, já deveria ter feito um plano de gestão sustentável do Centro Histórico e, por último, deveria ter concluído o restauro do PAC Cidades Históricas, que se encontra, hoje, paralisado. Em relação à Secretaria de Estado de Cultura, deveria ter uma política de restauração dos bens tombados pelo Estado, as últimas reformas são de 2003, não existe fiscalização e recursos para o Patrimônio Histórico e os museus, que estão sob a sua responsabilidade e outros equipamentos, estão fechados. O IPHAN não tem número de técnicos suficientes para fiscalização dos imóveis, produção de projetos e, muito menos, recursos financeiros para realizar novas restaurações. Com esse propósito, na última segunda feira (12/08), nos reunimos com o prefeito municipal e os secretários afins, onde apresentamos nossas demandas e definimos uma agenda de ação imediata para a retomada das obras do PAC, a construção  do plano municipal de gestão do patrimônio e a aplicação do IPTU progressivo. 

(MH) Prefeitura, governo do Estado e governo federal, através do Iphan, conversam sobre ações no Centro Histórico ou cada um, à sua maneira, faz as intervenções?

Gláucia: Infelizmente, como em qualquer outra política pública, não há articulações entre os entes.  Por isso este grupo propôs, através da universidade federal, a elaboração de um Plano de Gestão Sustentável do Patrimônio Histórico de Cuiabá onde, serão definidas as tarefas de cada governança, de forma democrática com a sociedade. Precisamos sair do paliativíssimo e construir políticas públicas, sistêmicas, integradas e não soluções pontuais.

(MH) Os proprietários de imóveis na área colaboram?

Gláucia: Assim como o poder público, há um grau de responsabilidade direta dos proprietários dos imóveis, alguns se tornaram brigas e espólios familiares, sendo inúmeros herdeiros sem condições financeiras de pagar pelos complexos e caros projetos de restaurações. Ficando os imóveis, por falta de um mercado imobiliário atrativo, à mercê da sorte e expostos às ações de vândalos, da população de rua e aos efeitos danosos da ação do tempo. Inclusive, esses imóveis poderiam ser cedidos, pelos proprietários, para dar destinação social, uma vez que existem várias entidades interessadas em utilizá-los. É preciso estabelecer um pacto das famílias cuiabanas com as instituições públicas, em defesa da nossa história e das nossas memórias.

(MH) Vimos recentemente paredes de casarões caindo... e como conciliar a exploração comercial de áreas como a da Praça da Mandioca, nossa Times Square, com os moradores próximos? 

Gláucia: São dois caminhos, a educação patrimonial, com o envolvimento direto da sociedade do entorno e a construção do empenho sustentável de gestão com a participação, inclusive do Ministério Público, se transformando posteriormente em uma lei municipal. Estará assim, definido os interesses das iniciativas privadas, a ordem pública e a preservação do patrimônio histórico. O Espaço Cultural da Mandioca, é um exemplo de como podemos reocupar o Centro Histórico com finalidade cultural de lazer. Não podemos deixar que essa ideia se acabe. Por isso finalizaremos nossa programação com uma grande manifestação cultural na Praça da Mandioca, teremos o Show Popular do Trio Pescuma, Henrique e Claudinho, às 18h, entre outros vários artistas regionais.

(MH) Como interessados em ajudar ou participar da Associação podem fazer?

Gláucia: Participando da Programação da 1ª Semana do Patrimônio Histórico de Cuiabá, nos adicionando nas redes sociais.

 

Abaixo link contato com o Grupo no Facebook.

*https://www.facebook.com/Amigos-do-Centro-Hist%C3%B3rico-de-Cuiab%C3%A1-602662093495387/

 

 

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