Meu pai durante cinquenta anos trabalhou com bebidas, seus consumidores e efeitos do álcool.
Isso despertou a curiosidade de um professor de sociologia da nossa universidade federal, que me perguntou se alguma vez o meu pai tinha tratado desse assunto comigo ou tinha alguma opinião sobre o assunto.
Durante seis anos (1966-1972) lecionei Psiquiatria Forense para os alunos da faculdade de Direito.
Estudei muito o assunto da embriaguez patológica e epilepsia alcoólica e atendi alguns pacientes com essa patologia, nunca no Bar do Bugre.
Não me lembro de nenhum comentário do meu pai com relação a esse assunto, tanto que em cinquenta anos de atividade comercial, nunca houve nada de grave no seu bar sendo necessário chamar a polícia ou serviço médico.
Meu pai não comercializava, e nunca vi em suas prateleiras destilados fortes como a cachaça raiz, mais conhecida como pinga ou aguardente.
O consumo alcoólico no bar era predominantemente de cervejas, conhaque e vermute cinzano.
Vendia para ser ingerido em casa, vinho e whisky.
Quando algum freguês se excedia falando alto demais, era gentilmente convidado a se retirar e a ordem era não o servir mais.
O Médico Gabriel Novis Neves, funcionários e pacientes no time de futebol do Hospital Adauto Botelho
Essa estratégia deu certo e nunca um freguês alterado pela bebida sacou uma arma, embora muitos usassem esse método de defesa e poderia citar alguns que conheci.
Meu pai e funcionários não tinham armas e não sabiam utilizá-las.
Os bares de antigamente, tinham salas de jogos ditos de azar e bilhar, locais de muita confusão, mas no do meu pai só existia quando solicitado o inocente bozó.
Meu pai nunca tomou um copo de cerveja no bar, embora em condições especiais, abria uma garrafa de whisky “Cavalo Branco” que compartilhava com seu sobrinho General Roberto Cunha.
Colocava a garrafa atrás da balança do balcão, os dois copos com gelo, à esquerda da Caixa Registradora, onde sentado em um banco de madeira alto, controlava o movimento do bar.
Em casa ele tomava vinho português, e nunca “passou do ponto” produzindo preocupações.
Diz a lenda que o dia que meu pai abusou do whisky, foi quando recebeu o meu telegrama dizendo que tinha sido aprovado no vestibular de medicina da Praia Vermelha em 1955!
Sua alegria era tanta, que mostrava o telegrama a todos que iam ao bar durante semanas, sem restrições de classes sociais.
Meu pai era dotado de uma inteligência emocional e gerenciava seus sentimentos de maneira eficiente e eficaz.
Deixou de herança um compêndio de como viver bem e honestamente, educando seus nove filhos para a vida.
*Gabriel Novis Neves
https://bar-do-bugre.blogspot.com
Nossas notícias em primeira mão para você! Link do grupo MIDIA HOJE: WHATSAPP