A semana iniciou com seus moradores sem entenderem o que havia acontecido: seu médico morreu!
No dia anterior à sua morte, ele passou com seus amigos do Complexo Hospitalar Jardim Cuiabá reunidos na festa de confraternização de final de ano.
Passou o dia cantando, tocando violão com um grupo, e era também ritmista.
Depois foi descansar em sua casa que ficava nas proximidades do Hospital.
Sua mulher, filho médico e filha de sete anos estavam em viagem de férias na Disneylândia, Estados Unidos da América do Norte.
Dr. Nadim por duas vezes teve oportunidade de nos deixar.
A primeira vez quando sofreu ruptura de um aneurisma havendo necessidade de um enxerto.
Foi transferido em um jatinho do seu plano de saúde para a cidade de São Paulo, onde foi operado com sucesso, retornando para Cuiabá.
A outra vez foi quando acometido pelo Covid 19 não teve condições de ser removido da UTI.
Permaneceu por semanas internado e obteve alta hospitalar para casa, sucesso esse alcançado pelas correntes de orações dos seus amigos, e competência dos médicos que o trataram.
Voltou a exercer as suas funções de médico no Jardim Cuiabá, e também na Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, reformado na patente de Coronel.
Sou bem mais velho que ele, e o hospital do meu dia a dia não era o seu.
Conheci Nadim quando estava montando o curso de medicina da UNIC.
Precisava de um cirurgião de “mão cheia” para lecionar a disciplina cirurgia geral para os alunos do quinto e sexto ano.
Aqueles que eu conhecia já eram professores de medicina da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, a pioneira.
Conversando com o neurocirurgião Nicandro Figueiredo, professor da Universidade de Cuiabá, sobre as minhas dificuldades ele me respondeu:
“Chame o Nadim”.
Depois me passou oralmente o seu currículo.
Nicandro saiu do meu gabinete com o contrato do Nadim e com a recomendação de iniciar os seus trabalhos no dia seguinte no antigo Hospital Geral de Cuiabá.
Ele era conhecido entre os colegas como o médico dos casos difíceis.
Depois que deixei a direção da faculdade de medicina perdi o relacionamento com o grande mestre humanitário.
As notícias sobre seu falecimento me chegaram através de irmãos, cunhada e sobrinhos, que sempre trataram os seus males com ele.
Ele primeiro cuidava do paciente, e só depois discutia seu honorário, que ficava a cargo deste.
Nadim vivia no hospital, estando sempre disponível para socorrer aqueles que precisavam de um médico.
Acho que ele não tinha a menor ideia do quanto era querido pela nossa gente.
Morreu com dignidade, vítima de um infarto do miocárdio em casa, e lá de cima deve ter constatado também como era querido na Polícia Militar, local do velório e translado do corpo até o cemitério.
O cuiabano reconheceu o seu humanismo e espírito de caridade ao próximo.
Cuiabá perdeu o seu cirurgião geral, e em situações de dificuldades médicas não poderão mais dizer:
“Chame o Nadim!”
*Gabriel Novis Neves
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