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opinião Segunda-feira, 17 de Junho de 2024, 09:21 - A | A

Segunda-feira, 17 de Junho de 2024, 09h:21 - A | A

OPINIÃO

30 ANOS DO PLANO REAL

*VIVALDO LOPES

 

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Em junho de 1994 o Brasil tomava conhecimento da nova moeda do país, o real, que começaria a circular em 1º. de julho daquele ano. O novo padrão monetário era parte importante do Plano Real, o mais bem sucedido plano de estabilidade macroeconômica do país.

 

A criação da nova moeda foi a mais relevante e sensível etapa do plano que teve sua implantação iniciada em maio de 1993 quando o então Presidente da República Itamar Franco nomeou o sociólogo e senador Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda com o principal objetivo de tirar o Brasil da hiperinflação.

 

Sob a liderança de Fernando Henrique Cardoso, um grupo de brilhantes e estudiosos economistas que já desenvolviam teses e ensaios acadêmicos sobre combate à hiperinflação e transição pacífica para a estabilidade macroeconômica, aceitaram o desafio profissional de desenvolver e implantar um plano que conduzisse o Brasil à estabilidade econômica, monetária e cambial.

 

O Plano Real foi concebido para ser implantado em três fases.

 

Na primeira, foi executado grande ajuste fiscal para aumentar a arrecadação, reduzir gastos, renegociar dívidas dos estados, reestruturar o sistema bancário.  Na segunda fase foi criada uma moeda escritural, Unidade Real de Valor (URV) que fez a transição para a nova moeda. E na terceira etapa foi introduzido um novo padrão monetário, com a nova moeda, o real, e a mudança do sistema de câmbio fixo para flutuante.

 

Ouso dizer que a estruturação macroeconômica, inovação teórica, e pleno sucesso na implantação sem traumas sociais poderiam valer o Prêmio Nobel de Economia aos seus autores.

 

Uma nação é reconhecida pelo seu hino, bandeira, constituição e sua moeda. Após rotundos fracassos de vários planos que tentaram acabar sem sucesso com a hiperinflação, o país praticamente não tinha uma moeda. Naquele período, o Brasil enfrentava uma das mais ferozes crises inflacionárias do mundo.

 

Às vésperas do lançamento da nova moeda, junho de 1994, a inflação brasileira chegou à inacreditável cifra de 4.922% (IPCA/IBGE) em doze meses. Mesmo com a implantação do Plano Real, que foi abraçado pela população, ao final de 1994 a inflação ainda persistia em 916% ao ano.

 

A estabilização de preços e domesticação da inflação somente vieram nos anos seguintes.

 

A implantação do plano não foi nada fácil. Além do ceticismo inicial da população, enfrentou enormes resistências políticas da oposição, especialmente, do Partido dos Trabalhadores (PT), e de notáveis economistas como Maria da Conceição Tavares.

 

Exigiu do time de economistas muita resiliência, inovação e planejamento. A execução ainda teve alguns percalços não planejados como a saída, em março de 1994, de Fernando Henrique Cardoso para se candidatar à presidência da República. Foi substituído pelo diplomata Rubens Ricupero, que precisou sair do Ministério da Fazenda, em setembro de 1994, após falar uma grande besteira durante uma entrevista à Rede Globo em rede nacional. Foi sucedido pelo então Governador do Ceará, Ciro Gomes que conduziu a execução até ser substituído por Pedro Malan.

 

O sucesso do Plano Real deve ser atribuído à genialidade dos economistas idealizadores, à democracia que foi plenamente testada para superar divergências no congresso nacional, à capacidade de Fernando Henrique Cardoso em recrutar, reter e liderar talentos, e à liderança política do Presidente Itamar Franco, que proporcionou autonomia e confiança à equipe econômica do seu Ministro da Fazenda.

 

Ouso dizer que a estruturação macroeconômica, inovação teórica, e pleno sucesso na implantação sem traumas sociais poderiam valer o Prêmio Nobel de Economia aos seus autores.

 

Tivesse o Plano Real sido concebido e implantado em algum dos países que fazem parte da OCDE, seguramente seus autores teriam ganho o prêmio. Considero que o grande legado do Plano Real foi estabelecer novos valores civilizatórios ao Brasil.

 

A sociedade entendeu e passou a exigir de seus líderes políticos estabilidade de preços, consolidação da democracia, compromisso com a estabilidade fiscal. E os políticos passaram a entender que inflação alta derruba sua popularidade e dificulta a implantação de outras agendas sociais e políticas.

 

Não adianta muita coisa investir em áreas nas quais o país continua carecendo de progressos se os preços sobem, corroem a renda, derrubam a qualidade de vida da população.

 

Em suma, estabilidade macroeconômica e inflação baixa tornaram-se valores perenes de toda a sociedade brasileira.

 

*Vivaldo Lopes é economista

 

 

 *Os artigos são de responsabilidade seus autores e não representam a opinião do Mídia Hoje.

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