Logo que assumi a reitoria da UFMT, recebemos três bolsas de estudos da LASPAU, uma organização americana para estudantes latinos americanos.
Foram selecionados os professores Clóvis Nobre de Miranda, Edson Pacheco de Almeida e Juacy Silva.
Clóvis Miranda era de uma família de professoras, de pais trabalhadores.
Nasceu no Porto onde moravam seus pais, sendo sua bisavó por parte de pai, alemã.
Depois, seu pai foi morar em Bonsucesso, em Várzea Grande.
Tinha uma pequena e clandestina fábrica de pinga rio abaixo.
Clóvis Nobre de Miranda tem mestrado e doutorado nos Estados Unidos em Boston, em planejamento e relações internacionais.
Retornou para a UFMT onde lecionou e ocupou vários cargos importantes.
Tem especialização em irrigação rural, no México, é agrônomo e professor aposentado da universidade, mora em uma chácara na estrada de Santo Antônio.
Casou com uma bolsista chilena que estudava nos Estados Unidos, e retornaram para Cuiabá.
A Evelyn, sua mulher, foi a primeira acupunturista da cidade, e atendia seus inúmeros clientes, na sua clínica do bairro Boa Esperança.
Seus dois primeiros filhos nasceram comigo no Hospital Geral, ela com as agulhinhas espetadas pelo corpo, como analgesia.
Fez questão da presença do seu marido na sala de partos para manipular as agulhinhas.
Édson Pacheco de Almeida é cuiabano do Porto, onde o seu pai tinha um pequeno comércio de “secos e molhados”. Vendia a pinga fabricada pelo pai do Clóvis de Miranda, bem mais em conta por não possuir documentos.
Concluiu seu curso de sociologia, política e administração pública no Paraná, onde se casou com a sua colega paranaense Maria Izabel.
Logo aproveitei-o na secretaria de educação, levando-o depois para a universidade, assim como a sua mulher.
Fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, Direito na UFMT, onde exerceu vários cargos importantes.
Certa ocasião participamos de um Congresso Internacional no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA), em Manaus, cuja Presidência foi do médico-pesquisador, Dr. Paulo de Almeida Machado.
Eu e o Édson ficamos hospedados no mesmo quarto do hotel para economizarmos as diárias.
Cansado, fui dormir cedo, após um dia de reuniões.
Quando acordamos para o café da manhã no quarto, notei que o meu companheiro tinha uma touca de seda de meia na cabeça, com a qual tinha dormido.
Perguntei sobre essa extravagância e, sorrindo, ele me respondeu que sempre dormia assim para “alisar o seu cabelo”.
Mora em Cuiabá e nosso último encontro, em que eu não o reconheci, aconteceu no lançamento do último livro do acadêmico Benedito Pedro Dorileo, no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, em 15-06-2019.
Juacy Silva nasceu em Presidente Prudente (SP), filho de trabalhadores rurais, foi criado na região de Dourados (MS) e graduou-se na 1ª Faculdade de Sociologia do Brasil (USP).
Sabe por experiência própria o que é pobreza e discriminação.
Isso, porém, nunca o intimidou ao longo da vida.
Chegou em Cuiabá em 1967, trabalhou no Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário.
Em 1968 iniciou a carreira docente no ICLC, embrião da UFMT.
Foi um dos fundadores da Federação dos Trabalhadores Rurais de Mato Grosso.
Em 1969 casou com a cuiabana e bioquímica Afife Bussiki, nossa colega no Hospital Adauto Botelho, com quem viveu por mais de 52 anos.
Juacy fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, retornando à universidade onde lecionou e ocupou cargos importantes.
Durante anos foi cedido pela UFMT, para ser professor na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, onde foi Diretor da Divisão de Pesquisa e Doutrina, tendo ainda exercido outros cargos importantes.
Após aposentar-se da UFMT, foi secretário de planejamento de Cuiabá (Meirelles), e diretor executivo do instituto de pesquisa e desenvolvimento da Prefeitura (Wilson Santos).
Foi também Delegado dos Diplomados da Escola Superior de Guerra em Mato Grosso.
Pertence a várias associações sociais.
Tem três filhas cuiabanas e, todas estudaram e se graduaram em cursos superiores nos Estados Unidos.
Casaram com americanos e brasileiro, tendo cinco netos americanos e uma belga.
Há vinte anos passou a morar lá e cá.
Afife, sua mulher, faleceu recentemente lá, e está sepultada no Cemitério São Francisco em Várzea Grande.
Perguntei recentemente a ele como um jovem feio, pobre, sestroso, sem vaidade, chega aqui e se casa com uma mulher bem-educada, bonita e rica!
Ele me respondeu:
Naquela época tinha longos cabelos, bigode e barba pretos!
*Gabriel Novis Neves
https://bar-do-bugre.blogspot.com/2022
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