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opinião Sábado, 22 de Maio de 2021, 12:38 - A | A

Sábado, 22 de Maio de 2021, 12h:38 - A | A

OPINIÃO

A humanidade e o terceiro aviso

* Nestor F. Fidelis

Reprodução

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Conversando com Afro Stefanini II, tivemos a ideia de compartilhar reflexões a respeito de fatos-avisos que a humanidade tem recebido ao longo da história, relativamente às situações nas quais há claro descontrole mundial capaz de ocasionar a extinção de civilizações.

O amigo Afro, comunicador, psicólogo, exímio pensador e autor do livro “A psicologia das virtudes”, escrito em parceria com Albérico Cony Cavalcanti, com quem guarda afinidades acadêmicas e ideológicas, fez uma analogia entre o que chamamos de “avisos” e a história infantil dos três porquinhos. No conto dois porquinhos preferem se entreter e constroem casas menos reforçadas, um com palha e outro com pedaços de madeira, ao passo que o terceiro, previdente, edificou sua casa com tijolos e cimento. Na história que ouvimos quando éramos crianças, surge um lobo que sopra e derruba a casa de palha e depois faz o mesmo com a casa de madeira, trazendo para os dois porquinhos imprevidentes a necessidade de se abrigarem o parceiro que tinha a sua casa mais segura, contra a qual o lobo sobrou, mas não conseguiu derrubar. E mais, ao tentar adentrar naquela casa segura pela chaminé, se deu mal, vindo a cair sobre o fogo.

Trazendo essa analogia para o contexto da humanidade, passamos pelo primeiro aviso (casa de palha) a partir de agosto de 1945, quando as bombas atômicas foram lançadas sobre cidades japonesas e ficou evidente que aquele poderio nuclear tinha condições de destruir a vida no planeta. Nos anos seguintes, vimos as potências antagônicas no mundo exibirem testes nucleares, partirem para a conquista do espaço, mas jamais utilizaram desse poderio nas mais diversas guerras que existiram, ou continuam existindo, haja vista o evidente descontrole sobre os efeitos danosos de tais armas, ao ponto que após a Segunda Guerra foi criada a Organização das Nações Unidas e todos os esforços diplomáticos vem sendo realizados para a manutenção do controle e dos acordos nucleares entre as nações.

No entanto, no fim de 2019 uma das formas de um vírus se espalhou pelo mundo globalizado, tendo causado 3,44 milhões de mortes humanas na Terra até a presente data. Doença desconhecida pelos cientistas de todas as áreas e, inclusive, dos profissionais da saúde, a Covid-19 se alastrou de modo pandêmico, destruindo sonhos, famílias, economias, causando desespero, medo, necessidade de afastamento social, principalmente em relação a idosos, gerando o aumento das doenças de origem emocional, dentre outros males. Em tempo recorde, vacinas foram criadas e as pessoas vem recebendo essa intervenção imunizante, infelizmente a passos lentos, e que não tem eficácia totalmente comprovada, sobretudo por conta de novas variantes que surgem em diversos locais. Estamos diante de um segundo aviso de descontrole mundial sobre um fato gravíssimo, inobstante o empenho da ciência em mitigar seus efeitos e, quiçá, em breve, cedo ou tarde, podermos voltar ao normal com os aprendizados imperiosos.

Luke Kemp, autor de um artigo que faz parte de uma nova série da BBC Future chamada "Deep Civilisation” sobre uma visão humanidade ao longo do tempo, narra que as grandes civilizações não são exterminadas, mas acabam com a própria existência, de acordo com o pensamento de Arnold Toynbee (Um Estudo da História) que analisou a ascensão e a queda de 28 civilizações diferentes, concluindo que as civilizações são responsáveis por seu próprio declínio, que podemos aprender com essas análises por conta do padrão que se repete e, principalmente, quais são as forças que antecipam ou atrasam a destruição de civilizações.

Neste momento, resta nítido que todo avanço tecnológico já alcançado, mas dissociado do desenvolvimento de valores morais, não foi capaz de nos impedir de utilizar imprevidentemente de nossa liberdade para explorar os recursos naturais da Terra sem os cuidados de preservação das riquezas da natureza que, dessa forma, são finitas.

Antes de 1945 não havia a preocupação com a possibilidade de destruição do planeta. Agora, estamos diante do terceiro aviso muito claro de que urge mudar, assumir responsabilidades e agir, pois não temos condições de migrar de um planeta para outro, ou seja, dessa vez não há para onde fugir!

Os sinais de um possível colapso são cristalinos: os fenômenos de alterações climáticas; a degradação do meio ambiente; a cada vez maior concentração de riquezas com uma minoria; a burocracia estatal; a violência; as guerras; dentre outros.

Não temos a mínima pretensão de trazer remédios prontos para situações tão complexas que revelam o estado patológico em que deixamos a vida natural no planeta. Entretanto, diante desse aviso consubstanciado nos referidos sinais, seria injusto e nada produtivo deixar de apresentar nossas propostas iniciais para fazer frente a tudo isso.

Sem dúvida alguma, uma nova educação deve surgir, não embasada na necessidade de decorar, de competir, de privilegiar posturas egoístas sem um senso mínimo de responsabilidade coletiva, mas focada no desenvolvimento da inteligência emocional e moral, na capacidade de autoanálise do ser em seu sentido integral para que cada indivíduo torne-se cada vez mais independente em todos os aspectos,

Sem dúvida alguma, uma nova educação deve surgir, não embasada na necessidade de decorar, de competir, de privilegiar posturas egoístas sem um senso mínimo de responsabilidade coletiva, mas focada no desenvolvimento da inteligência emocional e moral, na capacidade de autoanálise do ser em seu sentido integral para que cada indivíduo torne-se cada vez mais independente em todos os aspectos, embora ciente de sua interdependência social e coletiva, respeitando a vida em todas as suas expressões por meio de atividades autossustentáveis. Isso nos permite concluir, exemplificativamente, que a implantação da coleta seletiva, a destinação adequada dos resíduos, o incentivo às inovações tecnológicas, como as fontes alternativas de produção de energia e que permitem a diversificação da economia, sejam medidas de caráter emergencial.

Da mesma forma, urge estimular o exercício da solidariedade e da empatia nas relações para que as desigualdades sociais e a concentração de poder deixem de produzir as tensões e as guerras de todas as espécies, o que se espera conseguir com maior participação de todos na construção dialogada não-violenta das políticas públicas, principalmente por parte dos jovens avessos ao populismo e ao pouco pragmatismo decorrente da burocracia que ainda impera sobretudo no Poder Público, ainda afeto à posturas que mais nos fazem lembrar dos tempos da vaidade e da suntuosidade dos monarcas.

Mais participação, mas, também, mais parcerias entre o Poder Público, as empresas e o Terceiro Setor, sempre na busca de efetividade com afetividade. O atual descontrole pode nos levar à destruição das fontes de vida. Porém, temos ciência e consciência de que é possível reverter esse quadro, atentos aos sinais e aos mecanismos de progresso com preservação.

*Nestor F. Fidelis

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